VI A TERCEIRA RAÇA­MÃE

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Estava­se no período em que a ciência oficial denomina — Era da Pedra
Lascada — em que o engenho humano, para seu uso e defesa, se utilizava do sílex,
como arma primitiva e tosca. Nessa época, em pleno quaternário, por efeito de causas pouco conhecidas, ocorreu  um resfriamento súbito da atmosfera, formando­se geleiras, que cobriam
toda a Terra. O homem, que mal ainda se adaptava ao ambiente planetário, temeroso e
hostil, teve então seus sofrimentos agravados com a necessidade vital de defender­se
do frio intenso que então sobreveio, cobrindo­se de peles de animais subjugados em
lutas temerárias e desiguais, em que lançava mão de armas rudimentares e
insuficientes contra feras e monstros terríveis que o rodeavam por toda parte. Foi então que o seu instinto e as inspirações dos Assistentes Invisíveis o 
levaram à descoberta providencial do fogo, o novo e precioso elemento de vida e
defesa, que abriu à humanidade torturada de então novos recursos de sobrevivência e
de conforto. Entretanto, tempos mais tarde, as alternativas da evolução física do globo 
determinaram acentuado aquecimento geral, que provocou súbito degelo e terríveis
inundações, fenômeno esse que, na tradição pré­histórica, ficou conhecido como —  o dilúvio universal, — atribuído a um desvio do eixo do globo que se obliquou e
provocado pela aproximação de um astro, que determinou também alterações na sua
órbita, que se tornou, então, mais fechada.

Mas o tempo transcorreu em sua inexorável marcha e o homem, a poder de
sofrimentos indizíveis e penosíssimas experiências de toda a sorte, conseguiu 
superar as dificuldades dessa época tormentosa. Acentuou­se, em conseqüência, o progresso da vida humana no orbe, surgindo as primeiras tribos de gerações mais aperfeiçoadas, que formaram a
humanidade da Terceira Raça­Mãe, composta de homens de porte agigantado, cabeça mais bem conformada e mais ereta, braços mais curtos e pernas mais longas, que caminhavam com mais aprumo e segurança, em cujos olhos se vislumbravam
mais acentuados lampejos de entendimento. Nasceram principalmente na Lemúria e na Ásia e suas características
etnográficas, mormente no que respeita à cor da pele, cabelos e feições do rosto,variavam muito, segundo a alimentação, os costumes, e o ambiente físico das
regiões em que habitavam. Eram nômades; mantinham­se em lutas constantes entre si e mais que
nunca predominavam entre eles a força e a violência, a lei do mais forte
prevalecendo para a solução de todos os casos, problemas ou divergências que entre
eles surgissem. Todavia, formavam já sociedades mais estáveis e numerosas, do ponto de
vista tribal, sobre as quais dominavam, sob o caráter de chefes ou patriarcas, aqueles
que fisicamente houvessem conseguido vencer todas as resistências e afastar toda a
concorrência. Do ponto de vista espiritual ou  religioso essas tribos eram ainda
absolutamente ignorantes e já de alguma forma fetichistas, pois adoravam, por temor 
ou superstição  instintiva, fenômenos que não compreendiam e imagens grotescas
representativas tanto de suas próprias paixões e impulsos nativos, como de forças
maléficas ou benéficas que ao seu redor se manifestavam perturbadoramente. Da mesma comunicação de João Evangelista, a que já nos referimos,
transcrevemos aqui mais os seguintes e evocativos períodos:
Depois  do  primeiro  dia da humanidade, o  corpo  do  homem aparece  menos feio, menos repugnante à contemplação de minha alma. Sua fronte começa a debuxar­se na parte superior do rosto, quando  o  vento açoita e levanta as ásperas melenas que a cobrem. Os seus olhos são mais vivos e transparentes; o seu nariz é mais afilado e 
levantado e a sua boca é menos proeminente. Seus  braços são  menos  longos  e esquálidos, suas  carnes  menos secas, suas mãos menos volumosas e com dedos mais prolongados; os ossos do esqueleto  mais  arredondados, mais bem dispostos  aos movimentos  das  articulações; maior elasticidade  existe nos  músculos  e mais  transparência na pele que cobre todo  o  corpo. No  seu  olhar se reflete o  primeiro  raio  de luz intelectual, como  um
primeiro despertar do seu espírito adormecido. No seu caminhar, já menos lerdo e vacilante, adivinha­se a ação inicial
da vontade, o princípio das manifestações espontâneas. Procura a mulher e não mais a abandona; assiste­lhe no nascimento dos 
filhos, com quem reparte o calor e o alimento. O sentimento começa a despertar­lhe.

A humanidade, nessa ocasião, estava então num ponto em que uma ajuda
exterior  era necessária e urgente, não só para consolidar  os poucos e laboriosos
passos já palmilhados como, principalmente, para dar­lhe diretrizes mais seguras e
mais amplas no sentido evolutivo. Em nenhuma época da vida humana tem­lhe faltado o auxílio do Alto que, quase sempre, se realiza pela descida de Emissários autorizados. O problema da
Terra, porém, naqueles tempos, exigia para sua solução, medidas mais amplas e
mais completas que, aliás, não tardaram a ser tomadas pelas entidades espirituais
responsáveis pelo progresso planetário, como veremos em seguida.

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