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Harry teve apenas quatro ataques de pânico nesses três anos em que está trancado no seu cômodo. Para ele, essa foi a maior vitória do seu isolamento, pois quando era um utilizador das relações sociais ele tinha um por semana.

Ele se lembra especificamente de uma crise de pânico quando um antigo colega de escola o obrigou a ir em uma festa de adolescentes. Tinha muita gente, todos tão bêbados que mal conseguiam ficar em pé. Harry ficou a festa inteira no lado de fora da casa, até uma garota de uma série mais avançada ir flertar com ele.

Quando ela tentou beijá-lo, Harry apenas correu até se perder e se enfiou em um beco de alguma rua aleatória, chorando compulsivamente até o outro dia.

Agora, morando sozinho e não saindo de casa, seus problemas quase foram completamente resolvidos, e os únicos motivos de crise eram as ocasionais quebras de rotinas.

No sexto mês morando sozinho, Harry teve uma crise. Uma grande crise após assistir a um filme de romance onde os protagonistas criavam uma família. Ele chorou muito por ter medo da convivência social e de ter a certeza que nunca encontraria alguém, e no meio da noite ele saiu do apartamento, correndo pelas ruas de Londres. Não tinha dinheiro nem celular, e acabou em outro beco como quando tinha 15 anos. A diferença, no entanto, era o pequeno e machucado gato que estava lá. Naquela noite Harry ganhou seu filho, e levou seu filhote para casa embolado em seu casaco branco.

Limpou o gatinho e foi até a porta de seu vizinho Keith, o homem gentil que sempre o ajudava quando precisava. Harry ainda não gostava de convívio social, mas Keith era fácil de se lidar. Um homem gentil. Ele pedirá ajuda ao velhinho para que levasse o gatinho ao veterinário, pois não conseguiria fazer isso. Óbvio que Keith aceitou, e no outro dia logo cedo levou o gatinho para consultar e receber todas as medicações.

Keith era quem levava todo ano o gatinho para um check-up e ver se estava tudo certo.

Mas naquela quinta-feira em específico as coisas foram um pouco mais assustadoras para Harry.

Primeiro, o medo. Pessoas desconhecidas conversando contigo depois de três anos era muito assustador, seu corpo inteiro tremia de medo.

Segundo, o senhor Keith. Ele estava bem? Estava muito machucado? Quanto tempo ele ficaria longe? Ele iria se recuperar?

Terceiro, por quê aquela voz o intrigou tanto? Ele faria as compras toda semana e sempre compraria um chocolate?

Harry estava confuso, cansado e com os olhos ardendo por causa do choro.

Naquela quinta, ele não voltou ao trabalho.

Separou todas as compras e desinfetou, depois guardou tudo em seus devidos lugares. Colocou a banheira para encher com muitos óleos relaxantes, lavando o rosto e colocando uma máscara de hidratação nele. Acendeu seu incenso de cravo e quando a banheira estava cheia, ele entrou nela e relaxou seus músculos, aproveitando o silêncio e sua pele relaxando com a máscara. Ficou na banheira até a água começar a esfriar e seus dedos enrugados começassem a incomodar.

Assim que saiu do banheiro, confortavelmente enrolado em um roupão branco, ouviu o som de chamada no Skype e logo percebeu que já era o horário de ligação com sua irmã.

O dia estava tão confuso que até mesmo perdera o pôr do sol.

Pegando sua única taça de vinho e uma garrafa já aberta da geladeira, atendeu a chamada de sua irmã.

- Oi Gems. - Saudou baixinho, sua voz rouca pela falta de uso.

- Hey bebê. Aconteceu alguma coisa?

E Harry desabafou. Abriu seu coração para sua melhor amiga. Contou sobre todas as questões não resolvidas, chorou, abraçou White e bebeu a garrafa inteira de vinho. Sua irmã ouviu, fez perguntas e aconselhou. Duas horas e cinco taças de vinho depois Harry desligou a ligação com sua irmã, levemente bêbado e com seu cabelo já seco.

A ligação fez com que ele concluísse duas coisas que o deixariam ansioso a semana inteira.

Primeiro: ele precisava saber como Keith estava. Precisava vê-lo.

Segundo: para isso ele precisaria falar com Louis Tomlinson.

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