Bad Blood

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Durante todo o caminho para a casa dos meus pais, o constante frio em meu estômago era insuportável. Eu realmente não queria vê-los, por mais que já faça alguns bons tempos desde a última vez que nos vimos, ainda não me sinto plenamente preparado — principalmente quando penso que a estreia está muito fresca na memória de todos. Ainda que eu tenha feito a decisão de viver pelos meus termos, não me sinto plenamente capaz de enfrentá-los caso haja a necessidade.

Quando cheguei no portão de entrada, levei algum tempo até anunciar a minha chegada para a entrada na garagem ser liberada. Olhando o casarão de fora, pensei na casa dos Uchiha, pensando o quanto foi acolhedor ficar lá durante o período que ficamos, sendo impossível não comparar com o modo como me sinto vindo até aqui.

Realmente gostaria que o Sasuke pudesse ter vindo. Tudo estava caminhando para que eu não viesse sozinho, no entanto, aqui estou, sem qualquer companhia no banco do passageiro. Aproveitei meu pensamento nele e lhe enviei uma mensagem para avisar da minha chegada, recebendo logo uma resposta sobre avisá-lo de qualquer incidente.

Foi com uma inspiração profunda de coragem que finalmente avisei para Kushina sobre minha chegada. O portão se abriu segundos depois, e me movi com o carro para dentro, escutando quando a tranca voltou a se fechar às minhas costas.

Sair do automóvel também foi outra cerimônia de trabalho mental, porém, sabendo que não há como simplesmente sair correndo, fui recepcionado pela ruiva assim que pus os pés na varanda.

Seu abraço foi gentil, mas preferi quando nossos corpos já não se encontravam mais. Lá dentro, meu pai esperava por nós dois na sala, adornava um sorriso simples quando alcançamos o cômodo.

A conversa foi pouca quando sentamos todos juntos. Havia um senso de não saber o que realmente falar comum em todos os presentes. Suspirei quando percebi essa atmosfera, jamais achei que o meu relacionamento com os meus pais pudesse ter uma mudança tão radical devido à minha sexualidade.

Agradeci imensamente quando Chiyo veio avisar sobre a mesa já estar posta, foi de grande alívio, por mais que nada vá se fazer tão diferente somente pela nossa mudança de ambiente. No entanto, ter no que prestar atenção além dos dois, é o meu foco no momento. Não deixei de dar um forte abraço na senhora quando começamos a nos mover para o outro cômodo.

Minha única e plena intenção é finalizar o almoço e partir para casa logo em seguida. Não quero ter de ficar aqui nem mais por um segundo além do que devo. A não ser que Sasuke avise que estará vindo, posso fazer o esforço de continuar aonde estou.

A estranheza por eles ainda não terem feito qualquer pergunta sobre a estreia ronda meus pensamentos. Com toda a certeza Kushina está apenas esperando pelo momento mais oportuno de introduzir o assunto na roda de conversa. O que mais me deixa temoroso é o fato de que não estou acompanhado, logo, ela pode se aproveitar de ter, também, a companhia do marido para apoiá-la em suas falas e decisões.

— Como está o Sasuke? — Kushina perguntou quando finalizamos o que havia na mesa. Senti o frio se alastrando no meu ventre.

— Bem — respondi de maneira limitada, me movimentando na cadeira para tentar buscar algum novo conforto.

— Posso saber o motivo pelo qual não veio hoje? — investigou, eu sentia seu olhar em mim.

— Trabalho.

— Mas vocês não trabalham juntos? — insistiu.

— O que quer dizer, mãe? — Lhe encarei, franzindo a testa.

— Achei que os trabalhos sempre envolveriam os dois, isso é o que quero dizer, já que atuam juntos. — Deu de ombros.

— Não, não é assim que funciona — enfatizei.

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