TURBULENT

Para meu pai, só por que ele NUNCA vai ler isso

Pai, me desculpe
Por não ter me tornado
Quem você sonhou
Pai, me desculpe
Sua menininha
Não está mais aqui
Se foi ,
para nunca mais voltar

Pai, me desculpe
Por não ter crescido
De acordo com os teus planos
Me desculpe, por não ser
A menina estudiosa
Que você sempre almejou

Pai, me desculpe por não ser
Fluente em inglês,
Por não saber tocar piano
Tão lindamente
Como você
Me desculpe
Por ser desleixada
Como você sempre diz

Me perdoe por ter me tornado
Só uma garota fútil e  preguiçosa
Que não gosta de estudar o que você gostaria que eu estudasse.
Me perdoe por ser tão estranha
E por nunca ter sido motivo de orgulho pra você
Por mais que eu me esforce pra isso
Eu cansei de tentar te agradar
Sabe por quê?
Só depois de tantos anos
Eu entendi
Que nunca poderei ser
A garota perfeita que você
Sonha que eu seja

Pai, eu odeio inglês,
prefiro espanhol
Eu sei que você
não se importa
com minhas opiniões
ou meus gostos,
mas gostaria que você
soubesse disso

Pai,
eu queria que você soubesse
Que eu não tenho crises de ansiedade
Por que eu quero
e que muitas vezes,
não tenho controle
sobre minhas crises,
sobre minha própria vida
Não é drama,
Não é fingimento
Não é frescura
Nunca foi
Isso dói
Dói mais do que você imagina..

Pai, eu queria TANTO
Que você conhecesse
Sua própria filha...
Queria tanto que você soubesse
Quem eu sou de verdade
Tantos anos abaixo
Do mesmo teto
E me dei conta de que você
Não sabe
e nunca soube
NADA sobre mim

Eu te amo tanto
Mais do que a mim
Mais do que tudo
E daria minha vida
Por você
Já tentei dizer que te amo
Mas as palavras
Presas ficam em minha mente
E não saem de minha boca
Por que sei,
Que você vai achar estranho
E porque sei,
que você não dirá
o mesmo que eu .

Me desculpe
Por tudo...
Me desculpe
Por todas as cicatrizes
Que tenho em meu corpo
Não por minha culpa,
Mas que te incomodam
Me desculpe
Se te irrita me ver tirar as casquinhas
Dos machucados por pura ansiedade

Me desculpa
Pelas manchas que tenho
Na pele,
Desde que fui pequenina,
Devido a reações emocionais
Eu sei que você tem vergonha
De mim, de quem eu sou
De como sou...
Eu sei que minha aparência
Não te agrada
Nem nunca te agradou
Ainda que eu me matasse pra fazer tudo como você gostaria
Nada estava bom

Você sempre foi tão estúpido
Tão grosseiro
Tão frio...
Frio demais pra mim
Que nasci quente
Cresci quente
E quero envelhecer quente
A ponto de borbulhar

Seu abraço é frio
Envolto de desconforto
E constrangimento
E hoje, você me chamou de
"A praga"
Na minha frente
Pra todos ouvirem
Eu não esperava por isso
Eu não fiz nada para merecer isso
Pai, depois de duas décadas
Eu percebi,
Que deixei de ser eu,
Pra ser quem você queria que eu fosse
E mesmo assim, você não me reconhece
Tampouco me enxerga

Hoje você me disse palavras
Doloridas
Frias
Ausentes em empatia e amor
O amor que você diz ter
Mas que preciso me esforçar pra ver
Pai,
Por que você me trata assim?
Por que diz essas coisas sobre mim?
Por que trata melhor a um animal
Do que à mim?

Pai, eu sempre te coloquei
Acima de tudo
Acima de mim
Eu sempre te ergui
Num lindo pedestal
Por que na infância,
Quando eu mais precisava
Você estava ali
Mas já fazem alguns anos
Que aquele "pai"
Que você foi
eu sinto
Que perdi
Que deixei escorrer entre os dedos
E que talvez não volte mais
Para perto de mim

Eu quero te abraçar
Mas não sei se devo
Eu quero te beijar
E quero te agradecer por tudo
E ao mesmo tempo
Por nada

Quero agradecer
Por não ter me desamparado
Na infância
Mas não posso agradecer
Por como você me trata hoje
Com desprezo, desamor...
Pai, queria eu nunca ter crescido
Pra que ainda pudesse correr
pra sua cama durante a madrugada
Quando passava mal,
E você se mostrava presente ao meu lado
Afagando meus cabelos
Até que eu conseguisse
Adormecer novamente
Eu queria me sentir
Segura em teus braços
Como aquela menininha
Que fui

Mas por mais que eu me esforce
Pra te orgulhar e te fazer feliz...
Eu vou desistir
Pois de nada adianta
Abrir mão dos meus sonhos
Para agradar alguém
Que é frio como o gelo que queima
Sem cessar