Caminhei por alguns metros, estava no meio do pasto do terreno do senhor Vicente, ali tinha uma árvore com um tronco de outra aos pés de suas raízes. Estava sentada sobre ele com meus cotovelos estavam apoiados nos joelhos e a cabeça nas mãos, eu olhava pras vacas mansas que pastavam a alguns metros dali.
Estava ali tinha alguns minutos, eu já havia orado e aos poucos o Espírito Santo acalmava minha mente e meu coração.
Limpo minhas lágrimas e fungo coçando em seguida meu nariz.
- Filha? - endireito meu corpo e olho pra minha mãe que me observava com atenção, mas ainda se mantinha um pouco afastada. - Posso sentar ao seu lado?
Eu assinto desviando meus olhos pros animais e dando espaço pra ela no tronco.
Ela permaneceu em silêncio ao meu lado por alguns minutos, eu sabia que ela não diria nada se eu não dissesse primeiro, com um suspiro eu volto a me curvar sobre meus joelhos.
- Eu sinto muito pelo surto mãe. - falo finalmente soltando um suspiro.
Sinto ela se aproximar ainda mais e acariciar minhas costas, fechos meus olhos apreciando seu carinho e me sentindo leve.
- Não se desculpe meu bem, isso acontece às vezes e não podemos evitar. - me acalenta com a voz baixa - Eu sei o que você passou nos últimos anos, sei o quão difícil foi pra aceitá-lo de novo na sua vida e sei da tensão que todos sentem ao vê-los juntos.
Eu estico minha coluna, me sentando direito e ela pega minha mão, eu a olho com um sorriso contido e deito em seu ombro.
- Não pode impedir que nos preocupemos com você, mas é verdade que também não podemos julgá-lo por erros do passado toda vez que o vimos. - continua - Porém, muitos ali ainda estão ariscos com Kel. - afirma - Como eu disse, assistimos de camarote tudo o que você passou minha filha, e não queremos que isso se repita.
- Eu também não quero mãe, aliás mãe porque isso aconteceria de novo? - murmuro arisca.
- Perdão, não quis insinuar que irá querida, mas é o que seus amigos temem, e pra ser sincera, eu também. - fala e eu assinto entendendo - Não quero que se repita, eu amava e amo ele como um filho, mas ver como tudo pareceu acabar me fez sofrer duas vezes, a primeira por você e a outra por ele.
- Eu sei mãe. - suspiro me lembrando dos dias tenebrosos que seguiram após o envolvimento de Kelvin com más pessoas. - Mas não gosto de me sentir assim. - assumo franzindo o cenho - Pressionada pelos olhos deles toda vez que nos veem juntos, eu o perdoei. - digo mexendo no anel que carregava no dedo.
Minha mãe suspira e a vejo olhar para o horizonte.
- Sabe, uma coisa que eu aprendi com o grandpa* é que temos que saber escolher com o que vamos nos preocupar. - fala, já havia ouvido aquilo antes - Eu sei que deve ser super desconfortável e chato passar por isso, mas vai ser inevitável por um tempo. - continua - Sei que você quer protegê-lo, mas ele terá que saber lidar com o que ele causou nos seus amigos minha filha.
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Quando O Sol Se Pôr
EspiritualEu sempre soube que a vida não seria um mar de rosas, mas ela poderia ser pelo menos um jardim, não? Também não é novidade que quando tudo está calmo demais é sinal de que vem encrenca grande pela frente. E bom, depois do que aconteceu com Kel eu...