CAPÍTULO SEIS

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  Não olhei mais e fiquei ali curtindo o descanso, um tempo depois uma voz grossa e pra ser realista “excitante” perguntou: — Você mora por aqui?

  Virei-me e respondi: — Não, só estou passando as férias na casa da minha vó.

  Ele falou enrolando o nylon na vara: — Pois é, eu nunca te vi por aqui e tomei um susto, tem que conhecer muito essa área pra vir pra cá. Você não tem medo de se perder?

  Levantei-me e fiquei de lado olhando pra ele, respondi: — Não! Na infância eu, meus primos e irmãos andávamos por essas redondezas. Nós éramos tão danados que íamos parar lá no antigo engenho.

  Ele sentou na rocha próxima de onde eu estava e falou com humor: — Nossa! Dá pra ver que você curte aventuras.

  Tirei os óculos para vê-lo melhor e me encantei com sua beleza estonteante, e delirei quando prestei atenção na cor de seus olhos castanhos claros.

  Fiquei com os lábios ressecados e molhei-os discretamente, sentir certo desejo, então fiz o máximo possível para que não transparecesse. Sentado respondi a sua pergunta: — Sim, mas faz tempo que não me aventuro.

  Ele falou amistosamente: — Legal! Desculpa a maneira que eu te dei bom dia, acho que fui rude, mas é que eu me assustei. Como falei pra você, tem que ser muito aventureiro para atravessar essa mata e vir pra cá.

  Ele se aproximou mais pra perto de mim, e apresentou-se: — Prazer, meu nome é Walisson.

  Ele estendeu a mão para cumprimentar-me. Apertei firme sua mão grossa e macia.

  Apresentei-me também: — Beleza Walisson, eu sou Jackson.

  Eu estava curioso para saber tudo sobre ele, perguntei: — Você mora por aqui?

  Walisson respondeu: — Não, só estou passando este fim de semana na casa da minha mãe, já que minha namorada viajou por conta do trabalho. Eu moro em Petrolina.

  Entristeci quando ele falou em namorada, mas fui totalmente discreto matando dentro de mim todas as esperanças de provar aquela beldade exposta na minha frente, sem chances. Dei uma espiada rápida e sigilosa para o pacote no meio de suas pernas.

— E você Jackson, mora aonde? — Walisson perguntou, sempre amigável.

— Moro no Recife, e infelizmente amanhã terei que voltar, segunda-feira estarei firme e forte no batente.

  Ele esticou as pernas, estendeu os braços pra trás se apoiando na pedra, e falou: — Poxa, você passou um mês aqui e deixou pra fazer trilha no último dia? Não sabe o que perdeu.

— É que eu me lembrei daqui ontem, gostaria muito de vir com meus primos, mas eles estão trabalhando, se eu lembrasse antes, viríamos todos nós. Pelo o que percebi você adora pescar não é? — Perguntei.

— É, mas até agora não peguei nada, estou sem sorte. Outro dia eu peguei um lambari deste tamanho. — Walisson fez o gesto com a mão.

— Que massa, você trabalha Walisson? — Indaguei.

— Sim, sou vendedor externo de uma concessionária automotiva. E você Jackson? — Walisson quis saber.

— Sou coordenador de um Call Center e estou no quarto período do curso de publicidade. — Falei.

— Bacana, eu já estou no segundo período da faculdade de biologia. Qual a sua idade? — Hum, ele estava interessado.

— 23 e a sua?

— 24. E aí “Jackão” tu eis casado ou só tá pegando? — Ele perguntou em um tom sarcástico.

  Ele entrou em momento delicado, que repentinamente trouxe David em meus pensamentos, troquei o nome de David por Daiana e contei toda a minha história. Pareci um idiota, pois eu contei rindo e me segurando para não chorar, porque se não o que ele iria pensar de mim? Que eu sou um tolo? Um corno e é isso o que dar quando se é romântico e sensível? Por mais que tentei, levando meus sentimentos para o humor, foi em vão, deixei rolar uma lágrima e em seguida outras vieram descompassadamente banhando o meu rosto. Ele pulou da pedra que estava para a minha, sentou ao meu lado e me abraçou.

— Desculpa Walisson, mas não está sendo fácil pra mim, estou passando pela mesma dor quando alguém perde um ente querido. — Falei, tentando, mas não parava de chorar.

— Relaxa velho, eu nunca passei por isso, mas imagino o que você esteja sentindo. — Ele falou me abraçando forte, quase encostando seu rosto no meu. Ao sentir aquilo fui controlando-me e pouco tempo depois parei de chorar.

A cura da traição (Conto Erótico Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora