Rota de colisão

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O dia de Juyeon estava sendo uma montanha russa: já havia pegado carona no atraso de Hyunjae e chegado no departamento de polícia mais tarde que o previsto, justamente pela ajuda que tinha dado ao seu parceiro naquela manhã. Ele entregou para o detetive-chefe as fotos que mostravam Sungho penhorando o bracelete de Donghee, então assistiu os policiais surpresos e animados com o material novo que reafirmava a narrativa de que o Choi havia sido morto por um homem de histórico violento e que estava desesperado por dinheiro. Com essa informação, Juyeon recebeu outras em troca, vindas de seu contato no departamento.

O Lee previa que não demoraria muito até a polícia entrar em suas viaturas e partir em busca de Park Sungho. Mas ele não estava animado com essa visão. E, após ter almoçado um sanduíche frio de presunto e escutado a discussão que vinha do grampo do escritório de Chanhee, Juyeon teve certeza que tudo não passava de um teatro bem roteirizado. Agora ele tinha sua hipótese completa, mas com a demora de Hyunjae em vazar as informações principais, ele tinha cada vez menos tempo.

Às 14:30 o detetive se ergueu da escrivaninha do seu escritório e correu até o carro, que ficava estacionado ali perto, na rua malcheirosa e movimentada. Juyeon precisava checar apenas mais uma peça que faltava naquele quebra cabeça, assim montaria sua resolução durante a noite e pela manhã do dia seguinte apresentaria sua visão à polícia, era como planejava. Entretanto, ao entrar em seu veículo ouviu uma vibração estranha, até notar o celular transparente de Hyunjae afundando no vão do banco do passageiro.

Seu dia já havia sido tão surpreendente, pensou ele, que nada poderia acontecer demais se ele atendesse a chamada que vinha de número desconhecido. Logo Juyeon reconheceu a voz contida de Haknyeon:

"Sr. Kang? Pode voltar ao laboratório? Precisamos continuar o trabalho."

O detetive respondeu que sim de forma seca, se passando por Hyunjae, e desligou imediatamente, sabendo agora que seu parceiro estava sumido do local em que deveria estar. Deu um murro no volante e xingou baixo, antes de soltar a embreagem de vez. Precisaria ser rápido para checar a folha de pagamento de Park Sungho e reunir todos os documentos necessários para que a polícia acreditasse em si, ainda que esperasse os arquivos vazados pelo hacker. Se não corresse contra o relógio, sentia que logo estaria em perigo, como Hyunjae poderia estar naquele exato momento, ele imaginou.
Enquanto dirigia o mais rápido que lhe era permitido, Juyeon lembrou da Sra. Daeun e em seguida de seu filho mais novo, Chanhee. Recordou-se das entrevistas que fez, e principalmente da última reunião; sempre foi difícil tentar analisar o estado emocional do Choi, ainda mais quando sua personalidade dominante preenchia seu imaginário, fazendo Juyeon se perder por um instante nos detalhes mais bobos. Os livros, os óculos, o chá, o olhar afiado. A resposta para o mistério nunca esteve ali.

O detetive suspirou, trocando a rota constantemente para não pegar sinais fechados. Dessa vez ele sabia que seu instinto de justiça falava mais alto.

Em um universo não muito distante, Hyunjae também se apressava pelas ruas neon de uma cidade virtual, mas não menos realista. Ele sentia as vibrações do motor, via as trilhas de luz deixadas pelos competidores enquanto se moviam no asfalto quente. Ele sabia os comandos com destreza e se mantinha em primeiro lugar na corrida sem dificuldades, mas sabia que precisava sabotar para vencer o jogo. Foi apenas ao pensar nisso que um falso Sunwoo bateu na sua lateral, tentando empurrá-lo do viaduto em que passavam.

Hyunjae segurou firme o volante com as duas mãos, relutando em fazer o mesmo, afinal era muito fácil quando jogava na vida real, podendo reiniciar o jogo quantas vezes fossem necessárias, contudo aquele Sunwoo também parecia real: do sorriso brincalhão até os olhos arredondados. O castanho estava desesperado ao imaginar a morte de seu melhor amigo, mesmo que numa simulação.

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