Luc me acordou me jogando para fora da cama. Era a mesma coisa todo dia, ele me acordava, ia tomar banho, na esperança de eu já estar me arrumando, terminavamos de nos vestir e iamos juntos para a escola. Voltei para a minha cama, ela estava tão quentinha que adormeci novamente. Um corpo molhado pulou no meu colchão e começou a me puxar.
- Sai daqui viado - falei o empurrando da cama - vai molhar tudo!!
- Primeiro o gay do quarto não sou eu - disse rindo - segundo, depois de ontem que você tomou banho, mal se secou e pulou aqui... Não, ela não vai molhar mais.
- Engraçadinho - ri ironizando sua frase - sai daqui e se seca direito ou vai pegar um resfriado.
- Sim, senhor Paládio, para que se preocupar tanto comigo, não sou mais um dos seus animais que te segue onde quer que você vá? - perguntou já se virando sem toalha e, surpreendente, sem cueca também.
- Por isso mesmo me obedeça - que pedaço de mal caminho estava a minha frente.
Olhei para o espelho para contemplar mais àquela escultura grega a minha frente, mas ele estava olhando para o mesmo. Desviei a cara fingindo procurar a minha roupa, porém podia jurar ter visto um sorriso em seu rosto. Achei meu uniforme e o vesti certo, pela primeira vez em toda a minha vida escolar no Terceiro ano eu estava como um aluno comportado. Parei em frente ao espelho, agora com Luc já totalmente vestido e pegando algumas coisas no armário, e me arrependi de ter me vestido daquele jeito.
Lembrança do passado me atormentaram, tudo que já passei, as pessoas que me humilharam, tudo. Baguncei meu cabelo, afrouxei o máximo que tava da gravata, abri dois botões da minha camisa e vi Leo Paládio novamente. E não o Leandro, que todos desprezavam, agora eu estava por cima, eu era o popular da história. Somente eu. Minha cara estava assustadora, amenizei um pouco a expressão, mas continuei com o semblante sério.
- Prefiro você do outro jeito - Luciano murmurou já esperando uma péssima resposta.
- Mas os outros não - respondi frio - vamos antes que cheguemos atrasados na escola.
Seguimos o caminho quietos, não gostava de falar de antes, do que eu era antes de me tornar quem sou. Eu sou o Leo Pd, o garoto que não tem medo, durão, o badboy pegador, um galã conquistador. Este sou eu e não aquele Leandro de antes. As aulas foram tediantes, fui com Luc para a natação, único esporte que eu ainda praticava, contudo como diversão. Thiago estava lá também, misterioso e simpático, o ruivo era um ótimo amigo, porém sabia pouco dele, sempre alegre perto de nós, amava doces. Ele não sabia bem quem eu era, mas isso não importava conviviamos pacificamente sem saber tudo um do outro.
Thiago estava em um estado totalmente elevado de devaneio, era a pessoa mais distraída do local. Quando nós perguntávamos o que ele tanto pensava ele apenas nos encarava e mudava de assunto. E eu me perdia um pouco em seus olhos azuis contrastantes com seu cabelo cor de fogo. Os dois tipos de cores, quente e frias em uma pessoa só, sim eu também viajava naquele dia. E para melhorar ainda mais eu tinha que pensar na data que teria aulas extras com o senhor Yew.
Mas qual era o seu nome mesmo? Mickey não era, alguma coisa parecida... Michel, não... Começa com M, ou não? Bem eu esquecera novamente o nome do meu professorzinho de química, pelo menos o sobrenome é certeza.
Durante as aulas Luc me disse que começaram a comentar sobre mim, se eu tinha alguma namorada ou algo do tipo. Eu estava sempre sozinho, e para alguém como eu é bem complicado um gato estar sem uma garota. Mais um problema para mim, arranjar uma namorada de fachada, não queria ficar com ninguém deste gênero. Não gostava nem de "divas" por isso do pegar e não voltar, ser descoberto não era uma boa opção.
Filho de um homofóbico, sobrinho de um intolerante de ter um na família. O discurso de sempre, não tenho nada contra os gays, mas desde que meus parentes não sejam, pois eles são informados, pessoas direitas... Resumindo gay só é aceito se eu não tiver contato. Assim ninguém podia saber sobre minha sexualidade, pois boatos se espalham e verdades aumentam. Resolvi ignorar isso por ora, não me preocuparia com meros detalhes logo alguém me daria mole e achar uma desculpa para o término seria fácil.
- Foi tão bom assim para você ficar pensando e me ignorar? - Luc perguntou perigosamente perto do meu rosto.
- O que que foi bom? - perguntei o afastando um pouco, ele é meu amigo, meu melhor amigo, calma.
- Ontem a noite com o Juan - falou com um meio sorriso - vai me dizer que apaixonou...
- Ah! É sobre isso? - debochei da hipótese - Não, infelizmente não foi desta vez que você vai me ver sonhando acordado por alguém - pensei ter visto um sorrio nascer, mas logo sumiu e foi substituído por uma cara fechada.
- Essa foi boa, mas então o que vai fazer agora? - perguntou entendiado.
- O que sempre faço, Luc - respondi sem muito animo - finji que me machuco, alguém cuida de mim e pronto. Fico com ela por um tempo e falo que não daremos certo.
- Elas não são brinquedos - alterou novamente.
- E eu também não, ambos faremos escolhas e arcaremos com as consequências.
Desafio do mês encontrar uma namorada, talvez alguma festa no final de semana poderia me ajudar. Tudo sem a ajuda de Luc, ele era contra, mas não me atrapalhava, meus namoros duram nais ou menos uma semana, no máximo duas. Não faria mal a ninguém. Voltei para meu quarto e comecei a ler Hobbit, havia ganha à um tempo, porém nunca li. Tolkien possue um maneira diferente de escrever, sua descrição é enormemente detalhada e completa, prendendo a atenção em cada segundo de leitura. Resultado disso foi ter "perdido", perdido não, foi ter utilizado a tarde inteira em função disso. Foram 16 capítulo em uma tarde, mais de 30 mil palavras em um só dia. Quando Bilbo o bolseiro estava saido do seu posto... Alguém chega a minha porta, joguei o livro encima do Luc e fui ver quem era
- O que você quer, Mickey? - o que será que ele quer fazer aqui? Tenho que terminar de ler porra!
- Nem sabendo meu nome, você para de me chamar isso? - exato não lembro o seu nome - Esquece, estou aqui para marcamos um horário para a aula de química.
- Sei lá, seu nome é Mickey, não? Espera aí, ninguém se chama assim... Hãn, Yew? Vê o dia e me fala - anda logo tenho que ler!
- Hm... Sexta a tarde, depois da aula, na biblioteca, tudo bem?
- Tipo, a gente tem biblioteca? - se vamos lá amanhã é lógico que temos - Quero dizer, onde ela fica?? Deve ser pequena...
- Na verdade, não. É bem grande até.
- Não fica perto do complexo B? - Luc replicou.
- Perto de onde eu... - pego os caras? Nao vou dizer isso na frente desse nerd, Luciano está lendo o meu livro?? Ele está dobrando a capa?!?!? - tá sei onde é. Eu tenho que levar alguma coisa?
- Talvez seus livros de química?
- Talvez lá por ser uma biblioteca tenha livros, não? - idiota - Lá deve ter os livros que preciso, mas eu levo um caderno, Mickey - será que vou me lembrar do nome dele? - Você tem mais alguma coisa para me dizer ou vai ficar como uma estátua de decoração na minha porta?
- Hm... Não tem nada... Eu... vou indo então - aleluia!
- Então Luc, voltando a que falavamos... - fechei a porta e esperei um pouco - Que história é essa de ler o meu livro e ainda dobrá-lo!!
- Iiiiii ficou bravinho - ele me provocou - o que vai fazer, em???
- Você vai ver, me devolva meu livro - tentei pegá-lo, mas não deu muito certo.
Luc era um pouco mais rápido que eu, ficou de pé na cama, levantou o livro com uma das mãos enquanto estava me segurando com a outra. Frustrando qualquer tentativa de captura que eu fizesse. Depois de pular muito para tentar recuperar meu Hobbit sentei na beirada da cama de costas para Luc e comecei a mexer no meu celular nada de produtivo, mas que arrancou um suspiro seguido de uma risada da pessoa atrás de mim.
- Desistiu, é? - disse sentando-se ao meu lado - Toma, não tem graça quando você desiste.
- Não precisa, já baixei o livro em pdf - respondi sem pegar o Hobbit ou ao menos olhá-lo.
- Vai ficar emburrado? - perguntou segurando meu queixo para eu o olhar.
- Não fico chateado por pouca coisa, não me importo - repliquei um pouco mais sombrio do que queria - você parecia estar muito entretido com ele.
- Não estava tentando entender - falou chateado - e eu não sou pouco coisa nem esse livrinho.
- Não é livrinho é Tolkien - contra ataquei.
- De qualquer modo, eu sou pouca coisa então.
- Birrento, talvez, mas meu melhor amigo... Não gostou de Hobbit?
- Interessante, mas prefiro outros tipos e... dá pra prestar atenção em mim?!?! - reclamou pegando meu celular.
- Me devolva. Agora! - afirmei o olhando friamente - Não estou brincando Luciano.
Ele me devolveu ambos, o celular e o livro. Pude ouvir ele murmurar algo, mas eu já estava estressado e ele provocou. Terminei de ler aquela obra querendo já ter a próxima em mãos.
- Podemos conversar agora? - Luc disse baixo quando estava terminando de guardar o livro - Por que você esconde seus livros??
- Não escondo, guardo bem para não estragar ou perder.
- Não vou roubar, ok? - eu sei...
- Que seja - falei sério - o que queria falar comigo???
- Bem, você quer sair comigo?? Quero dizer... vamos a uma festa? Não nós dois, mas juntos... Não é juntos também... Arg! Você entendeu, não é? - ele estava corado, nervoso e muito engraçado.
- Sim entendi... uma festa? Que bom, mas porque ta me chamando??
- Vai ser aniversário de 18 anos duma menina, acho que ela se chama Laís Francesco. Então, tem uma garota que quer ficar comigo e ela vai a festa com uma amiga...
- E...
- E eu queria saber se você pode ir junto pra me ajudar... - disse se fazendo de coitado, mas logo sua mascara caiu - Olha você não vai arranjar uma namorada sozinho, no fim eu teria que fazer alguma coisa.
- E na festa eu fico com a amiga da garota que tá afim de você, assim tudo se resolve, não é?
- Mais ou menos, acho que você são iguais. Então não vai rolar alguma coisa é mais pela companhia.
- Como assim iguais??
- Não curtem o sexo oposto, ninguém me disse nada, só que acho que ela é assim. Se comporta do mesmo jeito que você, porém de um modo feminino...
- Virou especialista?
- Por sua culpa um pouco. Não é legal receber cantadas de caras e depois passá-los para o meu amigo pegar.
- Eles gostam!
- Mas sua família não!! - gritou e eu me calei - Me desculpe, você irá a festa e será nesta sexta.
Assenti com a cabeça e me virei. Sim eu iria e conseguiria uma namorada, meu pai homofóbico estaria feliz. Meu tio não teria com que se preocupar, eu seria seu sobrinho hetero. Eu seria o badboy da escola que é protegido pelo diretor e que odeia por alguma razão a química. E ainda tinha o professor Yew, até que ele era bonitinho, não se destaca muito, talvez pelo fato de ser o nerd. Eu teria que lembrar do nome dele, fingir que não sabia química para ele me explicar e ir bem nas provas. Arranjar um pagamento, ou compensação, digna para ele.
Sexta-feira, um dia de alegrias para todos e , como não quero ser diferente, para mim também. Aula de manhã, química a tarde e festa a noite. Um dia melhor não tem... vai que encontro um gatinho na festa? Gatinho não, com a fome que estou prefiro um leão, mas tudo escondido. Ninguém levaria a sério um badboy mal humorado que é "viado", a não ser se eu os pegasse de jeito.~ Mei

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Apenas Opostos
RandomJá parou para pensar que tudo na vida está pré determinado? Crescer, estudar, se formar, trabalhar, talvez encontrar alguém e fazer uma família. Eu não quero fugir dessa vida monótona, a não ser por um detalhe, já encontrei esse alguém. Só que ele...