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× Gabriel, na quarta feira à noite 1 mês depois ×

Já estava correndo pra perto da arquibanda pra fazer minha tradicional comemoração quando o árbitro levantou a bandeira e impediu meu gol.

"Quê isso, porra?! Que impedimento o quê caralho?! Impedimento o seu cu!"

Senti na hora que Éverton começou a me puxar pra que eu não avançasse em cima do filho da puta. Bruno Henrique ficou contestando com ele que tinha um jogador do Fluminense ali na frente, mas ele só continuava apitando na porra do meu ouvido e negando com a cabeça. Saí pro outro lado esfregando a minha cabeça com um ódio do caralho. O primeiro tempo acabou e o adversário já tinha marcado 3 gols enquanto nosso placar ainda estava zerado. Peguei minha água escutando o esculacho de Renato Gaúcho no vestiário.

"Tá acontecendo alguma coisa, cara?"

Neguei com a cabeça pra Éverton, que continuou me olhando como se pudesse ler minha alma. Gerson sentou do meu lado me estendendo uma toalha.

"Isso tem cheiro de problema com mulher."

Ia responder quando meu técnico se aproximou.

"Gabriel, que porra é essa? Eu sei de no mínimo quatro vezes que a bola passou no seu pé e você chutou longe. Tá com dois pés esquerdos, porra?"

Esfreguei a testa.

"Eu sei, chefe. Calma aí, tu viu que impediram meu gol lá."

Apontei numa direção aleatória.

"Falando nisso, perdeu a tua cabeça? Tá pensando com tua cabeça de baixo? Você ia bater no árbitro?"

Neguei.

"Claro que não, chefe. Eu só..."

A frase morreu na minha garganta e eu bebi mais da água. Pedro Guilherme se aproximou e nós ficamos os 4 ouvindo mais do sermão, até os outros jogadores se reunirem a nossa volta.

"Ô Gabi, o quê tá acontecendo hein cara? Tu ao invés de passar a bola pra mim, quase passou pro adversário."

Bruno Henrique resmungou atraindo a atenção de todos para meu péssimo desenvolvimento no jogo. Suspirei já puto.

"O que tá acontecendo deve ser mulher."

Gerson tornou repetir e eu fuzilei ele.

"Seja o que caralho for, resolve essa merda cara."

Pedro deu dois tapinhas no meu ombro e eu olhei pra aliança do recém namoro dele brilhando no dedo.

"Eu tô contando com você, o time tá contando com você, o torcedor tá ali fora na arquibancada louco por um gol do Gabigol, o Brasileirão tem tudo pra ser nosso de novo se você voltar a ser você."

O técnico disse e apontou o dedo na minha cara, chamando depois Pedro Guilherme pra combinar a estratégia da entrada dele nesse segundo tempo.

"Ela é bonita? Se a gente perder esse jogo porque você tá sofrendo por uma mulher feia eu vou socar a tua cara."

Gerson brincou e eu ignorei. Éverton começou a falar:

"Não sei o que tá acontecendo, se é realmente mulher, se é outra coisa, mas... somos um time, e precisamos uns dos outros. Se recupera, resolve isso, que nós temos a série A inteira pela frente, já estamos nas eliminatórias da Copa do Mundo, precisamos do Gabigol."

Ele assentiu reafirmando o que falou e eu continuei em silêncio. Que caralho de confusão você tá fazendo na minha cabeça, Bárbara...

"Eu ainda acho que é mulher, se for, joga direito que ela não vai querer ser mulher de jogador fraco."

Gerson riu e eu dei uma risadinha fraca. Eu não quero me amarrar em ninguém, não tão cedo. Só estou... esquisito em relação a Bárbara. Deve ser saudade da sentada dela e só.

Foi isso que me concentrei em pensar quando o segundo tempo começou. Logo nos primeiros minutos Éverton fez um gol, o que me fez começar a pensar que tínhamos chance ainda. Isso até o Fluminense fazer mais um gol... O técnico fazia bico e eu fingia não ver. Vários minutos se passaram e eu tentando balançar a rede adversária, mas sempre vinha alguém me derrubar e me fazer xingar todos os palavrões que eu sabia.

Não sei bem, mas já deviam ter uns 30 minutos do segundo tempo quando Bruno Henrique fez gol. Passaram apenas mais uns 5 minutos e ele fez outro. A cara dos torcedores era de esperança, porque pelo menos a chance de um empate era mais real. Me dediquei mais do que nunca pra fazer pelo menos isso.

O time estava quase todo lá perto do gol adversário, e eu estava longe. Saí correndo na maior velocidade e chegando lá encontrei Pedro tocando a bola pro Arrascaeta mas ela foi roubada por um jogador do outro time. Passou na minha frente, foi quando roubei e corri como nunca tomando o cuidado de só tocar pro gol se estivesse vendo camisas verdes com vermelho na minha frente. Como no clímax de um filme de suspense, a bola foi pra um lado da rede e o goleiro foi pro outro.

Meus colegas de time pularam em mim e eu corri pra perto da arquibancada fazendo minha tradicional comemoração. A torcida vibrando e gritando que era gol do Gabigol foi revigorante. Por um minuto, passou pela minha cabeça que Bárbara tá assistindo e vendo isso. Foi quando parei de gritar e comecei a sorrir.

O árbitro deu seis minutos de acréscimo e o outro time estava caindo matando, mas eu estava confiante. Foi essa confiança que me fez balançar a rede mais uma vez, correndo pra torcida de novo. O jogo acabou com uma vitória suada, mas nossa.

"Ah, de virada é mais gostoso né?"

Foi o que respondi sorrindo pra jornalista que concordou.

"Você estava um pouco perdido no começo do jogo, mas depois se encontrou. Ao que deve isso?"

Prensei os lábios antes de responder. Uma torcedora morena que não responde mais as minhas mensagens?

"Ah, a torcida né? Essas pessoas contavam comigo e eu precisava voltar a minha forma."

"Na hora que seu primeiro gol foi impedido você ficou bem exaltado, como ficou a sua cabeça?"

Cocei o cabelo.

"Ah, mexeram com a pessoa errada né?"

Ela continuou fazendo algumas perguntas sobre a minha expectativa pro Brasileirão e eu respondi até poder sair dali.

Deixa em off - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora