Sim, isso me pegou de surpresa.
-Tá tão na cara assim?
É, percebi o quanto eu era inútil aí, incapaz de esconder um mísero sentimento. Talvez seria injusto chama-lo de mísero? ...
-Sim, está. E não, não sou só eu quem percebeu, mas eu te entendo, Lucas é gato. Sorte sua que ele é hétero e eu o considero como irmão.
Vicky e Lucas voltaram juntos e se sentaram na mesa.
Fitei meu suco sem coragem de levantar o olhar.
-Foo Fighters. Quero dançar. Emma? - Vicky disse com um olhar tão intimidador que até fiquei com medo.
-O quê? Não, nem pen- fui puxada pelo braço e antes de terminar a frase, já estava no meio da pista.
-Vicky, eu não sei dançar! - Gritei alto o suficiente para ela ouvir.
-Você nunca tentou! Nós estamos aqui pra comemorar, não ficar observando igual você fazia a anos. Apenas sinta a música e se solte. - gritou de volta.
E assim o fizera, sem me importar com as pessoas em volta.
Quando me dei por conta, Vicky me olhava sorrindo.
-Nem me lembro da última vez que te vi tão despreocupada. Realmente, Foo Fighters faz bem.
Rimos e voltamos pra mesa.
Passamos o tempo discutindo sobre religiões, drogas, tipos de canetas (sim, tipos de canetas), jogos, etc.
A essa altura, Vicky já estava bêbada o suficiente para começar a chorar e falar o quanto estava triste e ia sentir saudades de Carin. Tentei consola-la, mas foi inútil.
-Vou levar ela pra casa. Vocês vêm junto?- Tales se levantou apoiando o braço de Vicky atrás de seu pescoço. Ela sussurrou algo como "Não quero, quero o Brasil." E depois calou a boca.
-Não, preciso falar com a Emma.
-Ok, até mais então.
E ficamos a sós, ao som de Speak Up, The Morning Benders.
-É... vou ao banheiro. - disse depois de constrangedores segundos em silêncio.
-Ok, me encontra na praia quando voltar.
Assenti e me levantei. Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Meu Deus, eu estava um trapo. Refiz do rabo de cavalo ajeitando as mechas azuis, não ajudou muito. Olhei no meu celular, 3 chamadas perdidas de Lucy.
Saí do banheiro e fui até a praia, que ficava atrás do Ever Over, Lucas estava sentado na areia, olhando o mar. Me sentei ao seu lado.
-Estava lembrando de quando passávamos a tarde inteira aqui, fazendo absolutamente nada. Apenas olhando as nuvens. -ele disse, sem desviar o olhar do mar que refletia a luz da Lua.
-Lembra de quando tinha um cachorrinho se afogando e eu não sabia o que fazer até que você teve a idéia de jogar a bóia de um garotinho pra salvar ele?
-Sim, quando ele percebeu que eu havia pego sua bóia, chorou como nunca. -rimos - E quando nós estávamos brincando de pega-pega e você caiu? É, naquele dia você chorou mais que o garotinho.
-Hey, aquilo machucou. - o empurrei de leve.
Seu olhar se encontrou com o meu. Ficamos nos olhando por alguns segundos que pareceram minutos, horas...
A 9 anos atrás, neste mesmo lugar. Eu e Lucas.
-Quer casar comigo? - ele perguntou.
-Por que você quer casar comigo?
-Pra poder te beijar a hora que eu quiser.Desviei o olhar para o horizonte, sentindo o sangue subir as minhas bochechas. Lucas deu um leve sorriso e voltou seu olhar para o mar. Algo me dizia que ele também havia lembrado.
-O que você queria falar comigo?-perguntei.
Depois de um tempo, ele respondeu.
-O que você acha de mim?
-Como assim? Bom, eu acho... você legal.
-Só?
-Inteligente, engraçado... mas por quê?
-Você é a pessoa mais próxima a mim, então acho que não tem problema te contar. É que... eu gosto de uma garota, da nossa escola.Faz tempo, o problema é que ela nunca me deu bola.
Sim, foi um choque de realidade. É claro que ele não sentia nada por mim. Aos 8 anos era apenas um sentimento bobo, amor de amizade que não sabíamos diferenciar. Não entendi muito bem a parte do "ela nunca me deu bola", sendo que a maioria das garotas sentiam no mínimo, atração por ele e sediam fácilmente aos seus caprichos.
Senti um nó na garganta e fiz o possível pra disfarçar a alteração na voz.
-Oh... é, que bom. Quem é ela? - é claro que eu não queria saber quem era ela. Por que eu perguntei, então? Não faço a menor idéia... impulso, talvez.
-É... - meu celular tocou, o interrompendo, agradeci mentalmente.
-É minha tia. Tenho que ir. -disse me levantando.
-Eu te levo.
-Não. Quero dizer, não precisa. Tchau.
Sai andando, sem dar tempo de ele responder. Sem me importar com as lágrimas molhando meu rosto que até então, segurava. Sem me importar com a dor e o aperto no meu coração. Sem se importar com as businas, cada vez que atravessava a rua sem olhar para os lados.
Naquele momento, eu não era ninguém. Eu não queria ser ninguém.
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Quem é você?
RandomEmma é uma garota que, como todo mundo, enfrenta problemas na vida. Quando menor, seus pais foram mortos por seu irmão Harlan. Ela teve que morar com sua tia Lucy desde os 6 anos da qual sofria abusos tanto físico quanto verbal. Apesar de tudo, ela...