Eu estava fervendo de raiva, assim que ele abriu o portão fui com o punho cheio no meio da cara dele, nos agarramos e a briga foi feia, isso tudo na varanda, o marido da mulher que reclamou do barulho veio nos apartar.Fiquei com meu nariz ensanguentado e David com o olho roxo e hematomas pelo rosto. Toda a vizinhança acordou, o marido da mulher me puxou pra fora da varanda e outro rapaz segurou David que gritava totalmente aborrecido: — Desaparece da minha vida seu caralho, nunca mais eu quero te ver idiota, pra mim já deu seu ignorante.
Eu gritei explodindo de ódio: — Eu é que não quero mais te ver seu veado safado, vai você e o cuzão do Talles pro inferno, lasquem-se seus filhos da puta.
Quem não sabia que eu e David éramos namorados, ficou sabendo neste dia.
Na moral, eu fiquei fora de mim, sair de lá aturdido e fui direto pra praia de Boa Viagem, pensei em ir numa quebrada atrás de uma arma ou alguém que assassinasse o David e o Talles, eu pagaria. Mas respirei fundo e deletei essa ideia do meu pensamento. Na mesma hora tive outra ideia: corta-me e jogar-me no mar para que um tubarão aparecesse e me devorasse. Exclui também essa.
A praia estava tranquila, quase sem ninguém, sentei-me desesperado na areia olhando para os lados como um louco, não conseguia parar de chorar. Poxa velho! Isso é inacreditável, meu melhor amigo, aliáis, um irmão me trair dessa forma tão mesquinha e descarada? Analisei aos poucos que os dois já haviam tendo um caso as minhas costas, e temiam me contar por pena, como são covardes.
Levantei-me e fui até o mar, mas não estava pensando em me suicidar. Entrei com roupa e tudo, a maré estava baixa, fiquei onde a água cobria o joelho. Admirei aquele marzão por uns quinze minutos, depois olhei para minha mão direita e reparei que algo que entrelaçava a minha vida com a de David permanecia ali agarrado em meu dedo, a aliança de prata. Imediatamente a puxei com ódio e arremessei longe contra o mar. Depois fui pra casa.
Chegando em casa tomei um banho com água fria e me joguei na cama arrasado, só acordei às 16h, comi alguma coisa, tomei um calmante e voltei pra cama, acordando na segunda-feira às 9h.
Liguei para o meu trabalho avisando que eu estava impossibilitado de comparecer, mas que na terça-feira estaria lá com certeza. Como eu estava péssimo, num estado nunca presenciado em meu corpo, fiquei como um zumbi em meu apartamento, com o olho inchado de tanto chorar. Resolvi então desfazer de todas as coisas que representava a presença de David. Comecei pelo meu quarto, abri o guarda-roupa e joguei no chão todas as roupas de David (ele estava trazendo seus pertences aos poucos, próximo ano ele viria morar comigo e iríamos nos casar no cartório). Peguei também as roupas que ele me deu de presente, enfim, tudo o que tinha dele e o que ele tinha me dado fiz um arsenal e levei pra sala, joguei no chão e fui para o meu escritório. Abri o armário e retirei todos os livros de romance que ele me deu, fechei e passei para a estante jogando no chão todos os CDs, DVDs e blu-rays. Afinal todos marcaram a nossa história, não vale a pena ficar com nenhum deles. Peguei uma caixa vazia na área de serviços e coloquei tudo dentro, incluindo álbuns de fotografias digitais e manuais. Liguei o computador e formatei, levou horas, mas eu tive paciência. Retirei de todo o apartamento os porta-retratos, principalmente o banner de 5m² de nós dois que decorava a sala (lembrança dos nossos cinco anos de namoro). Quando percebi uma montanha de bugigangas ficou no meio da sala. Desci com toda essa tralha e deixei em frente do edifício para que o carro do lixo levasse. Subi, tranquei a porta, encostei-me a parede e escorreguei até o chão, sentei e chorei muito, soluçando. Era como se eu acabasse de arrancar um pedaço de mim, infelizmente eu tive que fazer isso, continuar com as lembranças de David no meu apartamento, seria pior.
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A cura da traição (Conto Erótico Gay)
Short StoryTraído covardemente pelo amor da sua vida e o seu melhor amigo, Jackson tenta seguir em frente, porém o destino coloca em seu caminho Walisson, será que este é a cura dessa cruel traição?