Faz de Conta

Cold Days

Acordei com a claridade do sol em meu rosto. Pisquei algumas vezes antes de finalmente deixar os olhos se acostumarem com a luz. O ambiente parecia estranho, e a maciez bizarra abaixo de mim também. Ao olhar ao redor, ainda sem erguer a cabeça me dei conta de onde estava. Claro, na casa do Sasuke. Ou melhor, em sua sala, deitado em seu peitoral. A televisão ainda estava ligada e fazia um ruído de fundo um pouco mais alto do que o que seria quase inaudível, mas nada era entendível.

Apoiei uma mão em seu peito, olhando para seu rosto daquela posição estranha. Parece muito desconfortável como estamos, principalmente para ele, no entanto, seu sono é profundo. Afastei de leve algumas mechas de cabelo que caem de forma que não permitem ter melhor vislumbre de toda a sua feição serena. Sinto uma de suas mãos em minhas costas, vejo a outra jogada para cima além de sua cabeça. O lençol que nos cobre está metade pelo chão, não me recordo a hora em que peguei no sono.

Eu adoraria acordar a bela adormecida abaixo de mim com um beijo sutil em seus lábios, entretanto, apenas sussurro seu nome no melhor tom baixo que consigo, percebendo a rouquidão na voz pela sonolência. Ele não se move logo quando falo, sinto pena em despertá-lo, parece tão ligado ao mundo dos sonhos, quase um pecado tirá-lo disso. Porém, precisamos trabalhar.

Apesar do pensamento sobre ir para o estúdio, me permito permanecer observando-o um pouco mais. Sua boca está entreaberta, mas não o suficiente para que seus dentes sejam vistos com nitidez, só um filete branco ao fundo. As pálpebras com longos cílios cobrem seus olhos extremamente negros, e há a bela moldura negra ao redor de sua face. Os cabelos lisos caem em uma massa espalhada pelo braço do estofado. "Talvez ele acorde com torcicolo", penso ao perceber o ângulo em que em que se apoia, apesar da pequena almofada que apoia sua cabeça.

Olho para a mesa de centro, vendo os aparelhos de celular por ali, eu deveria pegar qualquer um deles e ver a hora, mas, o conforto desconfortável aqui é bom o suficiente para não me deixar mover. Desvio os olhos para a televisão, rezando para que lá mostre o horário no noticiário que passa; a mulher diz a previsão do tempo, mas não vejo nenhum relógio na tela. "Parece que vai chover hoje".

Volto à minha posição de antes, olhando o rosto do Uchiha e tomando quase ímpeto de coragem para acordá-lo. Sasuke, repito baixo. Ei, passeio a mão em seus fios, fazendo uma carícia para trás e assim revelando sua testa, Sasuke. O vejo fazer uma careta ao apertar os olhos e com os mesmos orbes confusos, que eu devo ter feito quando acordei, ele olha ao redor antes de encontrar os meus.

— Bom dia.

— Bom dia. — Sua voz era menos audível do que a minha. Suas duas mãos me apertaram enquanto se espreguiçava. — Há muito acordado?

— Não, uns dez minutos ou menos.

— Como dormiu?

— Bem. E você?

— Bem. Vou saber o que meu corpo acha daqui a pouco. — Sua risada saiu rouca. — Sabe que horas são?

— Não faço a mínima ideia. Me faltou coragem para pegar o celular. — Ao escutar o combo de risos, ouvi as patas do Kurama pelo corredor. Ele deve ter dormido em sua cama, no quarto. — Vem aqui. — Estendi a mão para fazer carinho, o cachorro deitou ao pé do móvel depois de receber atenção. — Precisamos levantar.

— Amo o meu trabalho, mas adoraria que fosse um sábado ou uma folga quem sabe.

— Ainda temos muito o que fazer essa semana. A começar por arrumar as malas. — O vi rolar os olhos. — Estou falando sério.

— Eu sei. Farei isso hoje. Uma obrigação a menos.

— Muito bem.

Quando eu pensei em finalmente decidir que era o momento de encarar o visor do telefone, ele acendeu a tela.