Capítulo 18 - A carta da Joalin

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Por mais que o outono oferecesse uma temperatura agradável, Joalin podia sentir a brisa fria tomar conta de seu corpo, fazendo-a se encolher entre as roupas que vestia enquanto observava o cenário que presenciava. Ela não apreciava nem um pouco aquele lugar e nem se via confortável ali. Os seus familiares abraçando uns aos outros, as poucas árvores, porém os vários túmulos que haviam ali emanavam os piores sentimentos que podiam existir em um cemitério, a tristeza e o luto. Os passos de todos foram tão lentos naquele momento, mas quando mais eles se aproximavam do lugar onde Johanna Loukamaa iria ser enterrada, mais a dor se espalhava. Assim que todos pararam no lugar escavado, com dois dos funcionários que trabalhavam naquele lugar sombrio, que levavam o cubículo em que a mulher se encontrava, Joalin sentiu um peso tomar conta de seu corpo fazendo-a cair de joelhos perante àquela lápide com o nome que mais amava. Deixou-se desabar sobre seus sentimentos, já sentindo as lágrimas quentes caírem insistentemente sobre seu rosto e, devastando seus pensamentos, tudo o que havia lido naquela carta passou pela sua mente, enquanto ela era abraçada por Robin e Sina.



'Acho que finalmente chegou a sua vez. Sinto que não irei encontrar palavras suficientes para poder conseguir dizer o quanto ter você em minha vida mudou tudo. Quando engravidei de você, eu já tinha uma filha, então pensei que não haveria nenhuma novidade, afinal, todos os partos são iguais, todos os bebês são iguais; nossa, como fui tola de pensar dessa forma. Apesar de ter sido um parto tão igual ao da sua irmã, eu senti emoções diferentes, senti lágrimas escorrerem em meu rosto, senti meu coração bater tão forte que eu jurava que parecia que cavalos trotavam nele. E quando a enfermeira te colocou em meus braços, e seus olhinhos negros entraram em contato com os meus, soube que não importa quantos filhos temos, com cada um sentimos emoções diferentes. Você foi uma filha de ouro, tirou as melhores notas na escola, desenhava maravilhosamente bem, sempre muito educada e gentil com todos a sua volta, e quanto mais eu via seu crescimento, mais eu sabia que havia te criado da maneira certa. Para ser sempre uma boa menina.

Joalin amava a mãe mais do que tudo e sempre foi capaz de qualquer coisa para demonstrar o sentimento que sentia, ela percebeu, da pior maneira, que nada do que fazia pela mãe, chegaria aos pés de tudo o que ela já fez por ela. Mas doía. Doía tanto saber que iria acordar e sua mãe não estaria ali para preencher o vazio, que não irá mais poder ouvir o som calmo de sua voz ou sentir o aconchego que seu sorriso transmitia. Desde o dia que sua mãe disse que estava doente, todas as noites ela imaginava como seria viver em um mundo onde a mãe não habitava, mas hoje, ela pode dizer que a sensação de sentir isso verdadeiramente, é mil vezes pior.

Joalin não podia conter suas lágrimas, ela sentia o peso de todas elas sobre o seu rosto e aquele sentimento ruim tomar conta de si. Não conseguia fazer mais nada a não ser chorar, chorar e chorar, além de relembrar de tudo de bom que a mãe a fazia sentir e o mal que a fizera quando ela partiu. Tudo isso doía tanto que ela desejava não sentir nada nesse momento, mesmo que ela nunca gostava de brincar com essas coisas.

Colocou as flores acima da lápide, depois que o corpo da sua mãe havia sido enterrado, selou os lábios sobre seus dedos e os pressionou contra as letras que formavam o nome da mulher e levantou-se. Sina a olhou com os olhos cheios de lágrimas, que Joalin sabia que mistura o fato da mãe e do Noah não estarem ali, fora que Joalin sentia o mesmo, mesmo que Robin estivesse ali, não era quem ela realmente queria que estivesse. Sofya era a única que era abraçada por quem realmente amava. Não que sentisse inveja da irmã, muito pelo contrário, sentia-se feliz que ela finalmente havia seguido o caminho certo, mas não podia negar que, naquele momento, queria poder sentir o mesmo.

Os familiares se abraçaram com ternura, um tentando curar a dor do outro. Joalin reconheceu alguns tios, tias, amigas de sua mãe, mas era algo mais familiar. Todos iriam para a casa onde sua mãe morava, para um almoço em família, porque queriam entrar em um luto coletivo por não ter mais a presença de Johanna ali.

Idas e Vindas-JoaleyOnde histórias criam vida. Descubra agora