Carne e osso

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Na manhã de sexta, Juyeon acordou num grande quarto, muito diferente do seu. Ali havia um chão de madeira escuro e polido, janelas grandes que iam do teto até o chão, longas prateleiras com livros e uma atmosfera leve onde ainda pairavam as memórias quentes da noite anterior. O sol finalmente tinha aparecido no céu da metrópole após aquele período chuvoso; agora seus raios insistentes atravessavam as cortinas claras e tocavam a pele do rosto de Chanhee, que abriu os olhos devagar.

— Já vai? — O CEO despertou ao perceber a pequena movimentação de Juyeon. Ambos ainda estavam nus e bastante sonolentos entre os lençóis brancos. 

— Eu preciso — Respondeu Juyeon, um pouco antes de esboçar um sorriso ao se lembrar da noite anterior. Houve de fato um ótimo jantar e, assim como ele já vinha desejando, ele e Chanhee tiveram a oportunidade de se conhecer melhor. O Choi era uma pessoa inteligente, tinha um senso de humor refinado, portanto Juyeon às vezes não entendia suas piadas.

Mas não foi problema nenhum para a socialização deles e logo ambos encontraram opiniões parecidas em assuntos como trabalho e literatura; também eles talvez tenham se identificado até demais no tema “família problemática”. Ainda assim, há um charme a mais quando se combina tão bem com alguém.

Juyeon levantou e passou a se vestir com as peças que havia deixado sobre o recamier; ainda era observado pelo Choi.

— Podemos nos encontrar mais vezes? — Chanhee perguntou, seu olhar era sincero, mas também um pouco ansioso — E sem qualquer dívida?

Juyeon terminou de pôr o cinto na calça e voltou a se inclinar sobre o mais baixo. Roubou-lhe um selar e Chanhee só conseguia pensar o quanto gostava de suas ações inesperadas. Desde o começo ele o surpreendia.

 — Quer ver um filme amanhã à noite? — o Lee sugeriu. 

— Só se formos no cinema vintage — Chanhee respondeu sorrindo, com um ar meio provocador.

— Não se preocupe, Sr. Choi — Juyeon provocou de volta, recebendo em seguida uma risada baixinha do outro e um travesseiro atirado em seu ombro. Riu ao se levantar e pegar o casaco; depois os dois se despediram e o detetive pôde ir embora, desceu as escadas e cruzou os corredores da casa larga e bem decorada, até sair. 

O Lee já estava acostumado em achar as coisas mais incríveis nos lugares mais improváveis. E aquela noite que se passou realmente havia sido incrível no sentido de que o detetive nunca a imaginaria em seus detalhes mais satisfatórios: da forma que Chanhee rebolava sobre si enquanto transavam naquela cama, até o jeito que ele entrelaçou a mão na de Juyeon depois que já tinha pego no sono. 

Enquanto removia o carro do estacionamento, ele suspirou, se preparando para enfrentar sua nova rotina e encarar dois jornalistas curiosos, talvez três. Não se importava, principalmente pois talvez fosse agora que tudo começaria a melhorar, mesmo que devagar. Assim gostaria que fosse: segurando a mão de alguém que o compreendesse tão bem apenas por olhar em seus olhos. E sua intuição lhe dizia que Chanhee era esse alguém.


Após todas as sessões do julgamento de Choi Woosuk, Jacob passou por diversos testes que comprovaram sua autonomia e que também justificaram de onde ela vinha. A diretoria da Prism havia concedido muitas facilidades com sua documentação; também tinham se disponibilizado para reformar detalhes de seu corpo e na sua aparência: removeram os pequenos pontos de luz em sua pele e a auréola luminosa de seu olho, assim ele não seria confundindo com outros droides normais.

Qualquer outra alteração opcional também ficaria livre para sua escolha. Logo foi retirado a marca da Prism de sua programação e foi proibido legalmente o acesso a suas memórias por terceiros, tornando-as, assim, pertencentes a Jacob e somente a ele.

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