Dominic
Abrir mão de um dos meus sonhos foi difícil de processar e, além de tudo, doloroso.
Trabalhar ao lado de um grande advogado era um desejo que nutria a muitos anos e tomar a decisão de não o fazer me fez tomar um banho de água fria.
Não estava disposta e deixar minha cabeça mais confusa trabalhando sob o mesmo teto que Richard.
E foi por esse motivo que estou indo agora mesmo, andando embaixo de um puta sol, conhecer o local onde será meu studio de tatuagem.
- Às vezes eu acho que você é louca, em outras tenho certeza.
Gabriella, uma grande amiga - e única - da minha época de escola estava ao meu lado reforçando a ideia de que eu sou a pessoa mais imprevisível que ela já conheceu.
Depois de contar a minha tia, liguei o mais rápido que pude para contar a Gabi da novidade. Apesar de não nos falarmos todos os dias e de acabar se encontrando praticamente a cada dois meses, a considero uma ótima amiga e sei que o sentimento é recíproco.
- Qual é, Gabi. Nem eu imaginei que isso aconteceria um dia. Sei que tenho obsessão por tatuagem, mas nunca pensei que chegaria a isso, e bem, cá estou.
Já estava pensando na ideia de estar cometendo um terrível erro. Largar meus anos de estudos em uma universidade, dar meu sangue nas provas e em noites decorando artigos para estar indo ao lado oposto por causa de um homem.
Desgosto extra para a família, pensei.
- Relaxa, guria. Sabe que se decidisse vender cachorro quente eu seria a primeira pessoa a comprar na sua barraquinha.
E era verdade, eu sabia.
Meus olhos com toda certeza estavam brilhando enquanto encarava a menina de cabelos negros em um black de invejar. Ela seria minha dívida eterna com Deus, sem sombra de dúvidas.
- Ei, para de me olhar desse jeito! Eu fico fraca.
A piscada que recebo me faz gargalhar e ela acompanha, enquanto finalmente chegamos em frente ao ponto.
Era grande, muito grande. As portas e janelas de vidro que iam do chão ao teto mostravam que eu não teria problemas com reforma, já que tudo parecia pronto para uso por dentro.
Paredes brancas e pretas - algumas com desenhos detalhados e pichados - deixavam o lugar muito foda e já familiarizei rapidamente.
Entramos e logo fui recepcionada por um rapaz, Bruno, que era o responsável pela venda do imóvel. Ele era bonito, alto, estiloso e simpático. Seu corpo era lacrado de tatuagens até o pescoço e ele pareceu feliz em saber qual seria o rumo daquele lugar em minhas mãos.
Continuação de um legado, segundo ele.
- Vai ficar muito louco quando você der alguns toques no teu estilo, Dominic. O lugar te dará muita liberdade pra soltar as ideias e decorar, ser espaçoso tem seus benefícios.
Apenas aceno incapaz de pronunciar algo enquanto dava alguns passos pra frente afim de olhar a vista que o andar de cima proporcionava.
Minha cabeça trabalhava sem parar arquitetando meus próximos passos, as ligações que teria que fazer e onde colocar cada coisa. Como Bruno havia dito, precisaria dos meus toques naquele lugar.
Após alguns instantes de silêncio, ele resolve se pronunciar numa tentativa de quebrar o gelo.
- Já escolheu o nome? - disse em um tom rouco.
Me viro procurando o par de olhos que já me estudava e sinto um pequeno tremor tomando conta do meu corpo.
Dei, - novamente- mais uma olhada em volta do local.
- Não pensei em nada, por enquanto.
Ele ri e passa a mão nos cabelos jogando os fios negros do topete que caiam em seu rosto para trás.
- Foi mal, eu não especifiquei. Tô falando do nome do seu bebê.
Só então olho para baixo e vejo o quanto o macacão preto estava marcando o pequeno volume, que por algum acaso, estava diretamente em frente a um raio de sol que atravessava alguma das janelas daquela sala.
Ergo meus olhos e sorrindo respondo:
- Ainda não, vou descobrir em alguns dias o sexo e daí, quem sabe algo me venha em mente.
Ele assente e voltando a encarar minha barriga diz:
- Eu tenho um forte desejo de ser pai. Acho que a ausência do meu me trouxe essa vontade de descobrir como é ter sua mini versão para cuidar. Apesar de ainda não ser, sempre achei o nome Alec muito bonito, além de forte.
- O Defensor da humanidade.
Seus olhos rapidamente fixam em meu rosto e me encaram com um certo espanto.
- O que foi? Eu não decidi ainda, mas não significa que não andei pesquisando.
A curva de um sorriso aparece e ele apoia o peso em uma perna enquanto cruza os braços.
- Pelo traços italianos e o sotaque, não achei que cogitaria um nome de origem grega.
- Eu gosto das minhas raízes, mas essa criança não precisa de tamanha ligação, mau terá com outros membros da família de qualquer maneira.
Falar aquilo foi espontâneo, mas quando me dei conta senti uma pequena - mas forte - pontada no peito. Que caralho!
- Não sabia que era um assunto tão delicado, peço perdão pelas palavras.
Seu rosto mostrava que ele, de fato, havia de arrependido do que disse, mas eu sabia que não era culpa dele. A culpa era somente minha por não saber esconder minhas feições quando algo não me agradava.
Em resposta dei de ombros e coloquei as mãos nos bolsos da jaqueta jeans.
- Em paz. Não há como evitar, além de tudo, você não sabia.
Ele me responde com um sorriso acolhedor e eu retribuo, antes de voltarmos a caminhar até o andar debaixo para encontrar minha amiga, que pelo que havia reparado, estava encantada com a equipe que trabalha com Bruno, especialmente o primo dele.
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Lucifer.
RomanceVocê tem aquela cara que quase diz: "Amor, eu só sirvo para despedaçar seu coração." +18 - possui GIF's, palavras de baixo calão e menção sobre drogas, agressão e álcool. • Votos e comentários irão influenciar a continuação da história! •PLÁGI...