Capítulo 25 - O Estranho

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Um ano após o ocorrido.

Por algum motivo, a região próxima ao cemitério fazia muito frio. Charlie nunca viu neve cair em Aschamount, embora os habitantes mais antigos sempre afirmassem que nevava uma vez a cada década.

Entre os túmulos, o cemitério era semelhante a um labirinto. Charlie já tinha o caminho decorado.

O cemitério era realmente imenso. O caminho que Charlie percorrera de casa até lá era menor que a trilha que estava fazendo.

Ela parou em frente a uma lápide pouco decorada. A coloração cinzenta escurecia com o tempo; o efeito era mais nítido nas lápides ao redor daquela. Lia-se um nome no granito, escrito em letras detalhadas.

Marques Nova Starlin.

Logo abaixo, frases com letras minúsculas que são atribuídas a qualquer morto. Algo como "Descanse em paz" ou "Vive em nossos corações".

Charlie pegou uma flor vermelha que guardava entre as mãos e colocou em meio as outras, murchas e desprovidas de coloração.

Vermelho era a cor favorita de Marques. Era, até que ele morreu. Mortos não tem cor favorita.

- Oi, pai. - Sussurrou a garota.

Fez um breve silêncio, mesmo sabendo que não obteria resposta. Sussurrava porque várias pessoas dormiam ali. Não queria acorda-las.

- Desculpa por não ter vindo nas últimas semanas... não tive muito tempo.

Silêncio novamente. Até a brisa, perpétua em Aschamount, parou para ouvi-la.

- Hoje eu tive prova surpresa na escola... - Prosseguiu. - Não era bem surpresa, já que o professor sempre faz uma a cada duas semanas. Acho que fui bem.

As árvores ali perto soavam harmônicas com o vento. Os cabelos de Charlie balançavam lentamente.

- Jessie quase falou um palavrão quando o professor anunciou a prova, e eu juro que começo a rir toda vez que isso acontece...

Calou-se novamente.

- Ela é uma garota incrível... Somos totalmente diferentes, mas nunca nos separamos uma da outra. Acho que o senhor iria gostar de conhece-la, ela é como minha irmã mais nova... - Pausa. - Ela me lembra um pouco do senhor... Jessie consegue me fazer rir como você fazia.

Silêncio de novo. Charlie imaginou o que seu pai responderia.

- Não fica com ciúmes dela... Jessie também quer te conhecer, mas ela não sabe que o único lugar possível é aqui...

Sua fala se perdeu no vazio. Silêncio, apenas silêncio. Era como se estivesse falando sozinha.

Ah, sozinha.

- Droga. - Grunhiu.

A primeira lágrima do dia escorreu pelo rosto e caiu no chão. Depois outra, e depois outra. A barragem se rompeu.

- Droga...

Suas mãos escorregaram pelas pernas, seus dedos pressionaram o lugar onde estavam com força.

- Droga! - Gritou para si mesma, quando a última lágrima caiu sobre a lápide.

Suas mãos vieram ao rosto. Por que ainda ia ali? Era doloroso, muito doloroso. Charlie enxugou o rosto com o cachecol, suspirou e se levantou.

- Droga...

Inclinou-se em reverência ao pai e se voltou na direção oposta. Estava de cabeça abaixada, como se algo a mantivesse assim.

Dark Place - The MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora