Mike - 5

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-Michael? Tudo bem aí? Mike? - perguntava Kurt me chacoalhando de leve, tirando-me do transe.

A festa continuava à nossa volta, jovens completamente desconhecidos pulavam acompanhando o ritmo de uma música desconhecida por mim. Suavam e esfregavam seus corpos um nos outros sem motivo e alguns poucos trocavam germes salivares num canto escuro e eu imaginava quantos outros não faziam coisas piores no andar de cima.
E eu pensava em Leandro,mais especificamente, na proximidade de seu rosto ao meu e de como meu coração palpitava com aquilo e, só com a lembrança, voltava a acelerar. Aquela sensação estava me corroendo por dentro a de que eu não tinha tirado ele da cabeça desde a tarde.

Melissa havia me avisado que eu falava muito nele mas eu não havia nem percebido e agora não consigo mesmo parar de ver ele em minha cabeça. Leandro era um grande conquistador de garotas, sexo feminino e agora ele havia se aproximado tanto de mim mais cedo que eu já começava a desconfiar dessa sexualidade. Eu cogitava contar a Kurt o que tinha acontecido mas não sabia se era seguro.

- Terra chamando! - dizia ele
Focalizei o rosto magro de Kurt chamado minha atenção para si.

- Oi... Hum... Eu estou bem...

- Não parece - disse preocupado

- Só pensando. Nada de mais.

- Hey a festa está ótima, curta um pouco! Deve ter alguém legal aqui pra você. Toma, bebe alguma coisa. - Kurt esticou um copo de plástico com uma bebida azul dentro. - Relaxe.

Eu não era de bebidas alcoólicas, porém o ruivo tinha a razão: eu precisava esquecer meus problemas. Peguei a bebida desconhecida na mão dele e bebi. Primeiro um gole, depois metade do copo e as coisas começaram a perder o sentido.

-x-x-

Meu corpo estava quente, mas eu continuava a mexer no ritmo da música, sem jeito. Melissa ria de mim, um pouco preocupada com a quantidade de álcool em meu corpo mas curtindo junto. Seu rosto estava radiante, parecia feliz (e um pouco bêbada também).

Eu nunca havia curtido tanto, me sentia leve, solto, nada me prendia no chão. Estava consciente, mesmo com os copos que eu tinha virado eu não estava tão fora de mim.
Estava quente e abafado dentro da casa.

- Vou tomar um ar! - gritei para Melissa. Não esperei para ver se ela ouviu.

Fui me espremendo por entre os adolescentes ali presentes até avistar uma porta lateral. Saí para o ar fresco, respirando fundo o ar nada noite. O jardim estava mais vazio, eu podia ver uma fumaça suspeita saindo de trás das moitas. Afastei-me daquele canto e fui dar uma volta pelo jardim.
Foi quando o vi.

No vão entre uma árvore e um muro Leandro agarrava uma garota. Eu praticamente podia sentir a libido deles da onde eu estava, mesmo a metros de distancia.

Podia ser o álcool - e provavelmente era - mas ao vê-los se beijando, lágrimas escorreram pelo meu rosto, muitas gotas indesejadas caiam em minha roupa molhando-me. Voltei correndo para a festa. A música invadiu meus ouvidos quando adentrei no salão, eu não queria mais ficar do lado de fora, mas também não queria ficar no meio de tantas pessoas.

Olhei para as escadas e segundos depois eu subia os degraus o mais rápido que meu corpo mole deixava. No andar de cima procurei um canto sem algum casal se pegando pra ficar sozinho, acabei achando um quarto de faxina que não tinha espaço para duas pessoas. E fiquei ali. Chorando.

Toc. Toc. Toc.

- Tem gente! - gritei com a voz chorosa.

- Sou eu - Melissa. Não respondi, apenas esperei que ela entrasse e tentasse se ajeitar no cômodo pequeno comigo.

Ela não disse nada, apenas esperou que eu me acalmasse com sua presença e me abraçou.

- Kurt me disse que te viu subindo, e que parecia estar chorando - ela disse perto de meu ouvido - Não quer me dizer o que aconteceu?

Neguei com a cabeça. Se nem eu estava conseguindo entender o que acontecia comigo, duvidava que ela pudesse ajudar.

- Eu... Só quero... Tirar tudo isso da cabeça... - falei entre soluços.

Melissa, sentada ao meu lado, continuou a tentar me acalmar acariciando meus cabelos. Olhei para ela, a imagem um pouco desfocada mas seus cabelos castanhos caindo em cascatas até os seios chamavam atenção. A morena era minha amiga desde que eu entrara na Paládio, e mesmo que falasse muito sobre a vida dos outros eu podia confiar nela. Os copos de vodka não ajudaram muito quando aproximei meu rosto do dela lentamente, tentando entender tudo o que acontecia comigo. Melissa, ao contrário do que imaginei, não se afastou, nem mesmo assustou, simplesmente veio com sua face angelical contra a minha.

Nossas bocas se tocaram calmamente, conversando.

Eu só queria fugir...

~ Lua

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