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"Eu tava certo de que o amor era para os outros
não era pra mim
Um cara esperto, fechado no meu canto,
eu só vivia assim
Entre uma boca e outra, uma dose e outra,
Toda madrugada nessa vida louca,
Nem passou pela cabeça me apaixonar.."

Henrique e Juliano - Como é que a gente fica

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Richard

A forma como ela sorria me fez sentir um pouco de inveja de quem quer que fosse o motivo dele.

O jeito como jogava o cabelo, os quadris e vez ou outra olhava pra mim por cima dos ombros - apesar de ter a pelúcia em seus braços -  me fez estremecer de uma maneira estranha por dentro.

De uma forma que nunca senti.

Os problemas ainda estavam ali em cima de seus ombros, eu podia enxerga-los assim como enxergava os meus, mas bastou uma única música e ela os ignorou como se não fossem nada demais.

E era exatamente isso que me deixou tão impressionado naquele instante.

Eu poderia contestar de muitas formas seu jeito teimoso, seu pulso firme, o jeito como ela se posicionava autoritária para não permitir que outra pessoa a doma-se ou se posicionasse a cima dela de alguma maneira, mas no fundo me deixava admirado de certa forma.

Eu ainda processava o fato de ser pai. Saber que aquela mulher quase-desconhecida carregava uma mini versão minha me deixava fora de órbita.

Poucas pessoas da minha família souberam a respeito, mas apesar da situação me forneceram apoio, mesmo sabendo que Dominic se negava a receber qualquer ajuda financeira ou minha presença como eu imaginei que pediria.

  Quando recebi a notícia a poucas horas atrás de que ela havia sido rejeitada e humilhada por sua mãe, não soube reagir pela primeira vez na vida.

Eu sei o papel de irresponsável que fiz no início, mas quando finalmente me sentei na cama com minha dose de Green Label após um puta dia fodido de trabalho, refleti o quanto a situação era mais complicada do que parecia.

Minha boca se encontrava seca como naquela noite, apesar de todas as bebidas que estavam entrando uma na sequência da outra enquanto observava a loira tatuada dançando como se estivesse sozinha na pista.

Minhas mãos formigaram e eu tive a sensação de como era tocar aquele corpo.

E eu não estaria exagerando se falasse que nada se comparava.

Nunca diria isso em voz alta, assumindo para mim mesmo, mas a filha da puta mexia com a minha cabeça mais do que eu poderia prever.

Ela exalava cheiro de confusão. Não digo isso pelas inúmeras tatuagens, pelos piercings ou pelas curvas que deixariam qualquer um desnorteado, mas sim pela personalidade do caralho que aquela mulher possuía em seus 1,60 m e que eu tive a chance de conhecer de perto.

Sem saber controlar meu corpo, ignorei todos os sinais de alerta que os anjos e demônios próximos ao meu ouvido sussurraram e me levantei pronto para cometer mais um erro.

Dominic pareceu sentir minha presença e virou de uma vez, ficando de frente para mim.

Os passos não foram calculados, nem se quer olhei para os lados para me certificar se alguém nos observava. Só queria chegar até ela e rápido.

Lucifer.Onde histórias criam vida. Descubra agora