Ia em meio o ciclo evolutivo da Terceira Raça
9
, cujo núcleo mais
importante e numeroso se situava na Lemúria, quando, nas esferas espirituais, foi
considerada a situação da Terra e resolvida a imigração para ela de populações de
outros orbes mais adiantados, para que o homem planetário pudesse receber um
poderoso estímulo e uma ajuda direta na sua árdua luta pela conquista da própria
espiritualidade. A escolha, como já dissemos, recaiu nos habitantes da Capela. Eis como Emmanuel, o espírito de superior hierarquia, tão estreitamente
vinculado, agora, ao movimento espiritual da Pátria do Evangelho, inicia a narrativa
desse impressionante acontecimento:
Há muitos milênios, um dos orbes do Cocheiro, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos... Alguns milhões de espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de
piedade e de virtudes...
E, após outras considerações, acrescenta:
As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então, localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua. Dános, pois, assim, Emmanuel, com estas revelações de tão singular
natureza, as premissas preciosas de conhecimentos espirituais transcendentes,
relativos à vida planetária — conhecimentos estes já de alguma forma focalizados
pelo Codificador 10 — que abrem perspectivas novas e muito dilatadas à
compreensão de acontecimentos históricos que, de outra forma — como, aliás, com
muitos outros tem sucedido — permaneceriam na obscuridade ou, na melhor das
hipóteses, não passariam de lendas. Aliás, essa permuta de populações entre orbes afins de um mesmo sistema
sideral, e mesmo de sistemas diferentes, ocorre periodicamente, sucedendo sempre a
expurgos de caráter seletivo, como também é fenômeno que se enquadra nas leis
9 Esses ciclos são muito longos no tempo, pois incluem a evolução milenar de todas as respectivas sub
raças. 10 “A GÊNESE”, Allan Kardec, cap. XI.
gerais da justiça e da sabedoria divinas, porque vem permitir reajustamentos
oportunos, retomadas de equilíbrio, harmonia e continuidade de avanços evolutivos
para as comunidades de espíritos habitantes dos diferentes mundos. Por outro lado, é a misericórdia divina que se manifesta, possibilitando a
reciprocidade do auxílio, a permuta de ajuda e de conforto, o exercício, enfim, da
fraternidade para todos os seres da criação. Os escolhidos, neste caso, foram os habitantes da Capela que, como já foi
dito, deviam dali ser expurgados por terem se tornado incompatíveis com os altos
padrões de vida moral já atingidos pela evoluída humanidade daquele orbe.
*
Resolvida, pois, a transferência, os milhares de espíritos atingidos pela
irrecorrível decisão foram notificados do seu novo destino e da necessidade de sua
reencarnação em planeta inferior.
Reunidos no plano etéreo daquele orbe, foram postos na presença do
Divino Mestre para receberem o estímulo da Esperança e a palavra da Promessa, que
lhes serviriam de consolação e de amparo nas trevas dos sofrimentos físicos e
morais, que lhes estavam reservados por séculos. Grandioso e comovedor foi, então, o espetáculo daquelas turbas de
condenados, que colhiam os frutos dolorosos de seus desvarios, segundo a lei
imutável da eterna justiça. Eis como Emmanuel, no seu estilo severo e eloqüente, descreve a cena:
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia compassiva exortou aquelas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres de
solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostroulhes os campos de lutas que se desdobravam na Terra, envolvendoas no halo bendito de sua misericórdia e de sua caridade sem limites. Abençooulhes as lágrimas santificadoras, fazendolhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendolhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir. Aqueles seres desolados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um
mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura, reencarnarseiam no seio das raças
ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam
na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia.
*
E assim a decisão irrevogável se cumpriu e os exilados, fechados seus olhos
para os esplendores da vida feliz no seu mundo, foram arrojados na queda
tormentosa, para de novo somente abrilos nas sombras escuras, de sofrimento e de
morte, do novo hábitat planetário.
Foram as cortes de Lúcifer que, avassaladas pelo orgulho e pela maldade, se precipitaram dos céus à terra, que daí por diante passou a serlhes a morada
purgatorial por tempo indefinido. E após a queda, conduzidos por entidades amorosas, auxiliares do Divino
Pastor, foram os degredados reunidos no etéreo terrestre e agasalhados em uma
colônia espiritual, acima da crosta, onde, durante algum tempo, permaneceriam em
trabalhos de preparação e de adaptação para a futura vida a iniciarse no novo
ambiente planetário
11
.
11 Não confundir esse estágio préencarnativo dos capelinos com o período astral, preparatório, dos espíritos formadores da primeira RaçaMãe, que a Teosofia, (para nós, erroneamente) denominara raça
adâmica.

VOCÊ ESTÁ LENDO
OS EXILADOS DA CAPELA
SpiritualitéOs Exilados da Capela é uma das obras de Edgard Armond que trata de forma abrangente a evolução espiritual da humanidade terrestre segundo tradições proféticas e religiosas, apoiadas em considerações de natureza histórica e científica. Além d...