Capítulo 13

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  -Acho que você chegou um pouco cedo. - Eduard dizia enquanto passava os biscoitos da caixa de papelão para a estante pouco empoeirada.
A loja estava vazia, tinha apenas a velha senhora de sempre vagando pelos corredores.
  - Qual seu nome?
  Ela perguntou enquanto colocava as compras no caixa.
  - Emma.
  - Emma? - ela perguntou com entonação de "O que mais? "
  - Coben.
  - Tenho algo pra- e ela mesma se interrompeu colocando a mão na boca, com a expressão de que iria falar algo terrivelmente proibido.
  - Bom, até mais. - ela disse pegando suas compras e saindo da loja.
  - Eduard. - o chamei, assim que lembrei seu nome.
  - Sim?
  - Quem é essa senhora?
  - O nome dela é Linea. nossa cliente a anos. Mora aqui perto, tem um filho adotado porque não pode gerar e seu marido morreu quando a "criança" completou 16 anos. 
  - Obrigada.
  Ele concordou com a cabeça e continuou seu trabalho.
  Atendi mais algumas pessoas que entraram logo depois.
  Eduard perguntou se eu não gostaria de sair para tomar um ar, talvez minha expressão não estava uma das melhores. Disse que voltaria em um minuto, ele concordou.
  Na minha mente, pensamentos tomavam conta de mim. Deve ser por isso que esbarrei em alguém, totalmente distraída.
  - Desculpa. - dissemos em uníssono, quase que combinado.
  Ao levantar a cabeça, o reconheci. Era o garoto que encontrara hoje mais cedo.
  - Tá tudo bem? - ele me perguntou usando o mesmo sorriso que usou quando conversamos pela primeira vez.
  - Sim. Perguntando isso de novo?
  - Mentindo de novo?
  - Não estou mentindo.
  - Está.
  Senti a presença de alguém me observando, porém ao olhar em volta não havia nada a além de pessoas andando, rumo aos seus trabalhos.
  - Tenho que ir.
  - Espera, que está fazendo por aqui?
  - Eu trabalho aqui.
  - E onde você está indo?
  - Não sei.
  - Como?
  - Pra qualquer lugar.
  - Tô indo encontrar um amigo em um café aqui perto, quer ir junto?
  - Pode ser.
  Pensei em recusar, porém me distrair seria muito melhor do que me encher de ideias e pensamentos negativos.
  O lugar era um pouco longe dali. Mais espaçoso do que parecia por fora, uma decoração preta, branca e amarela tomava conta do lugar. Até nos pequenos detalhes, desde as flores do enfeito da mesa até os pequenos bolos servidos.
  Ao entrarmos, um garoto que eu já havia visto na escola acenou. Fomos até ele e nos sentamos na mesa.
  - Eai. - Alan o cumprimentou e me apresentou.
  - Sou Heitor, muito prazer. - e me estendeu a mão. - Você é da escola, né? Sempre te vejo.
  Concordei com a cabeça.
  - E então, você trouxe as imagens? - Alan perguntou, desviando seus olhos de mim e os fixando em Heitor.
  - Trouxe. Mas você acha que realmente vale a pena, cara?
  - Ele é meu irmão, não posso deixar uma coisa dessas passar em branco.
  - Sei lá...
  Uma garçonete apareceu interrompendo o assunto dos dois perguntando o que iríamos escolher. Pedi um cappuccino forte, Alan pediu um suco de laranja e rosquinhas. Não reparei no pedido de Heitor, estava focada demais no cabelo platinado com californianas azuis da garçonete. Gostaria de deixar o meu igual, pensei. Minhas mechas azuis estavam desbotadas.
  - Te procurei no ginásio e não achei.
  Alan disse me despertando, assim que a garçonete foi embora.
  - Fui embora mais cedo.
  - Por quê?
  - Não estava afim de ficar lá.
  - Por quê?
  -Sei lá.
  Ele me encarou por um tempo, novamente. Dessa vez tentei não desviar o olhar, mas não deu certo. Antes de me dar por conta, já estava encarando minhas mãos em baixo da mesa.
  - Uhh... Quando você vai fazer?
  - Quanto antes. Eu faria hoje mesmo, mas ele vai sair com ela, então nem vai ir pra casa. Talvez amanhã eu consigo provar que ela ta traindo ele.
  - Saquei. Se quiser ajuda, tamo ae.
  - Valeu.
  Nossos pedidos chegaram.
  Pelo que eu entendi, a namorada do irmão de Alan está traindo ele e, pra provar, Heitor tirou algumas fotos dela com o tal "amante", Alan explicou que nunca gostou dela e saber disso apenas acentuou mais ainda seu desgosto.
  Enquanto explicava, reparei pela primeira vez nele. Seu cabelo era castanho e enroladinho, nem muito grande nem muito curto, sua pele era branca. A touca cinza lhe caía muito bem, junto com o cachecol xadrez. Ele era mais ou menos da mesma altura que Lucas. Talvez pouco mais alto.
  Por reflexo, olhei para o relógio amarelo que estava pendurado na parede e me assustei com o horário. Me levantei em um pulo da mesa e arrumei minhas coisas apressadamente.
  - Já está indo? Não terminou seu café. - Alan disse.
  - Estou atrasada.
  - Vai voltar para o seu trabalho?
  - Sim.
  - Eu vou junto, então.
  - Por quê?
  - Moro lá perto.
  - Até mais, Heitor. - Eu disse colocando o dinheiro sobre a mesa.
  - Até. - ele acenou.
  Alan se despediu e nós saímos de la correndo, literalmente correndo.
As pessoas que sempre pareciam apressadas agora pareciam lentas de mais.
Ventava forte, o que fez a touca de Alan voar no meu rosto. Seu cheiro era bom. Não soube discernir, era algo de café. Talvez vinho.
  -Parece que chegamos.
  Alan disse assim que paramos de correr. Recuperei o fôlego. Minha asma resolveu entrar em ação. Ótimo.
  - Você está bem?
  Me apoei nos meus joelhos e tentei puxar ao máximo oxigênio.
  - Sim. Até mais.
  - Tem certeza?
  Concordei com a cabeça.
  - Que horas você sai?
  - Ás 20:00.
  - Ok. Até mais.
  Entrei no estabelecimento com remorso. Perdi as contas de quantas vezes pedi desculpas por atrasos a Eduard.
  Ele estava no caixa, onde eu deveria estar.
  - Quer que eu assuma agora?
  - Não, apenas tire o pó das estantes e reponha os refrigerantes. Depois só faça hora, vou ter que sair mais cedo. Você fecha pra mim?
  - Claro.

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