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× Bárbara, início da tarde de segunda feira duas semanas depois  ×

"Tem certeza que vocês vão ficar bem?"

Minha mãe caminhava segurando uma mala de mão enquanto olhava pra mim e pra Bianca.

"Fica sussa, coroa. Eu tomo conta das garotas."

Xamã passou por nós dizendo e ajudando meu pai a carregar umas malas. Meus pais continuaram indagando se a gente ia ficar bem, se tava mesmo tudo bem nós ficarmos sozinhas essa semana.

"Tá tudo ótimo. Vão, se divirtam! Transem mas se protejam que eu não quero ter um irmão com diferença de quase 18 anos, eu hein, credo."

Cutuquei Bianca na mesma hora e ela riu. Só pode tá doida essa menina, falando isso pros nossos pais! É capaz deles desistirem dessa viagem agora mesmo.

"Xa, cuida das meninas como se fossem suas. Tá?"

Ele bateu continência e eu quase ri. Minha mãe jura que tá deixando a gente em ótimas mãos... Eles deram mais alguns avisos antes de entrarem no carro preto que logo sumiu das nossas vistas.

"Modo puta: ativar!"

Empurrei Bianca pra dentro de casa rindo, e ela já foi correndo pro quarto se arrumar pra ir pra não sei onde. Xamã foi pras panelas cutucar a comida que minha mãe deixou pronta e eu fui escolher um filme pra gente assistir. Eu sentei no sofá e ele se jogou com a cabeça no meu colo tentando comer da lasanha mesmo deitado. Me concentrei no filme e só vi quando uma buzina alta estrondou aqui na frente, Bibi passou correndo e soltando beijos antes de bater a porta. Eu e Xamã voltamos a assistir e em menos de 5 minutos a campainha tocou.

"Ela deve ter esquecido uma cinta liga."

Gargalhei e empurrei o ombro de Xamã de leve antes de gritar:

"Tá aberta, Bibi. Entra."

A porta se abriu, mas não era Bibi.

Fiquei encarando Gabriel por uns minutos sem entender e ele ficou olhando super sério pra mim e pra Xamã no sofá. Só então lembrei que eu estou com uma camisolinha fina de renda e meu melhor amigo está sem camisa - como sempre - com a cabeça e um dos braços em volta das minhas pernas.

"O que você tá fazendo aqui?"

Gabriel coçou a barba e fechou a porta atrás dele, se encostando na mesa.

"Eu vim falar umas coisas com você."

Juntei as sobrancelhas.

"Fala então."

Gab olhou pra Xamã que nem piscava prestando atenção.

"Em particular."

Xamã riu.

"Não posso, prometi pro pai dela que ia ser segurança da menina. E, mesmo que eu saia daqui, vou ficar escutando no corredor. E, nem que eu não ficasse escutando escondido, a Bárbara ia me contar. Então pra evitar que alguma coisa se perca aí no meio desse telefone sem fio, eu vou ficar aqui escutando mesmo."

Gargalhei na mesma hora e a risada de Xamã ecoou junto. Abaixei minha cabeça e beijei a testa dele dizendo:

"Por isso que você é meu melhor amigo." - Dei dois tapinhas no ombro dele e apontei com a cabeça pro corredor dos quartos, pra onde Xamã foi se arrastando. Fiquei séria de novo e pausei o filme.

"Vocês são bem próximos, né?"

Percebi que ele não sabia por onde começar a falar o que veio falar.

"Pra caralho. É a pessoa no topo da minha lista de favoritos."

Ele assentiu e ficou olhando os móveis, por isso perguntei:

"Então, o que você quer me dizer?"

Gabriel tirou o boné da cabeça apenas pra botar ele pra trás e ficar apoiando as duas mãos na aba. Isso fez a blusa branca levantar e a pele tatuada próxima ao comecinho do short aparecer, tentei desviar o olhar.

"É difícil pra mim me abrir assim, mas... Eu vim dizer que você é muito importante pra mim e que... Ai meu Deus, eu tinha tudo ensaiado na minha cabeça mas olhando pra você agora parece que eu não sei mais nem meu nome."

Ele esfregou as mãos no rosto e eu fiquei olhando pra Gab desejando de verdade que se ele está tentando me falar que sente alguma coisa, que ele consiga.

"Eu queria que você... desse uma chance nova pra nós dois."

Me levantei e passei direto pra cozinha pra procurar uma água. Desfiz meu bico e dei uma gargalhada quando vi Xamã parado na mesinha do corredor fingindo olhar um porta retrato virado pra baixo. Ele riu pra mim também e entrou no meu quarto antes que Gabriel passasse atrás de mim e visse também.

"Fala alguma coisa, Babi."

"Gab... O que te faz pensar que é só chegar aqui e pedir uma chance que eu vou dar?"

Dei a volta no batente pra pegar um copo no armário. Juro que não era minha intenção principal, mas foi incrível quando fiquei nas pontas dos pés e sei que ele olhou pra minha bunda que apareceu pelo movimento da camisola.

"Nada, na verdade eu vim na cara e na coragem porque não aguentava mais ficar com isso entalado. A psicóloga da seleção até me aconselhou também a falar com você, ela disse que o que faltou na gente foi conversa."

Olhei pra ele por cima do ombro.

"Faltou em você porque eu sempre quis conversar, sempre idealizei ser seu porto seguro mas você ficava igual papagaio repetindo que nosso lance era em off, que era só sexo, que isso que aquilo. Essa culpa é sua."

Gabriel sorriu e eu não entendi.

"Tá achando que eu sou palhaça?"

Ele negou com a cabeça rapidamente se escorando no batente.

"Não, quê isso. É que você finalmente tá falando mais que um murmúrio comigo."

Respirei fundo e virei pra encher o copo pra fugir de olhar os olhos castanhos mais lindos do mundo.

Deixa em off - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora