O veredito

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Foi uma longa noite na delegacia. O depoimento de Choi Woosuk foi o primeiro a ser colhido antes que ele fosse detido em um compartimento mais seguro. Portanto os jovens aguardaram numa sala de espera onde havia bancos, uma pequena enfermaria e uma máquina de café. Juyeon, Chanhee, Hyunjae e Jacob se entreolharam em silêncio, sem ideia do que dizer um para o outro e na presença dos outros policiais que os vigiavam enquanto eles esperavam. Os únicos que conversavam algo eram Haknyeon e Kevin, que sentavam mais adiante no corredor. Pareciam se entender ao que o Moon tagarelava, perplexo.

Jacob, que recebera um choque do cientista mais velho, tomou um tempo para se reconfigurar depois que foram escoltados na empresa. Voltou a responder apenas quando já estava na viatura, a caminho daquele lugar. Hyunjae não entendia muito bem porque o droide ainda estava com eles em vez de ter sido encaminhado para uma das garagens onde sua memória poderia ser escaneada. Mas agradeceu por ele estar ali, inteiro como desejava que ele sempre estivesse. Sentaram lado a lado no banco e Jacob notou a expressão cansada e confusa do outro, então deixou que ele repousasse a cabeça em seu ombro para tirar um cochilo.

Quando toda a burocracia policial havia passado juntamente com todos os depoimentos, muito pôde ser esclarecido para Hyunjae. Enquanto Jacob era entrevistado, ele e Juyeon puderam se reunir em uma das mesas na cafeteria da delegacia. Em volta estava mais quieto, mas pela janela dava para ver a imprensa começando a se reunir na frente da entrada do prédio, pessoas ligando suas luzes e câmeras. Juyeon tinha sua caneta na mão, rabiscando sobre um guardanapo, receando ter que enfrentar aqueles jornalistas mais tarde.

— Você acha que ainda podemos nos ferrar de alguma forma? — Hyunjae perguntou, vendo as bolhas estourando no próprio café. Juyeon coçou o olho antes de responder.

— Não. Só se tivéssemos atrapalhado eles, mas nós ajudamos.

— Não quero ir pro noticiário — Hyunjae resmungou — assim todos vão saber do meu emprego de merda… Na verdade a polícia já sabe né, já basta...

— Não se preocupe, vou resolver essa parte. Pois aposto que a polícia ia preferir ter você como aliado, ajudando aqui do que largado na rua desperdiçando seu talento.

Hyunjae gargalhou antes de tomar mais um gole do café. 

— Então me diz — o hacker continuou — o que tinha naquele sistema? Não deu tempo de ver, o cara me pegou antes que eu voltasse pro computador.

— Haknyeon achou o que você tinha descoberto. Não era a pesquisa toda, só uma parte dela, alguns documentos que provavam sua existência. Donghee e Woosuk estavam testando o sistema de codificação em seres humanos. 

Hyunjae manteve a xícara na mão, olhando para ela com o olhar meio vago. Lembrava da simulação que tinha enfrentado, lembrava de ter atirado um arpão num outro Juyeon, o visto morrer de uma forma horrenda enquanto tentava se lembrar que aquilo não era real. Mal sabia que suas reações e sentimentos estavam sendo apenas estimulados para serem processados em seguida. O hacker sentiu náusea e deixou a xícara de lado com sua mão mecânica.

— Ao que tudo indica — Juyeon continuou — Donghee havia idealizado o projeto, mas seu tio ficou obcecado por ele. Juntos eles estudaram a atividade cerebral de 43 pacientes; a maioria estava em coma a mais de meses e as famílias escolhiam vender seus cérebros… Alguns vendiam tudo. E essa é uma prática ilegal, principalmente porque os órgãos não estavam mortos quando eles os testavam. Havia uma forma de contenção líquida criada para que ao menos o cérebro se mantivesse ativo. Foi essa contenção que fizeram Kevin confundir com um HD para que ele participasse do projeto.

"Contudo só o 43º paciente havia sido resistente à essa contenção e passou para a fase de codificação. A esse ponto Donghee não via mais sentido em prosseguir, ele entendia que o processo podia se tornar uma tortura para o paciente… Acho que você sabe bem, foi exatamente isso que Woosuk tentava testar em você quando chegamos."

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