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Os Tomlinson's eram ótimos de papo.

Isso foi uma percepção automática que o cacheado teve ao conviver um pouco mais com eles. 

Não havia um momento de silêncio que não era preenchido por conversas, piadas, sarcasmos e risadas. Harry nem mesmo precisava se esforçar para socializar, ou ficar buscando assuntos em sua cabeça, também não havia nenhum silêncio desconfortável que o fazia querer arrancar seus olhos. Era tudo- natural.

Keith era um velhinho ativo, e quando Harry chegou ao apartamento do velhinho, o viu bem ativo com uma cadeira de rodas, todos os móveis que poderiam atrapalhar foram movidos de lugar e ele parecia ter uma habilidade incrível em seu veículo de duas rodas - assim como com sua bengala, que mesmo sem precisar usá-la, vivia atingindo seu alvo fixo (Louis). 

A cada bengalada era uma risada alta de Louis. Este, por sua vez, não deixava que houvesse qualquer silêncio. Harry nunca conheceu alguém tão bom em monólogos, que muitas vezes eram interrompidos por Carmelita - a querida bengala do Sr. Tomlinson. 

O ambiente era tão confortável de se estar que Harry quase não se sentia desconfortável. Ele sabia que ia ficar enrolado debaixo das cobertas por horas a fio para recarregar suas energias, e que não faria mais nada do trabalho até o final daquela semana (estamos em uma quarta-feira). 

Mas ele estava tranquilo por isso, já que seu trabalho estava sempre adiantado. Estava semanas adiantado em seus manuscritos, então podia se dar ao luxo de ficar na cama. 

Em momento algum, também, o cacheado se sentiu mal com alguma atitude deles. Isso porque - e essa é a primeira vez em sua vida - que em momento algum seu espaço pessoal foi minimamente invadido. Todas as conversas foram extremamente respeitosas com ele, e tudo foi conversado em um tom de voz tão baixo e ameno [acolhedor] que Harry chegava a estar cantarolando baixo enquanto Louis levava Keith para a cama - tinha demorado um bom tempo para cozinhar e conversar, agora já sendo tarde. 

Neste momento, Harry estava separando em pequenas marmitas - que Louis tinha comprado - todos os alimentos que ele tinha feito. O cacheado fez alguns alimentos bem nutritivos [e muito cheirosos] - e agora separou as seis panelas em linha reta na mesa, em frente com os vários potinhos de plástico.  

Eles já haviam jantado à essa hora - apesar de ter sido cedo, mas foi uma concordância unânime de que todos gostariam de estar em suas respectivas camas cedo. Apenas para finalizar o dia de ajuda (e também porque não suportaria a ideia de eles não organizarem as melhores combinações para uma refeição em suas porções exatas). 

Havia grão de bico, carne de panela, frango grelhado, alguns aspargos com tomates grelhados na manteiga, brócolis e couve-flor cozidos, arroz integral e feijão. Ele foi separando as porções, tão concentrado que nem percebeu o médico atrás de si, observando seus movimentos. 

Não demorou muito para Harry raspar todas as panelas, as colocando na lava-louças em seguida, só então virando-se de costas e vendo Louis, que estava ajudando a tampar todos os potinhos. 

- Não sei nem como agradecer por fazer isso por nós. - Ele comenta baixinho, um sorriso em sua voz enquanto tampa com cuidado o terceiro potinho. - Além do mais, sua comida é deliciosa. Eu geralmente me alimento com industrializados que podem ser feitos em 5 minutos no micro-ondas. 

Harry sorri, tímido por fazer anos que ninguém comia sua comida. Geralmente não recebia elogios sobre suas extensas habilidades culinárias. Era bom ouvir elogios. 

- T-tive muito tempo para aperfeiçoar minhas habilidades. - Responde com sua voz suave, o que surpreende um pouco o médico.

Ele tentou, mas seu olhar treinado não conseguiu deixar de reparar em Harry durante o dia. O garoto era adorável. Estava com uma roupa diferente da que ele viu da última vez - aquele conjunto de seda cinza que o deixava maravilhoso. Mesmo assim, estava vestido confortavelmente em um grande suéter e calça de moletom, e seu cabelo estava firmemente amarrado em um rabo de cavalo.

Durante a tarde, ele usou luvas o tempo inteiro para mexer com a comida. Lavou três vezes o mesmo vegetal de cada vez, assim como as panelas que iria usar. Algumas manias menos perceptivas Louis também conseguiu reparar, como que a medida de pimenta moída para todos os pratos eram de exatas três giradas no moedor. 

Harry também não tinha falado muito. Somente para perguntar os gostos de Keith, se ele tinha alergia a algo, se não gostava de pimenta. No mais, ficou em silêncio concentrado em sua tarefa, executando-a com perfeição e rapidez. Louis ficará impressionado com a agilidade do cacheado, que conseguiu cozinhar tudo aquilo (mesmo com as manias) em tão pouco tempo.

Não conseguiu deixar de pensar que Harry provavelmente fazia tudo sempre com pressa e antecipação, para que sua rotina de manias não precise ser afetada por conta disso. E mesmo cozinhando tudo aquilo, nem mesmo a louça ele deixou para trás.

Harry deve viver uma vida bem regrada.

- Espero comer mais da sua comida. - Respondeu o médico baixinho, fazendo o cacheado corar e concordar com a cabeça.

- E você vai. Ainda falta bastante tempo para seu avô se recuperar. 

- E aí acabou? Pensei que viramos amigos! Compartilhamos um código juntos.

Harry riu baixinho com o tom brincalhão de Louis, o peito pesando um pouco ao pensar em um relacionamento próximo com alguém.

- Quem sabe eu não te mande uma mensagem. - Respondeu brincando, fazendo Louis responder com um sorriso.

 Após separar os mais de 20 potinhos e guardá-los no grande congelador do Sr. Tomlinson, Harry jogou por fim as luvas fora e soltou seu cabelo, massageando levemente o couro cabeludo para os cachos voltarem um pouco para o lugar e relaxar a pele que tinha ficado pressionada.

Louis sorriu para os cachos desgrenhados, e ajudou Harry a arrumar suas coisas para ir embora. 

- Então eu te vejo outro dia cachinhos. - Louis deu um sorriso charmoso, apoiado no batente da porta, observando-o ajeitar sua bolsa em seu ombro. - Estarei esperando sua mensagem. 


Na volta pra casa, após um banho muito longo e vestir seu pijama mais confortável, Harry enrolou-se com seu gato nas cobertas frescas após uma longa busca atrás de seu celular. Com o número de Louis anotado em suas mãos, salvou o contato do médico. E antes de desligar o celular morrendo de vergonha, ele mandou um: "Oi, aqui é o Harry".

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