Aos seus pés

Capítulo 1: Melanie.

Está chovendo novamente.

Normalmente eu amo passear em dias frios e admirar as gotas pesadas de água caindo, mas essa semana estou tão estressada que não consigo aproveitar.

O tempo está feio, e como não tenho carro, provavelmente vou chegar toda molhada na empresa.

Pelo menos tem uma coisa boa em dias como esse: se está frio, então eu irei trabalhar o mais confortável e simples possível - afinal, todo mundo fica bonito em dias frios.

Visto meu blazer vermelho por cima da blusa branca fina de cetim, jeans skinny clara, meias e meu tênis branco. Ajeito meus cachinhos castanhos e passo um pouco de base e corretivo, cobrindo minhas gigantescas olheiras.

Fiquei assistindo alguns programas de casamento e comendo cupcakes até a madrugada chegar.

- Scarlett, onde está minha bolsa preta?! - grito para minha melhor amiga, que está dormindo aqui em casa por alguns dias, ela brigou com os pais e gosta de fazer um pouco de drama.

- Eu deixei aqui em cima do balcão! - ela grita da cozinha.

Chego na cozinha e encontro Scarlett com meu avental roxo e seus cabelos volumosos presos num coque.

Pego minha bolsa e começo a colocar tudo o que precisarei hoje: um bloco novo de post-its (meu estoque acabou), fones de ouvido, absorvente, batom, e o mais importante: meu Kindle.

Ler livros é meu hobby preferido, e como não consigo ficar carregando livros físicos por aí o tempo todo, comprei um Kindle para isso.

- Poderia deixar você morar aqui para sempre se for fazer meu café da manhã todo dia. - digo para ela, pegando uma de suas torradas com canela e colocando na boca.

- Isso é um convite? Porque eu adoraria sair da casa de meus pais, não aguento mais morar com eles. - ela diz fazendo uma cara triste, mas eu sei que é fingimento.

Já chamei ela para morar aqui, e ela tem dinheiro o suficiente para se sustentar sozinha, mas ela não quer. Ama muito seus pais, e eu acho que a ideia de ficar muito longe deles a assusta.

- Estava brincando, prefiro morar com o mendigo da esquina do que com você. - digo bebendo meu café e indo escovar os dentes.

- Ótimo, já o convidei para viver com você, ele deve chegar daqui a duas horas. - ela diz num tom zombeteiro.

Eu ri. Mesmo em dias tediosos, ela consegue me alegrar.

Conheço Scarlett desde meu primeiro dia de faculdade. Enquanto ela fazia engenharia civil, eu fiz administração.

Scarlett tem cabelos longos, ondulados e ruivos, é alta e dona de um rosto angelical. Mas somente seu rosto é assim, porque sua personalidade é tão explosiva e hiperativa que eu fico surpresa sempre que penso em como nós formamos uma ótima dupla de amigas.

- Já estou indo pro trabalho. E, pelo amor de Deus, não tente queimar a casa outra vez.

- Eu só estava tentando fazer uma receita nova, a culpa é toda do novo programa culinário. - ela diz, cruzando os braços.

- Ok, Master Chef, não tente outra vez. Beijos. - digo fechando a porta e caminhando até o elevador.

Moro num prédio pequeno e pouco habitado, então não demora muito para eu chegar no térreo.

Como está chovendo demais, decido chamar um Uber.

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- Sete minutos atrasada, srta. González. A próxima vez não precisa entrar, já estará demitida.

Odeio esse homem. Colin Monroe, meu chefe. Como esse cara consegue ser tão... perfeito? E pontual? E organizado? Aposto que ele dorme na empresa, ou é um robô disfarçado de humano.

Ele está com um de seus termos-super-bem-passados, e vestindo sua expressão confiante e orgulhosa de sempre.

- Desculpe, sr. Monroe, não acontecerá novamente. - digo num tom casual, mas por dentro estou contando até 100 e tentando afogar toda a minha raiva pelo trânsito e pelo motorista lento.

- Assim espero. Deixei alguns documentos em sua sala, preciso que você os leia e assine, depois me devolva. - ele diz, e como sempre, sem usar um "por favor" ou "obrigado". Quando ele precisa se referir a mim, aparentemente tenta ser o mais desagradável possível.

- Irei fazer o mais rápido que puder, sr. Monroe.

- Ótimo. - ele termina, e antes de ir para sua sala, me olha de cima a baixo - Gostei do blazer, combina com você.

A única coisa que consegui fazer foi piscar. Colin Luke Monroe acabou de me elogiar? Acho que fui parar em outra dimensão. Ele nunca se direciona a mim de qualquer jeito que não seja profissional.

- Obrigada... eu acho - digo baixo, já que ele já trancou sua sala e não pode me ouvir.

Entro em minha sala pequena e extremamente desorganizada e começo meu trabalho.