Perante o decorrer de vários meses dentro daquela casa, viu-se a necessidade de repor os mantimentos de novo.
Melissa se encarregou de procurar mantimentos pela cidade. Não foi necessária cerimônia de despedida; todas ali já se acostumaram com a possibilidade de morrer.
Tornou-se natural, de qualquer forma.
Charlie e Jessie já sabiam o que fazer caso Melissa não voltasse no prazo que ela mesma estipulou.
Como filha, Charlie tinha um medo cruciante de perder a mãe. Mas o medo sumia, submerso numa maré de angústia.
Melissa organizou algumas coisas básicas e se despediu das duas. O sentimento de indiferença na despedida incomodou Charlie, mas ao mesmo tempo, lhe trouxe paz, como se Melissa tivesse certeza de que estaria de volta em poucas horas.
O motor do carro ligou num estrondo e, em poucos minutos, deixou de se ouvir ao longe.
Jessie se levantou do sofá e refugiou-se na penumbra do quarto. Talvez tenha ido ler o mesmo livro pela décima vez.
Charlie queria acompanhar Melissa em sua missão de recolher mantimentos. Queria ver o mundo e o inferno que se abatia sobre ele. Ali dentro, o mundo se resumia a sua garagem e uma parcela mal vista da rua pela janela do quarto.
Ela imaginava as ruas desertas, os gramados das casas excessivamente altos e talvez pequenos grupos de animais soltos pelas ruas. Ou talvez estivessem todos mortos mesmo.
Charlie se tacou no sofá e esvaziou os pulmões num longo suspiro. As vezes, cogitava como sua própria saúde estava. Tanto tempo sem qualquer atividade física além de dar volta em torno da mesa não fazia muito bem ao seu corpo.
Naquele mesmo dia, assustou-se com a expressão lúgubre que tomou seu rosto naturalmente. Os olhos fundos, a palidez, as olheiras e... oh, mais alguns fios de cabelo branco.
Charlie parecia um cadáver.
De relance, no sofá, sua visão periférica captou uma ocasião curiosa. A porta do quarto de Melissa estava entreaberta. Ela costumava ficar trancada com sua mãe lá dentro, fazendo sabe-se lá o que.
Parecia convida-la a explorar seu interior ou algo semelhante, mas havia um certo êxito em fazer isso.
Era como se o quarto guardase algo obscuro, algo tão nefasto que não deveria ser visto.
Tomada pela curiosidade, Charlie foi até o quarto, tentando se convencer de que era contra a própria vontade. Silenciosamente, Charlie caminhou até lá. A porta rangeu em estalos ensurdecedores, mas não passava de sua imaginação.
Fechando a porta, o lugar mergulhou em escuro. Gradativamente, a visão de Charlie se acostumou com uma tênue luz bege que emanava das cortinas. O quarto estava arrumado como de costume, algo que não mudaria nem se estivesse ocorrendo um apocalipse.
A janela ficava no extremo oposto à porta. Uma cama de casal dividia o quarto em dois e na frente dela, havia um volumoso guarda roupa preto e branco.
Do lado direito da porta, havia uma escrivaninha. Era o local mais desorganizado do quarto, cheio de papéis e coisas do tipo espalhadas, além de uma luminária preta em uma das extremidades.
Ao lado da escrivaninha, outro guarda roupa que não correspondia exatamente a sua função. Era basicamente onde Melissa guardava coisas de valor que, em tempos remotos, foram de Marques Nova Starlin. Não seria novidade encontrar ali algo que pensasse ter perdido.
Sua atenção voltou-se rapidamente para a escrivaninha, pois dentre tantos papéis e algumas pastas, havia um caderno aberto com uma caneta sobre o mesmo. Era um caderno um antiquado, feito de couro sintético marrom. Estava amarrotado, pois era usado com frequência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark Place - The Madhouse
Korku[Volume 1 da saga "Dark Place" concluído] Dark Place narra sobre um mundo completamente arruinado. Todos os governos do mundo foram derrubados e uma quantidade incalculável de pessoas foram mortas em questão de poucos meses. O cerne da discórdia é c...