Realidade simulada

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Como de costume, às 14h, Haknyeon voltou ao laboratório e encontrou a cadeira de Hyunjae vazia, seu holograma em modo repouso. Deixou seu tablet ali e, antes de sentar no seu lado da mesa, olhou em volta. Todos os outros estagiários estavam ali por perto, então por que não Jaehyun? O comportamento estranho de seu aprendiz estava começando a lhe irritar, mas mesmo assim ele esperou mais quinze minutos. Podia ter ido ao banheiro, pensou, podia estar passando mal e talvez de ansiedade.

Haknyeon suspirou e se concentrou no próprio trabalho até que mais meia hora se passou e não havia notícias do nerd nervosinho. Então ele deu a volta na mesa e sentou de frente ao computador que ele usava, ligou os monitores e passou a procurar pelos trabalhos alheios enquanto o ligava, com o celular na mão livre. O número de Jaehyun chamou várias vezes antes de alguém atender e permanecer em silêncio.

- Sr. Kang? - havia barulho de trânsito no outro lado da linha conforme Haknyeon descobria algumas guias ocultas no canto da tela - Pode voltar ao laboratório? Precisamos continuar o trabalho.

- Sim. Estou a caminho - Respondeu uma voz muito diferente da que Haknyeon lembrava, essa era mais grave e contida, nada como a do seu aprendiz. Logo a chamada foi encerrada e o Ju emitiu uma risada nervosa, de tão confuso que estava. Depois de alguns cliques, o cientista achou o programa pirata e finalmente percebeu qual era o verdadeiro trabalho do suposto estagiário. Ele havia acessado uma pesquisa que nem mesmo ele sabia da existência. Haknyeon abriu o arquivo de texto que ali havia, vendo que estava incompleto, havia apenas título e resumo. O resto estava em branco, como se estivesse apagando aos poucos.

"Código Mental: o caminho mais eficaz para a criação de máquinas humanizadas e autônomas".

Haknyeon suspirou em espanto ao ler o resumo, suas mãos agiram rápido para desligar o aparelho e logo voltou para seu próprio acento. Seu olhar percorreu o laboratório procurando Kevin de forma instintiva, logo abaixou a cabeça e, com toda a dificuldade, voltou a trabalhar fingindo não havia visto nada. Pelo menos por enquanto.


Hyunjae acordou num susto, estava ofegante e assustado, sua cabeça doía com a enxaqueca mais forte que já havia sentido. Quando abriu os olhos havia uma luz forte sobre si, impedindo que visse ao certo onde estava, mas estava num chão liso e frio. Havia muito espaço vazio em volta, então Hyunjae ficou de pé, ainda ofegante.
Sua dor de cabeça não passava e cada batimento de seu coração parecia um grande esforço. De repente, teve a impressão de estar em um sonho.

A primeira memória que Hyunjae teve foi de Jacob, deitado sob uma superfície luminosa, seus olhos fechados enquanto repousava num ambiente que com certeza não era o mesmo em que estava agora. Num reflexo, ele olhou para o braço esquerdo e viu o reflexo do metal, frio e brilhante; nem mesmo sua luva estava ali, seu disfarce havia sumido e então o hacker vestia uma roupa de malha preta e meio colada. Começou a andar por aquele salão escuro e vazio até que ele surgiu pelo canto do seu olho.

- Jacob? Jacob!

O rosto do droide se voltou na direção do Lee. Mas não havia a auréola verde em seu olho, nem os pontos de luz em sua pele, e sua expressão era de preocupação. Hyunjae correu até ele e o abraçou, sendo retribuído no mesmo instante. Por que aquilo ainda parecia um sonho? Mesmo quando os braços de Jacob o apertavam e a sua força era plenamente sentida. "Conforto, curiosidade".

- Eu já estive aqui - Jacob ditou antes que o humano cortasse o abraço para logo segurar sua mão, enquanto o ouvia - É a minha primeira memória. Eu estava aqui, sozinho, minha cabeça doía.

- O que quer dizer? - Hyunjae não queria poder se preocupar novamente, mesmo quando a descrição que o outro dava batia tanto com o que acabara de viver. Encostou o nariz no dele e fechou os olhos, conforme segurava Jacob com ambas as mãos.

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