Nada existe, que saibamos, nos arquivos do conhecimento humano, que nos
dê, desse fato remotíssimo e de tão visceral interesse, a saber: o da miscigenação de
raças pertencentes a orbes siderais diferentes, revelação tão clara e transcendente
como essa que nos vem pelos emissários da Doutrina Espírita, tanto como consta, em seus primeiros anúncios, da Codificação Kardeciana e das comunicações
subseqüentes de espíritos autorizados, como agora desta narrativa impressionante de
Emmanuel, que estamos a cada passo citando. Realmente, perlustrando os anais da História, das Ciências, das Religiões e
das Filosofias, vemolas inçadas de relatos, enunciados e afirmativas emitidos por
indivíduos inspirados que impulsionaram, impeliram o pensamento humano, desde
os albores do tempo e em todas as partes do mundo; conceitos, concepções que
representam um colossal acervo de conhecimentos de toda espécie e natureza. Mas em nenhum desses textos a cortina foi jamais levantada tão alto para
deixar ver como esta humanidade se formou, no nascedouro, segundo as linhas
espirituais da questão; o espírito humano, por isso mesmo, e por força dessa
ignorância primária, foise deixando desviar por alegorias, absorver e fascinar por
dogmas inaceitáveis, teorias e idealizações de toda sorte, muitas realmente não
passando de fantasias extravagantes ou elocubrações cerebrais alucinadas. Todavia, neste particular que nos interessa agora, nem tudo se perdeu da
realidade e, buscandose no fundo da trama, muitas vezes inextricável e quase
sempre alegórica dessas tradições milenárias, descobremse aqui e ali filões
reveladores das mais puras gemas que demonstram, não só a autenticidade como,
também, a exatidão dos detalhes desses empolgantes acontecimentos históricos, que
estão sendo trazidos a lume pelos mensageiros do Senhor, nos dias que correm. Assim, compulsandose a tradição religiosa dos hebreus, verificase que o
livro apócrifo de Henoch diz, em certo trecho, cap. 6:21:
Houve anjos, chamados Veladores, que se deixaram cair do céu para
amar as Filhas da Terra. E quando os anjos — os Filhos do Céu — as viram, por elas se
apaixonaram e disseram entre si: vamos escolher esposas da raça dos homens e procriemos filhos. Então seu chefe Samyaza lhes disse: Talvez não tenhais coragem para efetivar esta resolução e eu ficarei sozinho responsável pela vossa queda.
Mas eles lhe responderam: “Juramos de não nos arrepender e de levar a
efeito a nossa intenção.” E foram duzentos deles que desceram sobre a Montanha de Harmon. A
partir de então, esta montanha foi denominada Harmon, que quer dizer “montanha do juramento”. Desses consórcios nasceram gigantes que oprimiram os homens. Eis os nomes dos chefes desses anjos que desceram: Samyaza, que era o primeiro de todos, Urakbarameel, Azibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Amarazac, Azkeel, Saraknial, Azael, Armers, Batraal, Aname, Zaveleel, Samsaveel, Ertrael, Turel, Jomiael e Arasial. Eles tomaram esposas com as quais viveram, ensinandolhes a magia, os encantamentos e a divisão das raízes e das árvores. Amarazac ensinou todos os segredos dos encantamentos, Batraal foi o mestre dos que observam os astros, Azkeel revelou os signos e Azael revelou os movimentos da Lua.
Este livro de Henoch, anterior aos de Moisés é também muito citado pelos
exegetas da antigüidade e pelo apóstolo Judas Tadeu em sua epístola, vers.1, e dá, pois, testemunho deste acontecimento. Henoch, no velho hebraico, significa iniciado.13
Falam dele Orígenes, Procópio, Tertuliano, Lactâncio, Justino, Irineu de
Lião, Clemente de Alexandria e outros santos católicos. Os maniqueus o citavam a miúdo e Euzébio diz em sua obra intitulada: Pr epar ação do cristão no espírito do Evangelho que Moisés, no Egito, aprendeu
com esse livro de Henoch. No século XVII o explorador escocês Jaime Bruce (17301794) descobriu
um exemplar dele na Abissínia, mais tarde traduzido para o inglês pelo arcebispo
Lawrence. Os etíopes — que são os medianitas da Bíblia — também dizem que
Moisés abeberouse nesse livro, que lhe fora ofertado por seu sogro, o sacerdote
Jetro, e que dele se valeu para escrever a Gênese.
*
“OS JUBILEUS”, outro livro muito antigo dos hebreus, acrescenta que os “Veladores” vieram à Terra para ensinar aos homens a vida perfeita, mas acabaram
seduzidos pelas mulheres encarnadas. Este livro, também conhecido como “A PEQUENA BÍBLIA”, é
considerado ainda mais antigo que o próprio Velho Testamento. Na mesma tradição dos hebreus vemos que Moisés — o filho de Thermutis
e sacerdote do templo de Memphis —; que veio à Terra com a missão de fundar com
esse povo escravo, após sua libertação, a religião monoteísta e a nação de Israel, para que, no seu seio (único então considerado preferível) descesse mais tarde ao
planeta o Messias Redentor, Moisés também se referiu ao transcendente fato e o
13 A tradição diz que escreveu uma cosmogonia conhecida como “LIVRO DE HENOCH” e acrescenta
que era tão puro que Deus o fez subir aos céus com vida.
consignou na sua Gênese para que à posteridade fosse assegurado mais este
testemunho de sua autenticidade. Realmente, velado embora pela cortina da alegoria, lá está o acontecimento
descrito, na primeira parte da narrativa, quando o profeta conta a criação do primeiro
homem, sua queda e ulterior expulsão do paraíso do Éden; esse mesmo empolgante
sucesso histórico, Emmanuel agora nos relata, quatro milênios após, de forma
objetiva e quase minudente, conquanto cingindose unicamente ao aspecto espiritual
do problema. Pois ele mesmo adverte, referindose às finalidades de sua já citada obra:
Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está
compilada e feita. Nossa contribuição será a tese religiosa elucidando a influência sagrada da fé e o ascendente espiritual no curso de todas as civilizações terrestres. No capítulo em que descreve os antepassados do homem e, pondo em
evidência a significação simplesmente simbólica, mas autêntica, dos textos bíblicos, ele pergunta:
Onde está Adão, com a sua queda do paraíso?
Debalde nossos olhos procuram, aflitos, essas figuras legendárias com o propósito de localizálas no espaço e no tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva constituem uma lembrança dos espíritos degredados na paisagem obscura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das criaturas.
Sim; realmente, Adão representa a queda dos espíritos capelinos neste
mundo de expiação que é a Terra, onde o esforço verte lágrimas e sangue, como
também no sagrado texto está predito:
Maldita é a Terra por causa de ti — disse o Senhor; com dor comerás dela todos os dias de tua vida... No suor do teu rosto, comerás o seu pão até que te
tornes à Terra.
Referese o texto aos capelinos, às sucessivas reencarnações que sofriam
para resgate de suas culpas. Se é verdade que os Filhos da Terra, no esforço de sua própria evolução,
teriam de passar dificuldades e padecimentos, próprios dos passos iniciais do
aprendizado moral, dúvidas também não restam de que a Terra, de alguma forma,
foi maleficiada com a descida dos degredados, que para aqui trouxeram novos e
mais pesados compromissos a resgatar e nos quais seriam envolvidos também os
habitantes primitivos. Compreendemos, pois, pelos textos citados, que as gerações de Adão
formam as chamadas raças adâmicas (vindas da Capela), designação que o
Esoterismo dá, segundo seus pontos de vista, aos espíritos que formaram a Primeira
RaçaMãe, na fase em que, não possuindo corpo, forma e vida, não podiam encarnar
na crosta planetária, o que é muito diferente.
O Esoterismo adota esta suposição para poder explicar a vida da mônada
espiritual na sua fase involutiva. Mas, como temos explicado, para nós essa fase
cessa no reino mineral e, a partir daí, a mônada começa a sua evolução, não no astral
terreno, mas adstrita ou integrada, mais ou menos nos reinos inferiores: mineral, vegetal e animal. Somente após terminar suas experiências neste último reino (animal),
penetra a mônada no estágio preparatório do astral terreno, em trânsito para suas
primeiras etapas no reino humanal. Qualquer destas fases dura milênios.
*
Mas, retomando a narrativa e no entendimento iniciático, diremos que Caim
e Abel — os dois primeiros filhos — são unicamente símbolos das tendências do
caráter dessas legiões de emigrados, formadas, em parte, por espíritos rebeldes, violentos e orgulhosos e, em parte, por outros — ainda que criminosos — porém já
mais pacificados, conformados e submissos à vontade do Senhor.
*
A corrente caínica — mais numerosa — foi a que primeiro se encarnou,
como já vimos, entre os povos da Terceira Raça; que mais depressa e mais
facilmente afinizouse com os Filhos da Terra — os habitantes primitivos — vindo a
formar sem contestação a massa predominante dos habitantes do planeta, naquela
época, e cujo caráter, dominador e violento, predomina até nossos dias, em muitos
povos. Como conta Moisés:
...e saiu Caim da face do Senhor e habitou na terra de Nod, da banda do
Oriente do Éden. E conheceu Caim a sua mulher e ela concebeu e gerou Henoch; e ele edificou uma cidade...
É fácil de ver que se Caim e Abel realmente tivessem existido como filhos
primeiros do primeiro casal humano, não teria Caim encontrado mulher para com
ela se casar, porque a Terra seria, então, desabitada. É, pois, evidente que os
capelinos, ao chegar, já encontraram o mundo habitado por outros homens. O texto significa que as primeiras legiões de exilados, saindo da presença
do Senhor, em Capela, vieram à Terra encarnandose primeiramente no Oriente
(mesclandose com as mulheres dos povos aí existentes), gerando descendentes e
edificando cidades. E dizendo: “da banda do oriente do Éden”, confirma o conceito, porque é
suposição corrente que o Éden da Bíblia — se bem que alegórico — referiase a uma
região situada na Ásia Menor, e o Oriente dessa região justamente fica para os lados
da Lemúria e Ásia, onde habitavam os Rutas da Terceira Raça. E quanto aos exilados da corrente abélica, diz a Gênese na força do seu
símbolo — que eles foram suprimidos logo no princípio — o que deixa entender que
sua permanência na Terra foi curta.
Prosseguindo na enumeração das tradições referentes à descida dos exilados
da Capela, verificamos que os babilônios antigos, conforme inscrições cuneiformes
descobertas pela ciência em escavações situadas em Kuniunik, povoação da antiga
Caldéia, somente reconheciam, como tendo existido à época do dilúvio, duas raças
de homens, sendo uma, de pele escura que denominavam os “Adamis negros” e
outra, de pele clara, que denominavam os “Sarkus”, ambas tendo por antepassados uma r aça de deuses que descer am à Terr a, obedecendo a sete chefes, cada um dos
quais orientava e conduzia uma massa de homens. Acrescentavam essas inscrições que esses seres eram considerados “prisioneiros da carne”, “deuses encarnados”; e terminavam afirmando que foi assim
que se formaram as sete raças adâmicas primitivas.
*
Na tradição dos hindus, na parte revelada ao Ocidente por M. P Blawatski,
lêse que:
Pelo meio da evolução da Terceira RaçaMãe, chamada a raça
lemuriana, vieram à Terra seres pertencentes a uma outra cadeia planetária, muito mais avançada em sua evolução. Esses membros de uma comunidade altamente evoluída, seres gloriosos aos quais seu aspecto brilhante valeu o título de “Filhos do Fogo”, constituem uma ordem sublime entre os filhos de Manas. Eles tomaram sua habitação sobre a Terra como instrutores divinos da
jovem humanidade.
*
E as mitologias?
E as lendas da préhistória?
Não se referem elas a uma Idade de Ouro, que a humanidade viveu, nos
seus primeiros tempos, em plena felicidade?
E a deuses, semideuses e heróis dessa época, que realizaram grandes feitos
e em seguida desapareceram?
Ora, como sabemos que a vida dos primeiros homens foi cheia de
desconforto, temor e miséria, bem se pode, então, compreender que essa Idade de
Ouro foi vivida fora da Terra por uma humanidade mais feliz; e que não passa de
uma reminiscência que os Exilados conservaram da vida espiritual superior que
viveram no paraíso da Capela. Os deuses, semideuses e heróis dessa época, que realizaram grandes feitos e
em seguida desapareceram, permanecendo unicamente como uma lenda mitológica, quem são eles senão os próprios capelinos das primeiras encarnações que, como já
vimos, em relação aos homens primitivos, rústicos e animalizados, podiam ser
realmente considerados seres sobrenaturais?
E os heróis antigos que se revoltaram contra Zeus (o deus grego), para se
apoderarem do céu, e foram arrojados ao Tártaro, não serão os mesmos espíritos
refugados da Capela que lá no seu mundo se rebelaram e que, por isso, foram
projetados na Terra?
Os heróis antigos, que se tornavam imortais e semideuses, não eram sempre
filhos de deuses mitológicos e de mulheres encarnadas? Pois esses deuses são os
capelinos que se ligaram às mulheres da Terra. Plutarco escreveu: “que os heróis podiam subir, aperfeiçoandose, ao grau
de demônios (daemon, gênios, espíritos protetores) e até ao de deuses (espíritos
superiores).” O oráculo de Delfus, na Grécia, a miúdo, anunciava essas ascensões
espirituais dos heróis gregos. Isso não deixa patente o conhecimento que tinham os
antigos sobre as reencarnações, a evolução dos espíritos e o intercâmbio entre os
mundos?
*
Uma lenda dos índios Pahute, da América do Norte, conta que o deus
Himano disputou com outro e foi expulso do céu, tornandose um gênio do Mal. Lendas mexicanas falam de um deus — SOOTA — que se rebelou contra o
Ente Supremo e foi arrojado à Terra; como também de gênios gigantescos — os
KINANUS — que tentaram apoderarse do Universo e foram eliminados. Finalmente, uma lenda asteca conta que houve um tempo em que os deuses
andavam pela Terra; que esta era, nessa época, um magnífico horto, pleno de flores e
frutos... Tudo isso, porventura, não são alusões evidentes e claras à descida dos
capelinos e suas encarnações na Terra?
*
Como bem se pode, então, ver, as tradições orientais e de outros povos
antigos, inclusive dos hebreus, guardam notícias dos acontecimentos que estamos
narrando e, em várias outras fontes do pensamento religioso dos antigos, poderíamos
buscar novas confirmações, se não devêssemos, como é de nosso intento, nos
restringir às de origem espírita, por serem as mais simples e acessíveis à massa
comum dos leitores; e, também, porque este nosso trabalho não deve ter aspecto de
obra de erudição, enredandose em complexidades e mistérios de caráter religioso ou
filosófico, mas, simplesmente, de crença em revelações espirituais, provindas de
Espíritos autorizados, responsáveis pelo esclarecimento das mentes humanas neste
século de libertação espiritual. Como remate destas tradições, citamos agora a obra de Hilarion do Monte
Nebo, membro categorizado da Fraternidade Essênia, contemporâneo e amigo de
Jesus, investigador da préhistória, com revelações conhecidas por Moisés
anteriormente, segundo as quais sobreviventes do segundo afundamento da
Atlântida aportaram à costa do Mediterrâneo, a nordeste, nas faldas de uma cordilheira, onde formaram um pequeno aglomerado de colonização, no qual nasceu
uma criança a que deram o nome de Abel. Aquela região pertencia ao reino de Ethêa, futura Fenícia, governada pela
Confederação Kobda, fraternidade de orientação sócioespiritualista, que exercia
incontestada hegemonia sobre grande parte do mundo então conhecido, e cuja sede
fora transferida de Nhengadá, no Delta do Nilo, para um ponto entre os rios Eufrates
e Tigre, na Mesopotâmia, e cujo nome era La Paz. Transferido para La Paz, o jovem assimilou os conhecimentos científicos e
religiosos da época, destacandose pelas excepcionais virtudes morais e inteligência
que possuía, as quais lhe permitiram ascender à direção geral dessa Fraternidade, prestando relevantes serviços e sacrificandose, por fim, em beneficio da paz dos
povos que governava, ameaçada por um pretendente rebelde de nome Caino. Abel, pelas suas virtudes e seu sacrifício, foi considerado um verdadeiro
missionário divino, o 6º da série, entre Krishna, o 5º, e Moisés, o 7º, antecessores de
Buda e de Jesus. Seja como for, qualquer das tradições aqui citadas indica o encadeamento
natural e lógico dos fatos e das civilizações seqüentes e desfaz o Mito de Adão, primeiro homem, do qual Deus retirou uma costela para lhe dar uma companheira, quando a própria Bíblia relata que nesse tempo havia outras mulheres no mundo, com uma das quais, aliás, o próprio Caim fugiu para se casar... Moisés, que conhecia a verdade, estabeleceu esse mito devido a ignorância
e a imaturidade espiritual do povo que salvara da escravidão no Egito, com o qual
deveria formar uma nação monoteísta. São também absurdas e inaceitáveis as referências bíblicas sobre um
Moisés sanguinário e contraditório, versão esta que, como se pode facilmente
perceber, convinha à dominação religiosa do povo hebreu pelo clero do seu tempo. Essa Fraternidade Kobda, formou uma civilização avançada, do ponto de
vista espiritual, mas, com a morte de Abel, degenerou na instituição dos faraós
arquipoderosos do Egito, dominadores e déspotas, que a seu tempo também
degeneraram. O mesmo ocorreu com os Flâmines, na índia, sacerdotes de Krishna; com a
morte deste missionário, continuaram a influir no meio ambiente, mas, degenerando
no sentido religioso, concorreram a formar o regime de castas e poderes fracionados
que até hoje existem. É regra já firmada pela experiência que, após realizar a finalidade espiritual
a que se propuseram, as organizações iniciáticas redentoras deveriam encerrar suas
atividades, como fizeram os Essênios na Palestina, após a morte de Jesus; não
deveriam fundirse com a sociedade que decorrer de suas atividades missionárias, porque não poderão conservar sua pureza e elevada condição. Para se perpetuarem, teriam de aliarse à nova ordem de coisas quase
sempre com base na força, passando por cima das leis espirituais do amor universal
que vieram estabelecer na Terra.
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OS EXILADOS DA CAPELA
SpiritualOs Exilados da Capela é uma das obras de Edgard Armond que trata de forma abrangente a evolução espiritual da humanidade terrestre segundo tradições proféticas e religiosas, apoiadas em considerações de natureza histórica e científica. Além d...