quatro

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— Ai, não — lembro vagamente de me levantar rápido naquele momento — Onde ficaram meus sapatos?

— O que foi que aconteceu com você? — Zhongli saiu da cozinha de pijama e com uma xícara de café nas mãos — Pra onde vai todo afobado assim?

— O horário, cara. Vamos perder a primeira aula — minha voz saiu meio esganiçada — Eu vou perder a prova de história. Que droga, a Bao'er vai me matar.

Foi a primeira vez que vi Zhongli gargalhar tanto. Quase cuspindo o café, ele põe a xícara na superfície mais próxima antes de pôr a mão no rosto, apertando o osso que delineia o seu nariz para acalmar a respiração.

— Desculpe, isso foi hilário. Não sabia que estava tão preocupado com o colégio assim e fico feliz que está tão determinado a estudar, mas, infelizmente, hoje é sábado e não temos aula. Ainda menos temos prova de história.

— Ah.

Sento no sofá e jogo o blazer novamente em cima da mesa de apoio. Zhongli para e se apoia na lareira bem a minha frente, ele ainda está se segurando para não rir.

— Acordou de bom humor hoje, né velhote? — falo, amargo.

— Cala a boca, Tortuguita — ele ri, soltando o ar pelo nariz — Tem café na garrafa e o resto da sopa está na geladeira. Agora, levanta e vai comer.

— Tanto faz — resmungo.

Do ponto em que estava na cozinha, — entre a geladeira e o balcão ao lado do fogão e de frente a pia — dava para ver Zhongli pela janela, cuidando de uma muda de planta enterrada em uma jardineira.

Ao estar em casa, ele parecia mais confortável e disposto a conversar do que na escola. Se apenas o conhecesse como ele era no colégio e alguém me contasse como ele era casa da forma como eu o via agora, — um adolescente barra jovem adulto obcecado por cafeína e plantas — eu poderia facilmente achar que fosse algum tipo de brincadeira.

E de muito mal gosto, aliás.

— Qual foi a do apelido? — paro perto dele com uma xícara nas mãos com a estampa mais brega que eu já vi na vida.

Ele coloca a última das mudas em um pequeno buraco e as cobre com um pouco de terra. Quando pergunto, ele para por um momento e, sem se virar para mim, retira as luvas de borracha enquanto fala.

— Seu sobrenome não é Tartaglia?

— Sim, é sim, mas... como você sabe disso? Não me lembro de ter te contado.

— A diretora me mostrou a sua ficha depois que me recusei com veemência em te ajudar — ele levantou e passou as mãos nuas na calça para tirar o pó — E aqui estamos nós.

— Isso não é, tipo, antiético?

— Provavelmente — ele pôs as mãos nos quadris — Mas, de preferência, guarde seus processos envolvendo o meu nome para depois que me formar. Tudo que eu não quero é ter a fama de dedo duro naquele colégio.

Zhongli pegou as luvas e o conjunto de jardinagem para guardar dentro de casa. Enquanto isso, observei o quintal que ele cuidava com tanto afinco — as mudas que cresciam na jardineira, os pés de tomate que se desenvolviam perto da cerca e a grande árvore de cuihua que fazia sombra na maior parte do lugar.

Ali, perto da árvore, escondida pela folhagem e pelo tempo tinha um pedaço de pedra. Não conseguia ver o que era direito olhando de longe, mal percebi que tinha deixado o café esfriar quando Zhongli parou ao meu lado.

— O que está olhando? — perguntou.

— Aquilo... O que é aquilo?

— Aquilo o quê?

𝐌𝐀𝐑𝐋𝐁𝐎𝐑𝐎 𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐒 • zhongli x childeOnde histórias criam vida. Descubra agora