Quando cheguei na sala de aula, dei graças por não ter nenhuma carteira sobrando do lado de Lucas que estava sentado no fundo da sala. Talvez seja infantil da minha parte deixar algo assim me afetar, interferir. Por Deus, eu não era mais uma criança. Qual foi Emma? Antigamente seus "amorzinhos" sumiam e você se apaixonava por qualquer outro garoto, ficar na bad não resolve nada. Talvez o melhor a se fazer seja agir normalmente, deixar esse "momento depressivo" de lado, não deixar uma garota qualquer estragar minha amizade com Lucas.
Entrei na sala e Lucas me seguiu com o olhar, deixando escapar um sorriso bem misterioso, não entendi, por isso continuei meu caminho até uma carteira qualquer. Tinham alguns desenhos na mesma, como a área íntima dos garotos e ao lado os dizeres "Sente aqui" e um mini-chat que eu, particularmente, não entendi nada. Me pergunto como as pessoas conseguem ser idiotas a esse ponto, ao ponto de destruir o que pouco nos resta, a educação. Somos nós quem pagamos nossa mensalidade, com impostos. Por que é tão difícil manter a organização e a limpeza que recebemos?
-Oi. - uma garota que se sentou na minha frente disse, se virando.
-Oi.
-Posso falar com você depois da aula?
-Não. - sua pupila dilatou, ela esperou um complemento. Como se eu não tivesse terminado. - Tenho compromisso. -falei por fim.
-Entendo. - seu olhar era desanimador. - Então pode ser no intervalo?
Hesitei por alguns segundos. Não a conhecia, nunca havia reparado na sua existência. Não é como se eu fizesse de propósito, mas quando se tem tudo o que precisa, ou precisava, no caso, Lucas, não seria necessário interação com outras pessoas. Sim, eu estava realmente errada.
- Ok.
Ela sorriu e se virou. A aula seguiu com o professor lendo alguns textos do livro de história e, quando esquecia o que ia falar, começava a falar sobre sua vida. O interessante é que os alunos ganhavam notas sem fazer absolutamente nada.
E aí o sinal tocou. Fomos dispensados. Enquanto a maioria dos alunos corriam felizes com suas vidinhas que se contentam com um sinal ou com uma simples mensagem de uma pessoa da quam sentem atração ou qualquer outra coisa insignificantemente parecida eu fazia cosplay de zumbi, com minha "super" animação.
-Purê de batata?
A mulher que trabalha na cantina da escola perguntou pra mim pela 3ª vez, e eu só escutei agora. Estava distraída olhando os pelos que saíam da verruga de seu queixo.
E aí eu processei o que ela tinha me dito. Só que foi tarde demais, já havia purê no meu prato e ela ja estava atentendo outro aluno.
Me sentei na mesa em que Carin e Vicky estavam, pelo menos estava limpa. Comparando as outras mesas, estava limpa.
Elas me deram um "Oi" tão animado e uníssono que eu suspeitei ter sido combinado.
- Oi.
Vicky estava realmente feliz. A uns dias atrás ela estava na maior tristeza por conta da viagem de intercâmbio e hoje estava feliz. Até demais, pra mim.
-O que houve? -perguntei percebendo sua animação.
Ela me estendeu um colar com um pingente em forma de coração com as letras C e V no centro.
- Carin me deu.
- Legal.
-E eu ganhei em troca uma tornozeleira. Isso aqui é pra você.
Uma gargantilha preta com um pingente quadrado de ouro branco. Foi o meu primeiro presente. Não sabia qual seria a reação correta, então guardei no bolso do meu vestido verde.
-Pra vocês não se esquecerem de mim.
- Não diga como se você nunca fosse voltar.
E elas se olharam. E eu senti inveja, por um mísero segundo senti falta de ter alguém para poder olhar como elas se olhavam. Para poder se abrir, para poder contar meus segredos.
Mas eu lembrei que o que as pessoas sabem fazer é apenas machucar umas as outras e caí na real.
- Olá.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Quem é você?
RandomEmma é uma garota que, como todo mundo, enfrenta problemas na vida. Quando menor, seus pais foram mortos por seu irmão Harlan. Ela teve que morar com sua tia Lucy desde os 6 anos da qual sofria abusos tanto físico quanto verbal. Apesar de tudo, ela...