Máscaras

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Já era quinta-feira. Três dias se passaram daquela forma agitada, conforme o detetive e o hacker trabalhavam juntos. Antes ficantes, agora parceiros. Mas Hyunjae também gostava da palavra “justiceiros”, e Juyeon revirava os olhos sempre que ele falava algo do tipo. As reuniões durante aqueles três dias funcionaram para que o Lee mais novo orientasse Hyunjae a como se comportar quando tivesse dentro da empresa; e também funcionou para que o hacker fizesse sua demanda de equipamentos. Com o adiantamento recebido por Juyeon, não foi difícil conseguir as escutas, os adesivos-coletores, holo-monitores, e a “mãozinha”, como Hyunjae havia apelidado sarcasticamente. 

Os adesivos-coletores eram como membranas transparentes e bem discretas que podiam ser depositadas nas pontas dos drivers para coletar informações sobre transferências de arquivos. Os holo-monitores eram CPUs do tamanho de canetas que podiam projetar sua área de trabalho através de hologramas. Funcionavam como computadores comuns mais discretos e que podiam ser encaixados em HDs maiores: perfeito para espionagem. Já a “mãozinha” era literalmente uma luva feita com o mesmo tecido à base de carbono, que simulava a pele humana e sua textura, fazia parte do disfarce de Hyunjae.

 Contudo ele quis ousar e disse à Juyeon que ativaria, dentro da pele da luva, o sistema de reconhecimento de digitais, do mesmo tipo que os droides da Prism possuem, com a diferença que as informações ficariam guardadas num HD pequeno em seu braço e não poderiam ser acessadas instantaneamente, como era o caso dos droides. A “mãozinha” poderia reproduzir o padrão das digitais coletadas e se tornar útil em leitores biométricos. Isto é, se tornaria uma ferramenta para acessar dados e abrir portas; Hyunjae só precisaria de um aperto de mão… E mais uns dias para que ela ficasse completamente pronta, então até lá, a luva seria apenas parte de seu disfarce.

Falando em disfarce, Juyeon deu para Hyunjae algumas de suas roupas mais comportadas que ficavam guardadas caso o próprio detetive precisasse de disfarçar. O hacker gargalhou ao vê-las quando o outro as levou até seu apartamento naquela tarde de quinta. 
Hyunjae estava animado, nem parecia que estavam fazendo algo tão sério… Talvez sua ficha não tivesse caído ainda. Pegou as roupas e as provou em seu quarto enquanto Juyeon esperava, sentado no sofá da pequena sala. A roupa era um blazer verde-escuro, uma camisa branca por baixo dele e uma calça mais justa, muito mais formal e diferente das que o hacker costumava usar, geralmente largas e despojadas. Havia também um óculos com pouco grau e de aro fino, vermelho escuro. Após se vestir, Hyunjae se olhou no espelho e resmungou.

— É realmente assim que esses nerds da Prism se vestem? 

— Sim, eu vi fotos. Essa seria uma versão mais discreta… Sabe, eles gostam de vestir blazers bem mais coloridos! Menos o CEO... — Juyeon sorriu e se esticou, tentando olhar para o quarto, mas estava meio escuro lá dentro — Ei! Kang Jaehyun, deixa eu ver como ficou!

— Puta merda… — Hyunjae xingou, sabendo que o outro o chamaria daquela forma para sempre. Saiu do quarto e mostrou o disfarce para Juyeon, que continuou a rir. De fato estava sendo o momento mais divertido para os dois desde uma certa noite de sábado; mas quando o viu, Juyeon também se lembrou de Chanhee e não saberia dizer porquê. Talvez pelos óculos — Eu pareço o meu avô... 

— Que bom que você me pediu a “mãozinha”. Uma mão de metal iria destoar muito nesse semblante — Juyeon interrompeu o resmungo, agora estava analisando o disfarce do outro. Hyunjae aproveitou a deixa e tomou a luva de pele de sua mesa, a vestindo pela primeira vez; ela cobriu sua mão metálica, colando firme como látex até depois do pulso. Agora se parecia exatamente com a sua de carne e osso. Ele a tocou com a outra mão, sentindo aquele material realista, mas que não tinha sensibilidade alguma e ficou quieto ao lembrar-se de Jacob pela milésima vez no dia.

Juyeon levantou do sofá e suspirou, pegando as próprias coisas, afinal também estava preocupado. Hyunjae olhou para ele antes que fosse, pois sabia que no dia seguinte ele começaria a tal espionagem.

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