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× Bárbara, uma quarta feira qualquer no início de 2022 ×

Assim que tirei uma foto de Natália, ela já postou enquanto nós aguardávamos o início do jogo. Tirei fotos também do estádio, minhas, da Bianca, da minha mãe e umas 3000 do meu pai que estava igual criança boba quando ganha doce. Quando descobriu que mesmo meu pai sendo torcedor rubro negro desde que a camisa 9 foi do Zico mas nunca foi a um jogo no estádio, Gabriel insistiu em nós trazer a um tradicional Fla×Flu no Maracanã.

"A gente podia sentar ali na divisão nera? Assim eu não ia ficar igual uma puta no meio das freiras com essa camisa linda do Fluminense no meio desse tanto de flamenguista."

Revirei os olhos pra Xamã que se sentou entre eu e Natália, só pra garantir que iria ficar entre flamenguistas seguras. Na verdade, a área em que estamos é uma das mais seguras por ser muito pertinho do gol do Flamengo, que não é nem de longe o lugar preferido dos torcedores, mas que foi o que Gabriel preferiu reservar porque segundo ele é aonde tem menos risco de brigas, então seria mais seguro pra uma grávida.

"Estão falando a escalação."

Meu pai tocou nos fones de ouvido onde ouvia a narração e tudo que ouvia repetia para Xamã. Fiquei olhando pra eles por alguns minutos, meu pai estava de longe na fase mais alegre que eu já vi ele. No começo ficou meio relutante, talvez até com medo, mas depois que via que Gabriel faz tudo pra nos agradar ele baixou a guarda e incorporou a personalidade fã do Gabigol de novo.

"Ele vai entrar."

Assenti e fiquei atenta. Os times se enfileiraram, cantaram os hinos, e o árbitro iniciou a partida. Bola pra um lado, bola pra o outro, algumas defesas do Flamengo e outras do Fluminense, meu pai gritando como eu nunca tinha visto num jogo durante toda a minha vida, e veio um gol do Gabriel. Pulei como nunca, as arquibancadas vibrando e gritando me deixavam mais feliz ainda. Entendi mais do que nunca o porque ele fica tão animado depois de um jogo...

Aproveitando que estava perto de onde estamos, depois de fazer a tradicional comemoração de sempre - com direito a repetição do meu pai - ele se escorou na grade de proteção e me jogou um beijo. Ri alto sem aguentar e fiquei com esse sorriso no rosto até a partida voltar a ficar apreensiva.

Nenhum gol mais até acabar o primeiro tempo. Antes de se retirar de campo Gabriel veio até a grade de novo, disse um "Tá tudo bem?" que eu li através da leitura labial e eu fiz um legal com o dedo mesmo sentindo uma azia misturada com enjoo começar. Ele inclinou a cabeça como quem pergunta "Tem certeza?" e eu fiz que sim com a cabeça enquanto forçava um sorriso pra ver se ele ia logo pro vestiário, já que a torcida, Renato Gaúcho e outros jogadores não paravam de olhar pra cá pra saber com quem tanto o camisa 9 fala.

No início do segundo tempo veio mais um gol do Gabigol. Correu até nós na mesma comemoração do primeiro, mas dessa vez até eu repeti o gesto dele, que ao ver saiu com um sorriso de cara a cara.

"Boa, Babi! Comemora assim mesmo, fica sorrindo pra ele, manda um beijo, mostra a alça do sutiã... Distrai esse homem que é pra ele parar de golear minha rede tricolor."

Ri de Xamã e voltei minha atenção ao jogo. De vez em quando me remexia na cadeira por causa dessa azia que não passa, e foi esse o motivo porque no gol de Pedro eu não levantei pra comemorar apenas gritei. Eu acho que já estávamos perto do fim do jogo quando Gab fez o terceiro gol dele e correu pro mesmo lugar perto da grade. Minha azia não me deixava nem me mexer senão eu vomitaria nessa arquibancada mesmo, então dei um sorriso fraco pra Gab que me olhava preocupado. Ele deve ter dito alguma coisa, mas eu não consegui fazer leitura labial.

Deixa em off - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora