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Harry odiava as crises. 

Ele aprendeu a lidar com elas. As crises de choro aleatórias, a falta de ar, o enjoo. Mas aprender a lidar não quer dizer que passar por elas seja tranquilo.

O garoto até tenta fazer sua comida, mas vomita tudo que coloca no estômago. Também não consegue parar de chorar,  e acaba marcando a ligação com sua irmã para outro dia, querendo agora só deitar e ficar quietinho.

Não era difícil conviver com os Tomlinson, mas ele não conseguia evitar os pensamentos invasores horríveis que o consumiam quando parava para pensar o quanto interagiu hoje, e o quão ruim é não conseguir fazer essas coisas naturalmente. 

Ele também chorou por sua rotina destruída, e ficou um bom tempo fazendo anotações em seus planners calculando formas de organizar seus horários. Por fim ele acabou pegando o pote de sorvete que Louis tinha comprado, maratonando os filmes do Kung Fu Panda enquanto se debulhava em lágrimas com seu pote de sorvete até se sentir melhor.

Por fim, foi o que aconteceu. 

Harry sempre considerou que chorar limpa a alma. Portanto, quando ele acordou no outro dia, ele se sentia melhor, e conseguiu organizar seus horários para encaixar suas idas até o apartamento de Keith, além de criar uma lista de alimentos que precisaria para cozinhar para o velhinho. 

Ele tomou um longo banho, tão quente que sua pele ficou vermelhinha e brilhante, e ele passou um tempo significativo esfoliando cada parte de sua pele. Depois, passou seu creme por todo o corpo, nutriu os cachos molhados e vestiu-se com o melhor conjunto cinza escuro de seda que tinha. Era lindo, tinha alguns detalhes bordados pela gola e pela manga, e era tão confortável que Harry sentia que podia ronronar. Tinha acordado consideravelmente mais vaidoso aquele dia, então acabou fazendo a sobrancelha e passando um gloss alaranjado. 

Harry se sentia lindo. 

Quando estava tão relaxado que sentia que iria desmaiar caso se encostasse em algum lugar, ele organizou um cardápio de melhoras para o sr. Tomlinson. Ele já estava se preparando para sair quando alguém bateu na porta. Harry sentiu seu corpo inteiro arrepiar, e foi se aproximando da porta lentamente. Ele só relaxou quando ouviu a voz conhecida de Louis o cumprimentando. 

- Harry? Está acordado?

H abriu a porta com tudo, assustando Louis um pouco. E nada da aparência de Harry passou despercebida pelo médico. Os olhos inchados com olheiras, o conjunto de seda que deslizava pelo seu corpo, o gloss que deixavam seus lábios ainda mais bonitos e o cheiro tão perfumado que ele chegou a se sentir tonto. 

- O-oi, bom dia.

Louis sorriu. Aquele sorriso que enche seus olhos de ruguinhas charmosas e quase não da mais para ver seus tão belos olhos azuis. Harry se perdeu por um tempo naquele sorriso. 

Seria adorável contar quantas ruguinhas se formam quando ele sorri, pensou o escritor, retribuindo o sorriso do outro com um mais discreto. 

- Bom dia! Eu estava indo no mercado para comprar o que você precisa para cozinhar, e vim perguntar se você não quer ir comigo... - Ele parou quando viu Harry murchar, reformulando a frase em seguida. - Quer dizer, você poderia fazer uma lista de compras?

Harry sorriu, assentindo com a cabeça. Ele ficou feliz que Louis não insistiu no assunto, e tirou a listinha de compras que já tinha feito para o médico.

- Como você é preparado. 

- Eu organizei um cronograma para facilitar tudo. Vou deixar refeições prontas para que não tenha que ir todos os dias. - Comentou enquanto entregava o papel todo rabiscado e dividido por quadradinhos para Louis. O mesmo que se perdeu por alguns momentos tentando entender o esquema que estava escrito naquele papel. 

Ele tinha desenhado um planner? Tem até mesmo decorações - e alguns ingredientes estão desenhados ao lado, para que eu saiba qual é. Um sorriso involuntário acabou escapando dos lábios de Louis.

Harry corou um pouco com a atenção que o médico estava dando para a sua lista. Ele pensou que organizar por refeição seria mais fácil, assim ele poderia calcular direitinho os nutrientes por refeição que seriam adequados para a recuperação de seu amigo.

Será que ele vai falar algo?

- Então tudo certo. Gostei da lista. - Disse sorrindo, dobrando o papel com cuidado e colocando no bolso do seu casaco. Ele vestia um longo sobretudo preto e uma camiseta gola alta, mas sua calça ainda era de moletom. - Antes de ir, você poderia me passar seu número? Para caso eu precise conversar algo sobre meu avô. 

Harry tinha um celular. Ele quase nunca usava, já que não conversava com ninguém fora de horários marcados e previamente estipulados - deveria até mesmo estar sem bateria. E qual era o número mesmo?

- Er... Eu tenho. Mas não sei onde está nem se tem bateria. - Ele disse sem graça. - E... Para admitir também, não sei meu número de cor. 

Louis soltou um risinho, o que deixou o rosto do cacheado todo cor de rosa.

- Então vamos fazer assim, você teria uma caneta e um papel para me emprestar?

O cacheado acenou concordando, não precisando se mover muito para alcançar um bloquinho com caneta no armário da cozinha e alcançar à Louis. O médico rabiscou rapidamente com seus garranchos de médico seu número de telefone, alcançando a Harry logo em seguida.

- Esse é meu número, me manda uma mensagem quando encontrar seu celular, caso se sentir confortável. - Disse com seu sorriso cheio de ruguinhas. O coração de Harry deu uma falhada e acelerou, sua respiração ficando presa na garganta enquanto seus dedos se tocavam ao pegar o papel. - Vou indo cachinhos. 

Harry corou, e acenou devagarzinho para o de olhos azuis que andava pelo corredor assoviando baixo. Ele fechou a porta de seu apartamento e trancou todas as trancas, apoiando as costas contra a madeira, abraçando o papel com o número do psiquiatra contra seu peito - o coração ainda acelerado por conta daquelas rugas.

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