× Gabriel, no mesmo sábado algumas horas mais cedo ×
"Ih moleque!"
Sorri pra Neymar antes de cumprimentá-lo.
"As bebidas já tão gelando, carne comprada, tamo na atividade já. Pessoal vai começar a chegar logo, até já tem uns por aqui."
Fiquei conversando com ele e era muito bom que a gente conseguiu manter a nossa amizade.
"Vou lá em cima, conversar com a tua irmã."
Ele concordou com a cabeça e eu comecei a subir as escadas. Estava um pouco nervoso, mas sentia meu coração já começar a se esvaziar das mágoas que tenho dela e das mágoas que tenho de mim pelos meus erros. Essa é uma conversa pra pedir perdão, pra perdoar, pra me curar da Rafaella. Pra deixar meu coração livre pra finalmente amar e ser amado por outra pessoa.
Talvez a maturidade tenha mesmo chegado até mim, afinal.
(...)
"Foi muito bom botar tudo isso pra fora, de verdade. Obrigado pela chance."
Agradeci a Rafaella sorrindo. Parecia que meu corpo tinha pelo menos uns 10 quilos a menos, eu juro. Fiquei até mais leve depois que comecei a botar pra fora coisas que a minha marra antes não deixava.
"Me espera pra descer, Gab."
Ela sorriu e eu fiquei meio sem jeito de dizer 'Não', então continuei parado no topo da escada e ela logo me acompanhou. Achei que Rafa ia só descer do meu lado, mas ela entrelaçou a mão na minha e começou a descer na minha frente. A sala lotada de gente ficou nos olhando e eu fiquei meio em choque, sem saber como agir.
Pedro Guilherme se aproximou do grupinho com quem conversávamos e era a deixa que eu precisava pra sair de perto dela sem ser indelicado, depois de já ter soltado a mão dela algumas vezes e ela ter pegado na minha de novo. Ia sair, mas senti Rafa beijando minha bochecha quase na minha boca. Virei pra olhar pra ela sem entender e no caminho meus olhos se cruzaram com os de Natália, foi quando eu soube que vim aqui pra resolver um problema e arranjei mais cem.
(...)
"Puta que pariu, puta que pariu..."
Quando meu celular já estava igual um vibrador, eu olhei o quê tanto estava acontecendo. Minha primeira reação sem pensar muito foi querer pegar o carro e ir até a casa de Bárbara, mas eu estou em Búzios à quatro horas de distância do Rio de Janeiro e cheio de álcool no sangue. Então liguei muitas vezes, mandei muitas mensagens, mas no fundo eu sabia que era em vão.
Daí, uma coisa se embolou na outra e eu não sei mais a ordem dos fatos, mas alguém estava indo pro Rio e eu peguei uma carona até a minha casa e de lá peguei meu carro até o meu destino. A casa estava toda escura mas o dia estava amanhecendo, toquei na campainha umas cinco vezes antes de Xamã atender a porta.
"A Bárbara tá?"
Ele continuou de maxilar travado e braços cruzados.
"Pra você, não."
"Quê isso cara, tu me conhece..."
"Esse papo aí mermo. Eu te conheço e é por isso que se eu soubesse de caralho de transa em sigilo não tinha deixado ela entrar nessa, sempre quem se fode é a Bárbara e tu volta pra tua vida."
Pisquei os olhos algumas vezes. Ele sempre foi tão legal comigo, parceiro demais, era sempre o maior divertimento do mundo estar perto dele. Um cara bom mesmo! É, talvez antes de eu magoar a melhor amiga dele.
"Xamã, eu tenho uma explicação."
"Soca no teu cu."
Ele bateu a porta e deve ter desligado a campainha por que não importava o quanto eu tocasse, nem eu ouvia o som. O sol já estava alto e forte quando entrei de novo no carro e por lá mesmo devo ter dormido. Acordei com batidas na janela:
"O que você está fazendo aqui?"
Abaixei rápido o vidro e vi Bianca de pijama e óculos de sol. Não preciso olhar muito ela pra saber que está de ressaca.
"Eu vim falar com a tua irmã."
"Ela tá dormindo. Ela tá dopada, na verdade. Vai dormir o dia inteiro, se dermos sorte."
Juntei as sobrancelhas.
"Ela tá o quê? Dopada? Ela tomou remédios?"
"Só alguns calmantes, mas era necessário ou ela teria um colapso. Ela tinha que dormir pra esquecer a dor. Só espero que os problemas não tenham aparecido nos sonhos."
Bianca falava com tanta naturalidade uma coisa que pra mim era um absurdo. A Bárbara é uma pessoa com o astral tão pra cima, tem tantos picos de alegria... Como pode ficar triste ao ponto de precisar de calmante?
"Eu acho melhor você ir embora. De verdade. O Xamã ama a minha irmã mais que qualquer coisa no mundo e jamais vai sair de perto dela por esses dias, então você não vai ter uma brecha e, ..."
Interrompi ela.
"Ele não vai deixar nem se a Bárbara quiser falar comigo?"
Bianca me deu um sorriso de consolo.
"Oh, Gab... Ela não vai querer falar com você tão cedo. Já cria logo um fake porque quando acordar ela vai te bloquear de tudo, dessa vez ela vai. Desculpa, mas eu não acho que a Babi vai aceitar seu pedido pra ser amante."
Juntei as sobrancelhas. Que loucura é essa, Bianca?
"Quê? Não! Eu vim justamente explicar que não estou com a Rafaella caralho nenhum!"
Bianca tirou os óculos escuros do rosto e eu vi a maquiagem dela toda borrada. Essa sabe curtir a vida.
"Jura?"
O deboche pingava na voz dela e por isso contei a história inteira. Bianca ficou apenas me analisando até dizer:
"Eu acredito em você."
Respirei fundo. Talvez a sorte esteja vindo ao meu favor.
"Mas nem se você falar com essa voz de choro e com essa cara de acabado, a Bárbara não acredita. É melhor você ir embora, de verdade... Foi muito bom conhecer você e eu ia adorar ser sua cunhada, mas tu é mó vacilão né? Tchau."
E sumiu pra dentro da casa sem me dar chance de resposta.
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Deixa em off - Gabigol
FanficEles sempre ficaram juntos em segredo, e pra Bárbara estava tudo bem. Tudo bem ouvir Gabriel repetir que quem come quieto come sempre. Estava tudo bem ficar às escondidas e fingir toda vez que esta era a última vez. Estava tudo bem. Até... Não esta...