No dia seguinte a loira peituda que trabalha na recepção do hospital do qual Lucy está me ligou falando que a cirurgia iria ser realizada e se eu iria comparecer. Disse que não, mas iria visita-la quando acabasse.
Logo Carin apareceu e fomos para a escola. A primeira aula era ciências, dei graças por ver Vicky sentada no fundo, caso contrário seria mais uma sozinha na sala que ninguém liga. Fui até ela e me sentei ao seu lado.
-Oi. - a cumprimentei.
-Oi, fez a lição?
-Esqueci...
-Eu te passaria, se o professor não estivesse na sala.
Ganhei mais uma ocorrência pra minha "coleção de papéis" que sempre ganhava, todos os anos. Impressionante como era inútil, nunca trazia assinado e mesmo assim continuava a aula normalmente, talvez eles esquecem das ocorrências dadas aos alunos. Ligar para os meus pais eles não podem, muito menos ligar pra algum responsável meu. Porém, dessa vez foi diferente. A diretora resolveu ser útil e comparou o número de ocorrências não correspondidas, resultado? Tive que ficar depois da aula. 30 minutos.
No final da aula do dia seguinte todos se levantaram e eu fiquei lá, encarando o professor. Parecia que ele era mais orgulhoso que eu, pois não desviava o olhar e mal piscava. Até que a sala ficou vazia, restando apenas nós.
-Por que você simplesmente não trouxe aquela ocorrência assinada? Pouparia nossos tempos. - ele quebrou o silêncio.
-Não é tão simples.
-A vida é simples, as pessoas que complicam tudo.
-Tanto faz.
-Pelo visto você é bem difícil de lidar.
-Não precisamos ficar conversando.
-Então você é do tipo de pessoa que não gosta de falar... Curso psicologia, comportamentos assim são resultados de como você viveu antigamente.
Olhei para o relógio, mais 26 minutos nessa droga.
-Bom, independente do que nós fizermos, vamos ter que cumprir o horário, portanto saiba que não sou eu quem está te prendendo aqui. - completou - podemos conversar e fazer o tempo passar mais rápido ou apenas esperar. Tenho várias provas para corrigir. E então?
Me afundei no meu cachecol vermelho e amarelo e coloquei os fones no máximo. Pink Floyd, Lucas quem me recomendou essa banda. Me trazia várias memórias boas.
O professor falou alguma coisa e voltou sua atenção aos papéis. Logo adormeci.
-Hei!
Senti alguns cutucões no meu braço e levantei o olhar. Era o professor.
- Você está liberada.
Guardei meus materiais rapidamente na bolsa e apressei o passo para sair daquele lugar. Eu estava atrasada para o trabalho. Ótimo Emma, se atrasar no primeiro dia. O ônibus demorou tanto que me pergunto se não seria mais rápido ir a pé. Cheguei lá, 10 minutos atrasada.
-Oh, resolveu aparecer senhorita Emma?
-Desculpe, tive uns problemas no colégio.
-Espero que não se repita. Trouxe o currículo?
-Sim.
O entreguei. Não tinha muitas coisas, afinal nunca trabalhei antes. Era mais cursos e cursos que a escola oferecia.
-Ok, você pode ficar ali no caixa. Depois acertamos os detalhes.
Fazer contas realmente não era minha praia, sorte que o local era pequeno. Poucos clientes= poucas contas.
Uma senhora de mais ou menos 70/75 anos entrou na loja e fez suas compras. Ela deveria ir sempre ali, pois sempre ia nos lugares certos para achar o que procura.
- Boa tarde. - a cumprimentei, enquanto passava as coisas para serem cobradas.
- Boa tarde. - ela respondeu docemente. - Você é nova aqui?
- Sim.
-Quem diria... uma garota jovem como você trabalhar em um lugar assim.
- Não deveria?
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Nenhum outro lugar quis me contratar.
- Qual sua idade?
- 15.
Ela ficou meio pensativa, como se estivesse longe.
- Senhora?
- Sim?
- A conta.
- Oh, claro. Me desculpe.
Ela pagou e foi embora, levando as sacolas com certa dificuldade.
Mais alguns clientes passaram, nem todos educados. Alguns com cara fechada, outros as vezes nem respondiam. Eduard disse que independente das circunstâncias, eu deveria cumprimenta-los e agradecer pela compra. Era o que eu fazia.
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Quem é você?
RandomEmma é uma garota que, como todo mundo, enfrenta problemas na vida. Quando menor, seus pais foram mortos por seu irmão Harlan. Ela teve que morar com sua tia Lucy desde os 6 anos da qual sofria abusos tanto físico quanto verbal. Apesar de tudo, ela...