Capítulo 7 - Arthur Schopenhauer

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Os primeiros raios de sol iluminaram o quarto de Charlie; havia acordado minutos antes do despertador tocar. Sentou-se na cama, o coração palpitava como se tivesse corrido uma maratona. Ela suava frio e respirava ofegante. "Foi só um pesadelo", pensou. Charlie deixou o corpo pender para trás, os cabelos castanhos se espalharam pelo travesseiro. Sentia-se uma criança.

Respirou fundo e, após alguns minutos, se levantou da cama. Atravessou o quarto, sua mente estava inquieta. Parou em frente ao quarto de Melissa; ela adormecia profundamente.

Charlie se aproximou silenciosamente, curvou-se e beijou a testa de sua mãe. Melissa inspirou e se acomodou entre as cobertas. As vezes tinha a impressão de que o ocorrido afetou mais Melissa que ela própria, mas sua mãe era melhor em esconder isso. Era confortante pensar que enfrentaram aquilo juntas.

Deixou o quarto de Melissa e fechou a porta. Deveria, mais uma vez, se organizar e ir para o colégio. Aquela monotonia era angustiante. O vazio lhe trazia a constante impressão de que viver não valia a pena. Afinal, o vazio que sentiu quando criança nunca deixou de existir.

Tomou um banho, vestiu-se e comeu alguma coisa. Enquanto penteava o cabelo, encontrou um fio branco. Era o quinto daquele mês. Para alguém com treze anos, aquilo era no mínimo estranho. Colocou o cachecol e pôs a mochila no ombro, então saiu de casa e foi para o colégio.

Quando era pequena, ela queria muito ir andando sozinha. Charlie se lembrava de quando Marques estava de folga, de quando ele a levava e a buscava no colégio. Depois que seu pai morreu, na primeira vez que foi sozinha, sentiu-se triste por não ter ele por perto. Sentia saudades do pai ao seu lado, contando e rindo de piadas inteligentes...

"A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir", como diria Schopenhauer.

Charlie aproximou o cachecol do rosto. Ele estava com ela nos piores dias de sua vida. Podia sentir seu pai abraçando-a quando o colocava.

Os olhos lacrimejaram, Charlie os enxugou com a manga do casaco. A poucos metros, estava o colégio. Jessie acenava na entrada do portão, dando as boas-vindas mais agradáveis que já recebera.

Jessie era incrível. Seu caráter era excepcional e sua forma de ser era gloriosa. Charlie odiaria perde-la. Os cabelos loiros balançavam ao vento, e ela parava para arruma-los a cada segundo. Jessie era desajeitada, porém... fofa. Charlie não conseguiria descrever o quanto a amava. Jessie transpassou o portão e correu em sua direção, quase deixando alça da pasta cair do ombro. Pulou sobre Charlie e caiu em seus braços.

- Bom dia! - Falou, estendendo longamente o "a".

- Bom dia...

Jessie se desvencilhou de seus braços e abriu um sorriso; era simplesmente contagiante, uma expressão no mínimo angelical. Caminharam em direção a entrada. Um grupo de alunos passou apressado por elas.

- Esteve pensando no seu pai? - Perguntou Jessie repentinamente.

Charlie parou de andar e arregalou os olhos. Jessie a encarou com um olhar calmo e um sorriso ameno. Charlie fitou o chão e esboçou algo parecido. Um sorriso triste. Jessie a conhecia tão bem... bem até demais.

- Desculpa, melhor não tocar no assunto. - Disse Jessie.

Charlie suspirou e voltou a andar em silêncio.

- Você é incrível, sabia? - Falou Charlie.

- Por quê?

Charlie esboçou um sorriso e começou a subir as escadarias.

- Nada... deixa pra lá.

- Você começou, agora termine. - Replicou Jessie.

- Não é nada...

Dark Place - The MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora