VIII A SENTENÇA DIVINA

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Ia em meio o ciclo evolutivo da Terceira Raça
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, cujo  núcleo mais
importante e numeroso se situava na Lemúria, quando, nas esferas espirituais, foi
considerada a situação da Terra e resolvida a imigração para ela de populações de
outros orbes mais adiantados, para que o homem planetário pudesse receber um
poderoso estímulo e uma ajuda direta na sua árdua luta pela conquista da própria
espiritualidade. A escolha, como já dissemos, recaiu nos habitantes da Capela. Eis como Emmanuel, o espírito de superior hierarquia, tão estreitamente
vinculado, agora, ao movimento espiritual da Pátria do Evangelho, inicia a narrativa
desse impressionante acontecimento:
Há muitos  milênios, um dos  orbes  do  Cocheiro, que guarda muitas  afinidades  com o  globo  terrestre, atingira a culminância de um dos  seus  extraordinários ciclos evolutivos... Alguns milhões de espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução  geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de 
piedade e de virtudes...
E, após outras considerações, acrescenta:
As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então, localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua. Dá­nos, pois, assim, Emmanuel, com estas revelações de tão singular 
natureza, as premissas preciosas de conhecimentos espirituais transcendentes,
relativos à vida planetária — conhecimentos estes já de alguma forma focalizados
pelo Codificador 10 —  que abrem perspectivas novas e muito dilatadas à
compreensão de acontecimentos históricos que, de outra forma — como, aliás, com
muitos outros tem sucedido —  permaneceriam na obscuridade ou, na melhor das
hipóteses, não passariam de lendas. Aliás, essa permuta de populações entre orbes afins de um mesmo sistema
sideral, e mesmo de sistemas diferentes, ocorre periodicamente, sucedendo sempre a
expurgos de caráter seletivo, como também é fenômeno que se enquadra nas leis
9 Esses ciclos são muito longos no tempo, pois incluem a evolução milenar de todas as respectivas sub­ 
raças.  10 “A GÊNESE”, Allan Kardec, cap. XI.
gerais da justiça e da sabedoria divinas, porque vem permitir reajustamentos
oportunos, retomadas de equilíbrio, harmonia e continuidade de avanços evolutivos
para as comunidades de espíritos habitantes dos diferentes mundos. Por outro lado, é a misericórdia divina que se manifesta, possibilitando a
reciprocidade do auxílio, a permuta de ajuda e de conforto, o exercício, enfim, da
fraternidade para todos os seres da criação. Os escolhidos, neste caso, foram os habitantes da Capela que, como já foi
dito, deviam dali ser expurgados por terem se tornado incompatíveis com os altos
padrões de vida moral já atingidos pela evoluída humanidade daquele orbe.

Resolvida, pois, a transferência, os milhares de espíritos atingidos pela
irrecorrível decisão foram notificados do seu novo destino e da necessidade de sua
reencarnação em planeta inferior.
Reunidos no plano etéreo daquele orbe, foram postos na presença do 
Divino Mestre para receberem o estímulo da Esperança e a palavra da Promessa, que
lhes serviriam de consolação e de amparo nas trevas dos sofrimentos físicos e
morais, que lhes estavam reservados por séculos. Grandioso e comovedor foi, então, o espetáculo daquelas turbas de
condenados, que colhiam os frutos dolorosos de seus desvarios, segundo a lei
imutável da eterna justiça. Eis como Emmanuel, no seu estilo severo e eloqüente, descreve a cena:
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino  de amor e de  justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia compassiva exortou  aquelas almas  desventuradas  à edificação  da consciência pelo  cumprimento  dos  deveres  de 
solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostrou­lhes  os  campos  de lutas  que se desdobravam na Terra, envolvendo­as no halo bendito de sua misericórdia e de sua caridade sem limites. Abençoou­lhes as lágrimas santificadoras, fazendo­lhes sentir os sagrados triunfos  do futuro e prometendo­lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir. Aqueles  seres  desolados  e aflitos, que deixavam atrás  de si todo  um
mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura, reencarnar­se­iam no seio das raças 
ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam
na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.

E assim a decisão irrevogável se cumpriu e os exilados, fechados seus olhos
para os esplendores da vida feliz no  seu  mundo, foram arrojados na queda
tormentosa, para de novo somente abri­los nas sombras escuras, de sofrimento e de
morte, do novo hábitat planetário.
Foram as cortes de Lúcifer que, avassaladas pelo orgulho e pela maldade, se precipitaram dos céus à terra, que daí por diante passou  a ser­lhes a morada
purgatorial por tempo indefinido. E após a queda, conduzidos por entidades amorosas, auxiliares do Divino 
Pastor, foram os degredados reunidos no etéreo terrestre e agasalhados em uma
colônia espiritual, acima da crosta, onde, durante algum tempo, permaneceriam em
trabalhos de preparação e de adaptação para a futura vida a iniciar­se no novo 
ambiente planetário 
11
.
11 Não confundir  esse estágio pré­encarnativo dos  capelinos com o período astral, preparatório,  dos  espíritos formadores da primeira Raça­Mãe,  que a Teosofia, (para nós,  erroneamente) denominara raça
adâmica.

OS EXILADOS DA CAPELAOnde histórias criam vida. Descubra agora