Mike - VI

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  Na terça, Melissa e eu não éramos mais os mesmos. A morena estava radiante, falava mais que o normal e seus olhos brilhavam: era óbvio que estava apaixonada. Eu gostava de vê-la feliz e ela estivera assim desde o ocorrido na festa. Depois de nos beijarmos naquele dia eu tentei esquecer Leandro e, para minha sorte, consegui. Ficamos a noite toda em um cantinho distante de todos os festeiros do andar de baixo, foi uma das primeiras vezes que aproveitei uma noite daquele jeito. Acordei sábado de manhã deitado a seu lado em uma espécie estranha de abraço (só para constar estávamos vestidos, seus pervertidos) e eu estava... Bem, me sentindo meio estranho, talvez fosse a ressaca, mas no fundo eu me sentia feliz, assim como ela.

Em suma, desde aquele dia estávamos meio que ficando/namorando, eu não sabia ao certo e não tinha coragem pra perguntar, o importante era que quando tínhamos um tempo livre íamos para um canto mais escondido da escola e nos pegávamos até cansar (ou o tempo acabar, o que acontecia na maioria das vezes). Como era bom... Ainda estranho, mas bom...

O mais engraçado de toda minha "história" com Melissa era Kurt. Quando, no dia seguinte à festa, eu e ela aparecemos no campus completamente perdidos, sem jeito e nem mesmo conseguindo olhar na cara um do outro sem ficar vermelhos, o ruivo sacou na hora tudo que tinha rolado entre a gente, rindo muito de nós dois.

Agora ele começava a se arrepender. Reclamava a cada cinco minutos de como Melissa estava grudenta comigo. Durante o almoço a morena sempre sentava ao meu lado, mas agora muito mais perto do que antes e chegava até a me roubar um selinho ou outro, eu não gosto muito de afeto em público e ela respeitava isso. Mesmo assim meu braço ficava na sua cintura a mantendo junto comigo. Kurt sempre fingia ficar enjoado quando fazíamos isso.

‒ Se eu soubesse que ficariam assim... Acho que não teria shippado tanto vocês. ‒ comentou

‒ Espera, Kurt, você shippava a gente?! E nunca pensou em nos dizer pra ficarmos juntos? ‒ indagou Mel.

‒ Eu não! E vocês não eram meu ship OP ‒ disse o ruivo, e logo se explicou vendo nossas caras confusas ‒ Ah qual é, vocês sabem... Aquele OverPower... O maior casal, o melhor sabe?

Bem, um ruivo magricela irritado mexendo os braços como um louco e dizendo "ship OP" não era a cena mais hétero que eu já tinha visto. E foi ai que entendi o por que dele não ter pegado nenhuma das garotas que tentavam ficar com ele até hoje.

‒ E qual será esse "ship", posso saber? ‒ perguntei sorrindo de lado.

Kurt me olhou como se fosse um idiota por não saber do que ele falava. Levantou uma sobrancelha. Fiquei encarando ele como um bobo tentando entender o que ele queria dizer com aquilo, era como se fosse o casal mais óbvio do mundo e ao que parece eu fazia parte dele, mesmo não sabendo quem era a outra.

Bufando o ruivo pegou sua bandeja, já vazia, e foi embora, deixando-me sozinho com Melissa. Seus cabelos ruivos caiam sobre meu tórax enquanto sua cabeça repousava calmamente sobre meu ombro. Ela riu com os atos de Kurt e quando ele estava longe o bastante para não ouvir o que conversávamos.

‒ Que tal fazermos alguma coisa hoje a noite? Talvez depois da aula? ‒ cochichou perto do meu ouvido me arrepiando ‒ Podemos assistir algum filme, o que acha?

‒ Hum, como um encontro? ‒ sorri para ela ‒ Um primeiro encontro.

‒ Se quiser... ‒ disse, subitamente vermelha.

Roubei um beijo rápido de sua boca, ela era fofa quando ficava sem graça. Melissa era uma boa amiga, um pouco fofoqueira talvez, adorava falar da vida dos outros, mas tinha um bom coração e ótimos conselhos. Um bom ombro amigo pra quando eu precisasse.

Namorar com ela, ou o que quer que estivéssemos fazendo, era bom e me deixava de bom humor. Eu estudava muito para manter minha bolsa na Paládio, e nesses últimos quatro dia que estivemos juntos eu consegui relaxar um pouco mais e manter minha rotina de estudos. Mas, mesmo que agora eu tivesse alguém com quem pudesse passar um tempo junto, namorando, ou apenas curtindo um ao outro, eu não me sentia completamente a vontade com ela.

No fundo de meus pensamentos eu considerava a idéia de acabar com aquilo antes de que nos envolvêssemos ao ponto de perder a boa amizade que tínhamos. Porém o medo de que isso acontecesse era maior, perder minha melhor amiga. Além do mais com ela ao meu lado eu esquecia Leandro, nos últimos dias eu nem pensara direito no moreno.

Até encontrá-lo na porta da sala de biologia, conversando com "Luc", seu colega de quarto. Eu travei. Não o tinha visto desde a festa quando o vi pegando uma garota nos fundos da casa. Desviei o olhar e tentei não prestar muita atenção na conversa entre os dois, e, principalmente, nele.

Kurt estava na cama encarando seu computador e digitando rapidamente quando voltei para nosso dormitório depois das aulas da tarde. Abri meu armário tirando algumas roupas escolhidas a dedo em cima da cama e comecei a procurar algo bonito-mas-não-tão-chique para vestir, algo entre não-estou-nervoso e estou-nervoso-pra-caralho.

‒ O que pensa que está fazendo, posso saber? ‒ perguntou o ruivo sem realmente desviar o rosto da tela.

‒ Melissa vai vir aqui mais tarde, ‒ expliquei ‒ é nosso primeiro encontro de verdade e não quero parecer um nerd que nunca saiu com uma garota bonita. Então, não faço a menor idéia do que vestir.

Ele olhou-me como se dissesse "você é um nerd que nunca saiu com uma garota bonita" e, bufando, se levantou deixando o computador ao lado da cama e veio até mim. Kurt pegou o blazer que eu segurava de minhas mãos e jogou do outro lado do quarto, desprezando-o.

‒ Hey, eu adoro esse blazer! ‒ reclamei

‒ É horrível ‒ respondeu indiferente. Agora, o que, até poucas horas a trás era pra mim hétero, virara um Gaystilista. Não sei como não percebi antes tudo isso, agora parece tão óbvio. ‒ Que tal esse?

O ruivo me ajudou a escolher uma roupa para encontrar Melissa. Afinal, eu ainda tinha um encontro.

~Lua

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