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O universo inteiro estava conspirando contra Harry. Essa foi a conclusão que ele teve após a lâmpada da sua cozinha queimar e perceber que todas as suas lâmpadas reservas tinham acabado. Ele precisaria esperar até quinta para ter outra lâmpada, então espalhou velas aromáticas pelo quarto, e isso tirava sua concentração pois o cheiro delas era de lavanda, e não de erva doce. Isso subiu muito o nível de estresse do garoto, que tentava trabalhar e não conseguia.

Quebra de rotina era algo que ele não suportava. O deixava estressado e com vontade de se esconder debaixo das cobertas.

Naquele dia, sentado na sacada enrolada em seu edredom, relendo O Retrato de Dorian Grey, decidiu que iria abrir o chocolate dado por Louis. Fazia algum tempo que ele não comia chocolate. Não era exatamente um fã de doces industrializados e geralmente prefere frutas ou receitas caseiras, mas se deliciou com o doce enquanto lia, esquecendo um pouco do estresse.

A quem ele queria enganar na realidade?

O estresse era porque o dia seguinte seria quinta-feira, dia em que ele falaria com Louis. Estava nervoso, ansioso e com medo.

Estava preocupado com Keith também. O velhinho gentil que sempre o ajudou quando precisou. Ele até mesmo levava as correspondências para que Harry não precisasse ir até as caixas de correio do prédio.

E Louis? Como ele seria?

Não gostava da ideia de ver uma pessoa, definitivamente não gostava. Mas estava curioso.

A ideia equivocada que sociofobicos odeiam as pessoas e que não gostam de vê-las é bem diferente da realidade. Harry apenas... Se sentia mais confortável daquele jeito. Não acarretavam crises. Havia a solidão, mas Harry estava acostumado com ela. Era melhor que o medo.

Mas ainda machucava ser tão sozinho.

Harry conseguiu ouvir os passos se aproximando da porta. Ele estava andando há 30 minutos de um lado para o outro no apartamento, roendo suas unhas bem cuidadas, se olhando no espelho do banheiro várias vezes.

O suéter branco comprido e bem confortável, a pele extremamente branca por não pegar sol, as olheiras pela noite mal dormida devido a ansiedade, o cabelo longo cheio de cachos e um pouco indomável.

Ele nunca desgostou de sua imagem pessoal. Na realidade, sempre foi profundamente vaidoso e gosta de cuidados pessoais adicionais em sua rotina. Mas hoje em específico estava com medo de não ser o suficiente.

Os passos que ouviu se afastaram novamente da porta, sinalizando que Louis supostamente estaria indo até o mercado. O que deixou Harry ainda mais ansioso.

Suas mãos começaram a tremer consideravelmente, e ele se serviu de uma taça de vinho, bebendo toda ela de uma vez só. Acendeu um incenso e pegou White no colo, sentando em um dos banquinhos virado para a porta, acariciando o gato buscando se acalmar.

Ele deve me achar um maluco! Quem fica trancado em casa sem sair a tanto tempo ao ponto de precisar de alguém fazendo compras por ele? Qual era seu problema afinal?

Harry sequer percebeu o tempo passando rápido enquanto remoía suas inseguranças, agarrado a White como se sua vida dependesse daquilo. Por isso, quando houveram as batidas na porta, ele deu um salto de susto, assustando o gato que pulou do seu colo. E correu para abrir a porta.

Louis não esperava por aquilo. Já ia virar as costas quando ouviu os passos dentro do apartamento e a porta sendo destrancada. Ele provavelmente também não esperava um garoto alto abrindo a porta e pedindo para ele esperar, e muito menos um gato preto extremamente gordo esfregando-se em suas pernas.

Ele definitivamente não esperava ver Harry Styles abrindo aquela porta, o olhando constrangido. Nem que ele era tão bonito.

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