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Na realidade, tudo começou a dar errado na vida de Harry Styles no domingo, ele apenas não sabia disso. Acontece que na terça, Keith Tomlinson, o porteiro que fazia compras para o garoto todas às quintas, escorregou da escada, trincando a bacia no processo. Felizmente não sofreu outras complicações por causa da queda, e, por conta da idade, ele iria precisar ficar em casa de agora em diante, imobilizado e esperando melhorar.

Keith sabia que não precisava mais trabalhar, era aposentado a alguns anos, mas gostava de ter atividades. Como morava no prédio, foi fácil se tornar porteiro do lugar, e realmente gostava de cuidar dos moradores de lá. Era sempre ele que chamavam quando precisavam de ajuda com algo, então foi uma grande comoção quando o senhor tão querido por todos se machucou. Seu neto iria vir ficar com ele no processo de melhoria para cuidar dele, mesmo ossos quebrados não sendo a área da medicina que ele atuava.

Louis Tomlinson chegou no apartamento do avô na terça-feira, carregando duas malas apenas. Assim que chegou no corredor em que seu avô morava, pode sentir um cheiro sutil de erva doce, que trazia um ar de tranquilidade para aquele lugar. Entrou no apartamento do seu avô, encontrando sua mãe lá, conversando com Keith.

Keith tinha uma expressão preocupada e Jay tentava tranquilizar o pai, o que logo preocupou o neto.

- Oi. Aconteceu algo? - Louis se aproximou dos dois, dando um beijo na testa de cada um deles.

Keith suspirou, olhando para o neto que se acomodava em uma poltrona perto da cama onde ele estava.

- Tem um garoto, Harry, que não sai de casa. Eu o ajudo com as compras. Todas as quintas, às 15hs em ponto eu levo até a porta do apartamento dele as compras da semana. É um acordo não formal que temos há três anos. Ele sempre entrega mais dinheiro para pagar por isso, mesmo eu tendo insistido das primeiras vezes que não precisava. É um bom garoto, apesar de só conseguir conversar comigo por bilhetes. - Louis ouvia com atenção, sua mente trabalhando automaticamente sobre os possíveis motivos do isolamento dele. Depressão? Não é bom alguém deprimido ficar trancado, pode piorar o caso. - Estou preocupado em como ele vai se alimentar agora sendo que sequer posso sair da cama e ele não consegue sair daquele apartamento.

- Não tem algum familiar que possa ajudar? - Perguntou Jay, que se sentia sensibilizada pelo garoto.

- Em três anos Harry não recebeu nenhuma visita no apartamento e saiu poucas vezes para buscar encomendas que raramente chegam. As únicas correspondências são as contas e um envelope todos os dias com terminação oito do mês. Dia 8, 18 e 28. Apenas. Não sei quase nada sobre ele, só que ele não gosta de ver gente.

Houve um pequeno silêncio no lugar, era difícil acreditar que alguém morava a tanto tempo em um lugar sem nunca ser visto ou sair de casa. E a família dele?

- Bom vovô, - falou Louis depois de um tempo - eu posso fazer as compras pelo senhor. Não vai ter muita coisa para fazer por aqui agora que eu tirei minha licença. Aproveito e faço as compras daqui de casa.

E foi isso, às 14h de quinta-feira Louis se dirigiu até o apartamento número 28, para ajudar Harry com as compras. Tinha um bilhete colado na porta com um post-it amarelo, além de um envelopinho branco onde tinha o dinheiro das compras. Louis pegou o bilhete, lendo o que dizia nele.

"Bom dia, Sr. Keith! Espero que sua semana tenha sido satisfatória.

Estou percebendo que o preço dos vegetais está aumentando e sinto que isso está sugando parte do seu dinheiro no final do dia. Adicionei mais uma quantia para que não haja problemas futuros.

Poderia comprar um desinfetante da marca Veja e um álcool fator 70 para mim? Os meus estão acabando. Obrigado!"

Logo em seguida tinha toda a listinha de compras.

Louis não conseguiu deixar de sorrir com aquilo, eram apenas coisas saudáveis. Vegetais orgânicos e ingredientes com especificações de marca e quantidade. Era minucioso.

E logo as compras foram feitas, com a adição de um doce que Louis gostava muito. Queria dar para o vizinho como gentileza, afinal ele moraria ali por um tempo.

No apartamento, Harry estava esperando calmamente pelas compras tomando seu chá enquanto trabalhava em uma tradução. O cheiro de erva doce viajava pelo cômodo calmamente, White deitado confortável no colo do dono. Isso até a porta bater algumas vezes. Algumas vezes. Não três como Keith sempre fazia. O que foi estranho e incomodou Harry, mas deixou quieto e continuou a trabalhar, decidido a terminar de traduzir esse parágrafo antes de pegar suas compras. Isso até terem mais batidas na porta, seguidas de uma voz calma e rouca.

- Harry?

Harry travou.

Não esperava ouvir seu nome de uma voz completamente desconhecida. Conhecia a voz de Keith de cor pela quantidade de vezes que ele conversava com a vizinha Cordelia no corredor. Também não era a voz de alguém da família. Ele não tinha amigos, então não poderia ser isso.

Um desconhecido! O que um desconhecido poderia querer com ele?

Automaticamente sua respiração ficou mais rápida, e ele se levantou de onde estava, se aproximando minimamente da porta. Seu gato miou descontente quando teve que sair do colo confortável de seu dono.

- Harry? Olha, eu sei que você não me conhece, mas eu não quero fazer nenhum mal. - O desconhecido falou novamente, e o garoto se aproximou minimamente da porta novamente. - Eu sou Louis Tomlinson, neto do Keith. Eu sei que ele faz suas compras nas quintas, mas ele sofreu um acidente e está imobilizado, então não vai poder fazer isso para você por um tempo, está bem? - Automaticamente os olhos de Harry cresceram, as mãos tremendo levemente. - Por causa disso, ele me pediu para fazer suas compras, e eu fiz. Vou deixar aqui na porta, okay? Eu te comprei um chocolate também, sua lista é tão saudável que me senti na obrigação disso.

Harry não respondeu, ele simplesmente não conseguia. Sua respiração estava descompassada, ele estava nervoso. E sua rotina? Ele tinha comprado alguma outra coisa? Onde ele encaixaria um chocolate na sua semana? E era muito doce, um excesso de glicose para sua dieta alimentar. Muito açúcar.

- Bem, eu vou deixar as compras aqui. Até quinta.

Harry correu até a porta e colocou a cabeça nela, ouvindo os passos do desconhecido pelo corredor e então uma porta ser fechada. Com pressa, abriu a porta de seu apartamento e pegou as sacolas, jogando-as de qualquer jeito na sua pia e buscando desesperadamente pelo chocolate nas sacolas.

E ele estava lá, destruindo toda sua preciosa rotina criada a anos. A falta de ar foi imediata, e ele caiu no chão. Suas mãos foram para o seu rosto, caindo no choro.

O que ele faria agora que sua frágil rotina tinha sido destruída?

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