Capítulo 6

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     Parei em frente a minha casa. Estava estranho,  o ar estava pesado.  Todas as luzes apagadas.  Uma sensação ruim, pior do que a que eu já sentia, começou a me corroer por dentro. Talvez deveria ser coisa da minha cabeça,  pensei comigo.

     Abri o portão e entrei em casa,  indo até o meu quarto tropecei em algo mole.  Corri até o interruptor e liguei a luz.

     Lucy estava caida no chão, desacordada, com um celular na mão,  provavelmente o que me ligara minutos atrás.  Uma poça de sangue rodeava sua cabeça.

     Foi culpa minha,  claro que foi. Se eu não tivesse saído,  muito menos escondida, aquilo não teria acontecido.

     Medo, era o que eu sentia. E se ela estivesse morta? O que eu iria fazer? Não que eu tivesse vínculos com ela,  mas Lucy era a única pessoa que restara da minha família.

     Liguei para o hospital e dei o endereço para mandarem uma ambulância.  Fui até o quarto de Lucy e revirei seu guarda roupa, em busca de seus documentos.

     Achei uma caixa, peguei os documentos principais e os joguei na minha bolsa,  junto com os meus.
   A abracei. Eu não queria que ela morresse. E o pior de tudo, aquilo foi minha culpa. Eu não deveria ter saído de casa.

     Depois de exatamente 15 minutos,  a ambulância chegou.

     Peguei um taxi, pois falaram que o estado de Lucy era grave de mais e não era recomendado eu ir junto e acompanhar o processo de primeiros socorros.

     Entreguei os documentos na recepção do hospital e esperei tentando levar para longe as más memórias assistindo um programa qualquer da madrugada na sala de espera. Todos ao redor estavam com a mesma expressão de desânimo. Todas aquelas pessoas levavam mágoas no olhar, por 1 segundo senti que eu não era a única e, por mais estranho que isso possa soar, eu me senti bem.

     10 minutos se passaram, 20, 30, 40, 50... uma hora depois o médico apareceu. Me levantei e fui até ele.

     -Srta. Emma?

     -Sim?

     -Bom, pelo que tudo indica, sua tia Lucy sofreu uma deformação na parte inferior da nuca. Pode ter sido causada por uma pancada, pode ter tropeçado e ter batido a cabeça. Enfim,  vai ser necessária uma cirurgia,  não por questão de estética mas sim para evitar futuras complicações. - assenti- Como é uma cirurgia, o plano não cobre. Mas isso você resolve na recepção. -completou.
     -E como ela está?
     -Desacordada, mas fora de perigo. Ela vai ficar internada por 3 dias. Caso a cirurgia for realizada, a internação será estendida por mais 2 meses para total recuperação. Mas isso não significa que ela não vá precisar de cuidados.

     -Cuidados?

     -Sim, medicamentos diários. A receita você pega na recepção.

     -Posso ver ela?

     -Pode, só não é permitido entrar na sala. Me acompanhe.

     O segui pelos corredores, até que chegamos a sala em que Lucy estava.

     Olhei pelo vidro, ela estava com vários aparelhos no rosto e agulhas nos braços.

     Sua expressão era calma. Foi estranho ver ela assim. Desde os 6 anos, sempre a vi brava, de cara fechada, a impressão que eu tinha sobre ela era que nada fora o suficiente.  Nada nem ninguém. Posso contar nos dedos as vezes que a vi sorrir e agora ela estava tranquila, pela primeira vez.

     Eu não podia deixar ela morrer,  caso contrário eu seria igual ou pior do que ela.

     Fui até a recepção e confirmei a cirurgia e peguei a receita. Como eu iria pagar? Eu iria dar um jeito. 
     Cheguei em casa. Seria estranho passar os próximos dias com a casa vazia.

     Esfreguei o sangue que a essa altura já estava seco, tomei um banho e fui dormir.

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