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Eu abro meus olhos lentamente, ainda atordoada, e sem saber onde estou. Escuto vozes distantes e passos no ambiente, mas ainda estou sonolenta demais pra identificar tudo o que acontece ao meu redor. Meu peito dói muito, e quando eu levo minha mão até o local da dor, percebo que há um curativo no lugar onde a bala me acertou.

Eu não lembro de muita coisa. Eu agi pelo calor do momento, pelo desespero de ver Erwin em perigo. Eu só lembro de correr até ele, e depois, um barulho alto e uma dor aguda no meu peito. Lembro vagamente do rosto de Erwin olhando para mim, preocupado, e depois, não lembro de mais nada.

Eu consegui salvá-lo?

Eu finalmente consigo abrir meus olhos completamente, e a visão estava nítida. Eu olho para o lado e vejo o Capitão Levi sentado em uma cadeira relativamente próxima a mim. Eu percorro meu olhar ao redor de toda a sala a procura de Erwin, mas ele não estava ali.

- Você é uma louca, correndo daquela maneira. – Diz Levi, enquanto eu sentava na cama da qual eu estava.

- Eu não ia ficar assistindo Erwin morrer. Ele... está bem?

- Sim. Depois de trazermos você pra cá, levamos Moblit para a guarda da guarnição, para uma cela especial. Não vejo a hora de chegar lá e torturá-lo. Vamos ver se ele vai manter os segredos deles escondidos. Erwin está lá com ele, nesse momento.

Eu não esperava acordar depois que fechei meus olhos, e eu estava satisfeita com aquilo... a ultima lembrança seria de estar nos braços do homem que eu amava. Mas acordar depois de tudo aquilo e não o ver me deixou triste.

- Os médicos disseram que você escapou por muito pouco. Mais alguns centímetros abaixo e a bala teria acertado seu coração. Você vai ficar aqui alguns dias até se recuperar totalmente, e depois vai voltar para as cidades subterrâneas.

Eu apenas balanço a cabeça em afirmação as informações de Levi, e logo depois ele se levanta da cadeira.

- Bem, eu vou indo embora, agora que constatei que você vai sobreviver. Eu voltarei aqui outro dia.

- OK, Levi. Obrigada.

E então ele se vira e vai embora, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Erwin provavelmente ainda estava chateado comigo, e era nítido pelo simples fato de ele não estar do meu lado. Ele com certeza é grato por eu ter salvado a vida dele, mas não o suficiente para perdoar o que fiz.

[...]

Alguns dias se passam, e Erwin não apareceu. A cada dia que passava eu perdia um pouco das esperanças de que eu pudesse vê-lo novamente, e isso me deixava profundamente deprimida. Levi veio algumas vezes para saber do meu estado, e logo ia embora. Ele era um homem objetivo, e não ficava de conversas. Eu me sentia sozinha, e passava boa parte do meu tempo sem dizer uma palavra, apenas pensando e torcendo para que Erwin abrisse a porta do meu quarto a qualquer momento, mas isso não aconteceu.

No meu último dia antes de ter alta, Levi foi me ver mais uma vez.

- Os médicos disseram que amanhã você já está liberada para sair. Você sente dor no peito?

- Muito fraca, nada que incomode demais.

- Hum, tudo bem, então. Amanhã os soldados da polícia militar vão vim te buscar para te levar até a entrada das cidades subterrâneas, e de lá, você segue o seu caminho.

Ele começa a se direcionar para a saída, e então eu falo com ele.

- Capitão, antes que o senhor vá embora, eu queria fazer apenas uma pergunta.

Ele se vira novamente para mim, e diz:

- Faça.

- Por que Erwin não veio me ver nesses dias todos em que estive aqui?

Ele demora alguns momentos para responder, provavelmente analisando se deveria me responder ou não. Mas momentos depois, ele fala:

- Eu não sei os exatos motivos dele, eu nunca perguntei diretamente. Somos amigos, mas isso é uma das coisas que ele claramente não quer falar sobre, e eu não insisto.

- O senhor não poderia dizer que eu queria vê-lo? Que eu quero conversar com ele, explicar o meu lado...

- Eu já falei sobre isso com ele, mas ele simplesmente disse que não queria te ver.

Aquela informação me machucou profundamente, muito mais do que a bala que atravessou meu peito. Eu magoei Erwin o suficiente pra ele não conseguir me olhar, e aquilo me atormentaria pelo resto da vida.

- Mas Levi, ele perdoou você! Eu achei que ele me perdoaria...

- Você quer comparar o impacto que eu tive na vida dele com o que você teve? Em mim ele só via um soldado, via uma esperança para a humanidade. Você foi a única mulher da qual eu tenho certeza que ele realmente amou. Eu nunca o vi da forma como ele estava enquanto vocês estavam juntos, ele parecia um homem diferente pra mim, mais feliz. Nesses três anos que estamos lutando lado a lado, eu nunca o vi falar de qualquer mulher, não como ele falava de você. Ele te amou e você o traiu da pior forma possível. Eu consigo entender as suas razões, Kate, eu vim do mesmo lugar que você veio, mas se coloque no lugar dele. Você se perdoaria?

Eu baixo minha cabeça em profunda tristeza. Levi não estava errado em nada do que disse, e eu sabia disso. De todas as formas que eu poderia ter imaginado o fim disso tudo, essa de longe foi a pior de todas.

- Você poderia dar um recado meu para ele? – digo.

- Que recado?

- Diga que ele é o propósito pelo qual eu entregaria minha vida. – Levi me olha com uma leve expressão de confusão, e então eu continuo: - Apenas diga isso a ele, por favor. Se ele se lembrar o que significa, ele vai entender.

Levi me olha por um momento, e depois vai embora.

No outro dia, pela manhã, os soldados da polícia militar chegam no hospital, e eu sou levada algemada até a entrada das cidades subterrâneas. No caminho, eu olho pela janela da carruagem todo o ambiente de fora, e me lembro dos momentos felizes que passei ali, que passei com o comandante. Momentos dos quais agora só estariam na minha lembrança. Eu sentiria falta do sol, do ar puro da superfície, dos treinos, das pessoas, mas nada se compararia com a falta que Erwin faria para mim.

[...]

Dois dias depois, eu estou preparada para voltar a minha antiga vida. Visto minhas características roupas sedutoras, curtas e decotadas, coloco uma capa por cima, e sigo para o bordel do qual eu trabalhava antes de tudo isso. Eu fiquei sentada no bar, tomando vinho, sem ânimo nenhum para fazer o que eu deveria fazer. Alguns homens haviam me abordado, e eu gentilmente, tinha recusado a todos. Eu não queria mais fazer aquilo, não depois de ter provado uma vida diferente..., mas eu não tinha escolha. Ou era aquilo, ou morrer de fome.

Algum tempo depois, uma das responsáveis pelo bordel chega perto de mim, e fala no meu ouvido:

- Siga para o quarto 6. Um homem exigiu sua presença lá, e pagou o triplo do seu preço pela noite toda.

- O quê?! O triplo?!

- Vamos, garota! Não o deixe esperando depois de pagar tão caro!!

Ela me empurra para que eu caminhe rápido, e eu sigo para o quarto indicado. No caminho, eu ajeito um pouco minhas roupas, passo a mão no meu cabelo, e respiro fundo ao chegar em frente à porta. eu abro um sorriso forçado, e giro a maçaneta, abrindo a porta. e o que meus olhos veem ao abrir a porta, faz meu coração parar.

Erwin estava de terno preto perfeitamente alinhado, em pé de frente para a janela. Quando ele escuta o barulho da porta abrindo, ele se vira para mim, e quando meus olhos confirmam que era ele, eu fico completamente paralisada. No seu tom de fala de sempre, ele diz:



- Eu quero conversar com você.

Contrato - Erwin SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora