Capítulo 30 - Slow Down

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Molly
09:35 p.m
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Andando ou quase flutuando? Mais flutuando que andando. Ainda me sinto no palco. Os dançarinos me abraçaram e agradeceram muitíssimo por eu tê-los salvo. Mal sabem eles que foram eles que me ajudaram a fazer uma volta triunfante para Michael.

Junto com os outros dançarinos, nos encaminhamos até os locais de troca de roupa. Vou para uma sala sozinha, a mesma sala que era mais como um camarim onde eu troquei de roupa e me arrumei para a apresentação. Me olho no espelho e meu sorriso está gigante em meu rosto.

Não acredito na loucura que fiz. Nem em sonhos eu poderia imaginar que faria algo como aquilo para Michael. Fazê-lo me ver a primeira vez em anos assim, em grande estilo! Foi maravilhoso e não poderia ter sido melhor. Não poderia ter sido de outro jeito.

Realmente, tudo parece ser escrito por linhas tortas porque no final eu me surpreendi. E a noite só está começando.

Tiro o vestido de Jully e coloco o meu novamente. Me acomodo no banquinho a frente do enorme espelho com luzes fortes pelos lados. Faço alguns retoques em minha maquiagem e abuso do perfume. Quando eu encontrar Michael, quero que ele se derreta de vez por mim. Não vou dar chances para ele escapar. Ele vai ser meu.

É engraçado como são as coisas. Um dia você está em um lugar com sua vidinha estável, acomodada, planejada, arquitetada e pronta para ser vivida conforme o script que foi pensado para você. E no outro, você deixa tudo isso pra trás porque algo não está certo.

Tem algo que não está se encaixando, uma peça do quebra cabeça que é a sua vida não quer se encaixar e essa peça é a mais importante. Se não for agora, não vai ser nunca. Foi o que eu disse a mim mesma.

Eu estava disposta a seguir como estava mas o amor falou mais alto e eu sou escrava dos meus sentimentos. Algo gritava lá dentro "Não acabou" a história não foi finalizada. Talvez alguém colocou uma vírgula no meio. Mas não foi um ponto final.

As vezes as coisas acontecem no tempo certo para nos deixar mais fortes e experientes. E posso dizer que hoje estou pronta. Algumas feridas não foram cicatrizadas e talvez nunca sejam porém mais uma chance me foi dada e eu vou agarrá-la com unhas e dentes.

Eu nunca fui de perder. Se tem uma coisa que meu pai me ensinou é que eu sou uma vencedora. Sempre consigo o que quero e não me dou por vencida. Eu sei o que eu quero e eu não vou desistir.

Fecho o batom e o apoio sob a bancada. Alguém bate na porta do camarim. Ajeito meu vestido e vou apressadamente abrir. Fico surpresa ao ver a pessoa do outro lado.

É meu pai. Frank não mudara quase nada desde a ultima vez que o vi. Puxo-o pela mão e fecho a porta.

Sem dizer nada, me jogo nos braços do meu pai, que me acolhe de imediato, começando até mesmo a chorar.

- Papai, quantas saudades eu senti... - Murmuro baixinho

- Eu também minha filha, eu também - Diz abraçando-me mais forte

- Me desculpe por não ter atendido suas ligações, pai. Mesmo tendo feito isso, nunca deixei de te amar - Desfaço o abraço minimamente para olhá-lo.

- Eu quase fiquei louco Molly.

Pego lenços de papel e o entrego para que limpe suas lágrimas.

- Cogitei até mesmo ir ao Brasil! Largar tudo para ir atrás de você. O que me acalmava era sua mãe falando que você estava bem. - Meu pai passa uma mão pelo meu rosto enquanto chora mais - que você estava sendo bem cuidada. Até faculdade estava fazendo. Eu queria tanto ter participado disso.

O jeito que meu pai chora é de cortar o coração. Mas tenho certeza que ele nunca se arrependeu de ter me mandado embora daqui. De ter impedido meu amor e de Michael. Ele foi o responsável por termos nos afastado. Fomos colocados a milhas e milhas de distância.

- Agora estou aqui pai. - Digo usando um tom afável - Nós podemos recuperar o tempo perdido. Eu procurei ocupar a minha mente. A minha vida é muito boa no Brasil, minha mãe cuida muito bem de mim lá. Eu e ela recuperamos todo o tempo que perdemos. Todo o amor que eu não tive dela quando criança, eu recebi em todos esses anos. - Digo sorridente me lembrando de Sara que foi como um anjo no meio de toda essa tempestade que eu passei.

- Sua mãe é uma mulher maravilhosa e fico feliz que tenha a perdoado e hoje se dão bem. - o choro do meu pai já cessou. Ele vai até a pequena lixeira ao lado da penteadeira e descarta os lenços de papel que usou.

- Apesar de tudo, eu fico feliz por ter tido a oportunidade de ter ido ao Brasil e conhecido a minha mãe como tive a oportunidade de conhecer. Mas agora estou de volta. - Olho-o de canto

- Você voltou por causa dele, não foi? - Frank pergunta diretamente sem rodeios. Preocupação notória em seu rosto.

Viro de costas e reviro os olhos. Tantos anos sem me ver e essa é a primeira coisa que ele pergunta?!

Respiro fundo, procuro as palavras para não respondê-lo mal.

- Papai, eu estou de volta! - Abro os braços. - Fique feliz com isso. - É tudo o que digo encarando-o novamente.

- Só quero o seu bem. Não quero que puxe problemas para a sua vida vindo até aqui. Você é minha joia preciosa. Não tem um só dia que eu não pense em você. - Ele tenta se aproximar novamente para me abraçar mas eu faço um gesto com a mão para que ele pare.

- Papai, está tudo bem comigo, não tenho como estar melhor. - Sorrio forçadamente. - E não se preocupe. Não farei nada de que possa me arrepender. Agora, preciso terminar de me arrumar. Temos muito tempo para botar o papo em dia. - Digo dando uma piscada e me sentando novamente em frente ao espelho.

Frank percebeu o quanto sua filha mudara. Estou mesmo mais ousada, na fala, no jeito de andar. Ele já havia visto apresentações minhas, mas talvez nenhuma como essa. Foi realmente quente o jeito que cantei e dancei para Michael.

- Não quero que se machuque. Tudo mudou por aqui. Como você já deve saber, o senhor Jackson é um homem casado agora e...

Meu coração aperta. Ele não vai falar disso, vai? Falar sobre esse assunto... eu não vou aguentar. Agora não pai por favor. Agora não. Eu não posso desabar agora. Eu estou tentando me manter forte aqui. A noite ainda não terminou! Eu não vou permitir que nada me abale. Até o final dessa noite ou por todos os dias que virão eu simplesmente tenho que ser inabalável. Nada pode me atingir. Eu não vou falar disso com meu pai. Ele não vai me desarmar. Eu esperei muito e esse momento é meu!

Paro tudo o que estou fazendo e olho-o através do espelho.

- Pai... é sério que vamos ter essa conversa? - Pergunto com um sorriso fraco

Frank abaixa a cabeça arrependido e mexe nos botões de sua camisa com nervosismo. Ele sabe que não podia ter mencionado isso. Pelo menos não agora.

- Me desculpe querida. Você acabou de chegar. E se apresentou tão lindamente. Precisa descansar. Não vou mais importuná-la com bobeiras. Tudo bem minha filha. - Ele me olha com um sorriso de canto

- Obrigada! - Afirmo com um falso ânimo

Após dar um beijo em meu rosto, Frank deixa o pequeno camarim.

Solto a respiração que prendi desde que ele falou da droga do casamento. Respiro fundo novamente e fecho os olhos soltando o ar e mentalizando o mantra que vem me mantendo forte para passar por tudo isso.

Nem um minuto se passa quando ouço novamente batidas na porta. Abro os olhos, ajeito meus cabelos e me levanto apressadamente.

- Papai, já disse que conversamos depois... - Digo sorrindo, mas minhas palavras ficam presas em minha garganta quando abro a porta e dou de cara com a pessoa à minha frente.

Quando dois corações se pertencemOnde histórias criam vida. Descubra agora