Quando dois corações se pertencem

Capítulo 72 - So Happy Together

Molly | 12:50

Confesso que ainda estou um pouco zonza por conta da informação que me fez desmaiar. Eu só quero entender tudo. Como é possível que eu seja prima de Patrice? Eu que estava com vergonha até de conhecê-la porque eu namorei com Daniel, namorei com o marido dela.

Se ela fosse uma mulher comum, eu já teria vergonha mas saber agora que além de tudo, ela é minha prima, fez tudo ficar mil vezes pior! Eu, Michael e Daniel fizemos questão de passar por cima do que aconteceu entre Daniel e eu e continuamos na amizade, por isso ele veio para esse almoço com sua esposa. Se vamos conviver, que seja com toda a família também. Eu estava disposta. Por Michael e por mim também, porque Daniel é um cara incrível, a amizade dele e de Michael é algo muito valioso. Ele é como um irmão para Michael. E acabou se tornando alguém especial para mim também porque todos que o conhecem sentem sua energia contagiante e é impossível não gostar dele.

Eu sabia e estava pronta para ver Patrice mas eu nunca imaginaria isso. Sim, eu me acho muito parecida com ela, mas como pensaria que nossa semelhança se dá por sermos da mesma família?! Eu estou em choque. Preciso saber direitinho. Detalhe por detalhe da boca da minha mãe. Ela gritou o nome de Patrice. Então ela sabe muito bem quem ela é.

De braços cruzados, espero minha mãe começar a contar.

- Querida - Ela se dirige à mim com o olhar suplicante - Apenas não me odeie depois de saber de tudo, está bem? - Eu não tenho nem condições de analisar isso agora. Não sei o que vai sair dessa conversa.

- Como você já deve estar imaginando aí nessa sua cabecinha, Patrice é minha sobrinha. - Ela direciona o olhar para Patrice. O olhar dela mareja na mesma hora. - Eu e a mãe de Patrice, somos irmãs.

- Você nunca contou de nenhuma irmã, mamãe. O que é isso agora? - Pergunto me alterando

Por que esconder as coisas de mim assim? Eu merecia saber sobre minha família!

- Eu não contei, nunca contei mesmo! - Ela choraminga. - Nunca contei porque - Olha para cima e respira fundo - Vocês nunca vão entender como é pra mim. - Olha em nossa direção de novo.

- Titia, você pode explicar que entenderemos. A senhora sabe que minha mãe tentou entrar em contato com você em todos esses anos mas nunca obtivemos resposta. - Patrice afirma

Arregalo meus olhos mais ainda.

- Por que mamãe? Diga de uma vez! Estou farta! - Digo asperamente enquanto os lábios dela tremem e lágrimas deslizam por seu rosto.

- Eu não podia. Eu tinha que me afastar porque... Eu me sentia envergonhada! - Ela faz um bico melancólico e olha pra mim - Filha. - Ela vem em direção à mim e pega em minha mãos. - O seu avô. Meu pai e de Ellie, morreu há muito tempo. Ele morreu na guerra.

- Sua avó o conheceu durante esse período e eu fui o fruto da breve relação deles. A minha mãe estava apaixonada por ele mas ele morreu em uma das batalhas e eu nunca nem tive a chance de conhecê-lo.

- Eu nunca soube quem era meu pai. Essa era a maior dúvida que eu tinha na vida. Foram anos de cobrança por respostas. Sua avó nunca dizia nada! Nunca contava sobre meu verdadeiro pai. Passei a infância e adolescência toda em busca de repostas. Até que um dia ela me contou.

- Ela contou tudo e eu fiquei com tanta vergonha de mim mesma. Da minha história. Eu descobri que meu pai tinha outra família quando se envolveu com minha mãe. Eu fui fruto de uma traição dele, Molly! - Mais lágrimas escorrem por seu rosto.

- Eu aproveitei que estava mesmo indo para os Estados Unidos para estudar. Foi bem na época em que conheci seu pai. Eu estava decidida a ir atrás da minha irmã. Contar tudo, contar que éramos irmãs. Mesmo com vergonha, eu estava feliz e animada para conhecer ela.

- Ellie me tratou com o maior carinho do mundo. Me acolheu em sua casa. Quando eu conheci Patrice, ela já tinha seus 14 anos - Um sorriso brota no canto dos lábios de mamãe - Era a coisinha mais linda do mundo. - Seu sorriso se alarga. Patrice também se permite sorrir sem olhar diretamente para minha mãe.

- Logo eu fiquei grávida de você mas nesse tempo, eu sempre estava frequentando a casa de Ellie. Eu amava ir na casa dela. Quando você nasceu, nós sempre íamos até lá. O seu pai não gostava. - Seu semblante endurece por conta dessa lembrança - Ele dizia para eu me afastar de Ellie porque Ellie era uma mulher muito influente, a família Pritchett era rica e famosa e eles viviam em outro mundo. Palavras dele. Frank nunca gostou de fama e nada relacionado à fama. Sempre quis ser um homem recluso de tudo. Por isso gosta tanto de animais e se formou em veterinária. Prefere passar horas com os animais, do que com as pessoas. Pessoas comuns, quem dirá, as famosas. Ele nunca gostou muito de exposição. Então ele queria que eu me afastasse da minha própria irmã. Ele falou por anos na minha cabeça. Ele me fez acreditar que eu era uma vergonha para essa família! Que eu era uma bastarda e que sempre seria vista como o fruto da traição de Richard, o meu pai.

Então eu acreditei nisso. Frank conseguiu plantar isso em mim. Depois que voltei para o Brasil, eu nunca mais tive coragem de me aproximar da minha preciosa irmã que eu amo muito. Eu tinha medo que as pessoas soubessem sobre mim. Como Ellie é uma mulher que está sempre na mídia, eu tinha medo que essa história se espalhasse. Eu não aguentaria. Eu já tenho tanta vergonha, imagine se o mundo todo soubesse? "A irmã de Ellie Pritchett é uma bastarda" Todos iriam falar mal de mim pra sempre. Foi por isso que resolvi me afastar e eu sinto muito por isso ter afetado você. Você teve que pagar pelos meus erros, Molly.

- Você não errou mamãe. Você era um bebê! Que culpa você tinha de o seu pai ter feito isso? Você não pode se culpar a vida inteira! - Digo em um tom indignado. Ela não tem culpa de tudo isso e não pode ficar se remoendo assim. Ela só tentou de um jeito errado, esconder nossa origem.

- E agora o destino deu um jeito de nos colocar todas juntas novamente. - Patrice diz de forma inteligente

- Sinto muito por tudo isso. A culpa é toda minha. - Mamãe ainda chora se remoendo de remorso. - Por minha culpa, Molly nunca soube de nada, nunca brincou com as primas quando eram todas ainda pequenas. Nunca esteve presente nos aniversários e nas festas em família. - Mamãe lamenta ainda mais

- Mas eu fiquei com meu pai - Me intrometo - Ele nunca deixaria que eu conhecesse minha tia e as minhas primas. Espera aí... quem são elas? - Me dou conta que estamos falando das minhas primas e não apenas de uma prima. Quer dizer que tem mais.

- Sim, você tem mais primas. - Patrice diz ao meu lado. Me viro para olhá-la atentamente. - Eu, Pietra, Pilar, Paola, Mariangel e Petra. - Ela diz e abre um lindo sorriso no final. Os olhos azuis dela brilham. Ela também está bastante emocionada por esse momento.

Coloco as mãos na boca ao levar um susto com mais essa informação. Meu Deus, são tantas assim e... eu nunca as conheci!

Com os olhos cheios de lágrimas, olho pra minha mãe, ela também me olha emocionada. Abro os braços em direção às duas que vem até mim me abraçar. Compartilhamos um longo abraço enquanto choramos e às vezes rimos.

Após limpar as lágrimas e me afastar minimamente, olho atentamente para as duas, em meio à sorrisos e lágrimas.

- Eu não acredito em tudo isso mas eu estou muito, muito feliz de saber que tenho essa família. E está sendo estranho como tudo está acontecendo mas eu sei que tudo vai se encaixar melhor na minha cabeça com o tempo. - Digo entre as lágrimas.

- Eu estou muito feliz por finalmente ter encontrado você, Molly. E devo tudo à Daniel. - Patrice respira fundo antes de continuar. - Se eu não tivesse descoberto quem era a amante dele, nunca teria chegado até você. - Ela diz com um sorriso lindo.

- Espera aí! - Minha mãe diz com firmeza se intrometendo em nossa conversa. - Que história de amante é essa, Molly? - Minha mãe está muito brava nesse momento.

Escondo o rosto entre as mãos. - É uma longa história mamãe.... - Digo relutante e eu e Patrice nos rendemos à risadas.

Mamãe vai surtar quando souber de toda o rolo entre mim e Daniel e no final, eu que fui a vítima dessa situação. Eu lá ia saber que ele tinha esposa e que essa esposa é logo minha prima que eu nem sabia que existia?!

Me ferrando ou não, estou feliz e ansiosa para conhecer a família Pritchett, minha família. Teremos que providenciar mais convites para o casamento. Acho que Neverland vai ficar cheia no dia do meu casamento com Michael.