Olhos Rubi • jikook

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#AtéSeQueimar

Fênix são a própria representação do renascimento: um ser que fora abraçado pela morte e ainda assim voltou à vida a partir das próprias cinzas, dos próprios vestígios, do que restou de seu antigo eu. São seres grandiosos, fortes e que foram venerados na antiguidade por diferentes povos por conta de tais características.

Jeon Jungkook teve de praticamente morrer para que pudesse enxergar a realidade com outros olhos e dar a si mesmo novos propósitos. Que outra arte poderia fazer?

A única cicatriz aparente em seu corpo era uma prova da pessoa que foi um dia, da pessoa que morreu naquela sala de estar. Demorou noventa e um anos para que ele começasse a cogitar a ideia de cobri-la. E cem para que finalmente o fizesse.

Ele pretendia conhecer e estudar diferentes tipos de estúdios e tatuadores. São raros os que trabalham com verbena, mais raros ainda os que realmente não tem problemas com a existência de vampiros. Verbena é um material caro, uma planta rara que é usada unicamente para combater sua espécie, consequentemente é algo que traz uma boa grana quando se consegue permissão para trabalhar com ela. A maioria dos tatuadores, só escolhem este caminho por ganância, porém, nas ruas, contribuem para que a discriminação contra eles se perpetue.

Não ia dar dinheiro a pessoas deste tipo.

Entretanto, Jeon Jungkook não é ingênuo, sabe que qualquer tatuador que se preze mentiria e ocultaria seus verdadeiros pensamentos e mediria suas ações em público para preservar sua imagem com os seres da noite. Eles são o público mais lucrativo, não tem porque perdê-los por deslizes. Por conta disso, não foi difícil deixar todas suas intenções de pesquisas e cautela de lado no momento em que viu Park Jimin saindo por aquela porta.

Se qualquer humano poderia facilmente mentir para si, por que não optar por um que, ao menos, agite seus sentidos?

Já faz uma hora que estão em completo silêncio, só as músicas do Park tocando ao fundo e os grunhidos de dor do moreno que escapam por seus lábios sem que tenha controle.

O gângster é alguém acostumado com a dor, tem resistência à ela, mas nunca será fácil sentir suas células lutando contra a quantidade insignificante de verbena que adentra sua pele. É uma quantidade tão pequena e faz um estrago tão grande que é compreensível que exista uma permissão para poder administrá-la. Mesmo que os humanos não se preocupem verdadeiramente com os seres da noite.

Jimin já perdeu a conta de quantas vezes perguntou se podiam parar para que o vampiro descansasse, o suor escorrendo pela testa marcada. Jungkook negou todas e quase o fez decidir por si mesmo, porém o Park sabe que não pode, então apenas continuou.

- Posso perguntar uma coisa? - Depois de um longo tempo, o tatuador é o primeiro a proferir algo. Como da primeira vez, precisa de uma distração.

- Toda sessão será um interrogatório? - Jungkook ainda consegue debochar, mesmo que esteja com muito mais dor que no primeiro dia.

- Se você não quer me dar uma folga, então não pode me impedir de me distrair com alguma coisa. - Ele é sincero, irritado pelo outro não tê-lo permitido parar.

- Está com a mão cansada, Park?

- Não. Estou farto de ouvi-lo gemer de dor, isso sim.

- Não está acostumado a trabalhar com verbena, anjo?

- Vai me responder ou não? - Não quer lhe dar explicações sobre seu desconforto e muito menos as gracinhas alheias.

Diante da quase represália, Jungkook adota uma expressão séria ao perceber que o outro não está disposto a entrar em seu joguinho. Com dificuldade, recolhe os braços abaixo da cabeça e apoia o rosto ali, ainda de bruços. Ele se vira para o loiro. Nesse ângulo, a cicatriz em seu pescoço é perfeitamente visível, um rasgo de fora a fora na garganta, um pouco abaixo do queixo.