Ela estava encolhida na cama, querendo conter toda a dor presente em seu corpo e que destroçava seu coração.
Lembranças de quando havia descoberto que a mãe não habitava mais o mundo vinham em sua mente. Andava de um lado para o outro na sala de hospital, nervoso. Sua irmã dizendo para que ele ficasse calmo, aquilo havia sido apenas um mal-estar, e a mãe logo estaria em casa. Só que ele sentia, mais do que ninguém, que a irmã estava dizendo aquilo para acalmá-la, mesmo que estivesse da mesma forma que ela. Quando o médico chegou com uma expressão triste, soube que sua vida acabaria ali, quando saíram da boca do médico palavras que destroçaram seu coração. Sua mãe não havia resistido, mesmo depois de ter sido reanimada, os medicamentos já não funcionavam mais com ela. Não podia acreditar, mas não podia duvidar dos seus ouvidos. Sua mãe não estaria mais ali, preenchendo a casa com seu sorriso radiante e sua gargalhada contagiante.
Não quis dizer nada assim que chegou em sua casa, não esperou nem que a irmã tentasse o dizer coisas confortantes, só queria ficar sozinha, queria sentir sua dor sozinha. Então apenas pegou a carta que a irmã havia lhe dado assim que saíram do hospital, se trancou no quarto e se jogou na cama, para que pudesse chorar tudo o que estava entalado no hospital, já que usou toda a força presente em seu ser, para que pudesse abraçar a irmã mais velha e lhe dar força.
A chuva começou a cair do lado de fora e a janela estava entreaberta, na inútil esperança que o vento entrasse e entrasse em seu pulmão, já que estava ficando impossível de respirar naquele quarto abafado. A dor sufocava, e ela nem ao menos conseguia respirar direito. Sentou-se na cama, limpando as lágrimas com a palma da mão, rolando os olhos pelo seu quarto. Onde a mãe sempre passava pela porta com a pilha de roupas limpas e reclamava da sujeira do quarto, desligando seu vídeo-game quando percebia que ela estava jogando demais. Eram só as duas naquela casa, suas irmãs já não moravam mais ali. Sentiria saudade dos almoços juntos, ou das noites assistindo reality shows bobos que passavam na televisão. Seu quarto agora só tinha o cheiro da mãe. Cada parte dali haviam um toque dela.
Passou os olhos pela mesa, o notebook, livros e enormes pilhas de trabalhos do colégio que estava fazendo nos últimos meses, e também havia ali a carta que a mãe havia deixado para ele. Estava optando se lia ou não, porque não sabia se aguentaria, mesmo que fosse necessário. Levantou-se da cama acochoada com a fronha que a mãe havia lhe dado de presente, caminhando até a mesa do seu quarto, sentando na cadeira.
Com parte do seu cabelo de um lado do rosto e a claridade, dava para notar que sua pele estava pálida e os olhos, inchados de tanto chorar.
Segurou a carta com as duas mãos, tomando coragem para ler o que estava escrito.
'Para Sofya, a minha caçula'
O que encontrava ali, no silêncio ensurdecedor que vinha da casa, era apenas o vazio, a tristeza e a dor por não saber como seria sem a mãe daqui para frente. Sua última recordação com a mais velha, foi dela se despedindo na noite seguinte para que pudesse dormir. Ao contrário de muitos, sua mãe sempre teve um sorriso no rosto, beijou a testa das filhas e do neto, para que pudesse se deitar. Acreditava que, sorrindo daquela maneira, demonstrava confiança, amor e tranquilidade para que as filhas pudessem dormir mais tranquilas. Só que fundo, ela sentia que não passaria daquela noite, seu corpo a demonstrava isso. Ainda mais quando sentiu a brisa a levantar quando fechou os olhos para dormir. No dia seguinte, as filhas a encontraram quase sem vida, chamaram a ambulância e ela não resistiu no hospital.
Todas aquelas lembranças começaram a deixar sua respiração mais pesada, e ela inflou o peito, buscando por ar quando viu uma foto dela com a mãe no porta-retratos na cômoda ao lado da cama. Lentamente, decidiu fechar os olhos, deixando que as lágrimas escorressem por toda extensão do seu rosto. Queria buscar por um lugar onde fosse possível livrar-se de todas aquelas recordações, sensações e lembranças. Mas tudo ali naquele quarto, naquela casa, naquele lugar, tudo a lembrava.
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Idas e Vindas-Joaley
Fiksi PenggemarBailey e Joalin tinham apenas oito anos quando se conheceram num campo dos EUA em Los Angels, uma cidade calma e coberta de paz. O destino os separa quando os pais de Bailey acham melhor para o filho que voltem para as Filipinas e construam uma vida...