Capítulo 107 - I am my hair I

124 10 0
                                    

...

Molly Jackson
Dublin, Irlanda
19 de Julho de 1997
23:00
...

Com a tesoura em minhas mãos, me encaro no espelho à minha frente.

Passo a tesoura por uma mecha enquanto me olho atentamente, indecisa se faço mesmo isso.

Uma parte de mim quer fazer isso por um motivo. Quero passar mais firmeza, mais seriedade, parecer mais madura e outra parte, quer fazer isso para parecer diferente.

Quero afastar cada vez mais a imagem que Johnny teve de mim no passado. Aquela garota de cabelos longos que ele conheceu no colégio. Não restou nada dela aqui.

Quem sabe eu fazendo isso, ele se esqueça aos poucos de mim e veja o quanto mudei. O quanto tudo mudou! Toda a nossa realidade. Não é mais a mesma.

Mas preciso fazer algo para parecer diferente. Diferente da garota que eu era quando namorei com Johnny. Claro que eu já estou diferente daquela época mas por algum motivo, ele ainda insiste.

Posiciono a tesoura na primeira mecha e começo a cortar. O barulho da tesoura fazendo seu trabalho é o único som que se ouve neste banheiro enquanto corto todo meu cabelo.

Paro de cortar porque acho que já está suficiente. Dou os últimos retoques e finalmente, está pronto. Esse novo corte me faz parecer mais firme, mais adulta, dona das minhas próprias decisões.

Quero passar firmeza e se eu disser não novamente pra Johnny, que ele acate as minhas ordens na primeira vez e não fique insistindo.

Deixo a tesoura em cima do mármore da pia do banheiro. Por um momento, sinto minha visão ficar um pouco turva. Levo meus dedos até minha testa. Estou trêmula. Tento me encarar através do espelho mas estou tonta. As nauseas estão vindo fortes.

- Molly - Ouço a voz da minha mãe - Você está aí meu amor? - Não consigo responder pois uma forte tontura me faz desabar com tudo no chão do banheiro.

...
Saint James Hospital
00:13
...

Abro os olhos aos poucos tentando evitar que a claridade os invada de uma vez.

Aperto os olhos e tento abri-los novamente. Olho em volta. Ótimo. Estou em um quarto de hospital. Minha mãe está ao meu lado falando ao telefone. Ela parece estar bastante tensa.

Levo minha mão até o braço dela e a toco para que me perceba. Assim que faz contato visual comigo, logo se despede da pessoa do outro lado da linha e desliga o telefone.

- Minha bebeeeee. - Ela toda exagerada pula em cima de mim.

- Mãe, eu estou bem - Digo me sentindo sufocada por ela que praticamente se jogou em cima de mim. - Preciso respirar - choramingo

- Oh! - Murmura e se afasta - No calor do momento eu só queria abraçar você mas agora me lembrei que tenho que tomar mais cuidado quando for te abraçar - Diz entre risos que eu conheço bem

- O que está acontecendo? Por que estou aqui? - A metralho com perguntas.

- Você está aqui porque.. - Ela morde o lábio antes de continuar. - Encontrei você desmaiada no banheiro. De novo Molly! Você não tem dó da sua mãe? - Pergunta com um toque de drama na voz que só ela sabe fazer - Eu nunca superei aquela outra cena que você sabe bem de qual estou falando! - Ela diz me fazendo lembrar da vez que me cortei com os cacos de vidro do espelho do banheiro no Brasil e ao invés de ir procurar ajuda, eu fiquei lá no chão chorando até desmaiar e minha mãe me encontrou em um estado caótico.

Quando dois corações se pertencemOnde histórias criam vida. Descubra agora