dezenove

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Entrei na sala acompanhado por Shenhe; quando entrei, todos os olhares se voltaram para nós. Signora ainda estava sentada na beira da mesa, dessa vez, mais calma e composta, mas seus olhos ainda irradiavam fúria.

— Bem, ele está aqui, — a voz dela estava afetada, um pouco mais fina do que o normal — agora poderemos apresentar as propostas, não é? Quer ser o primeiro?

Olhei para a parede de vidro atrás dela, meus amigos e colegas de classe me encaravam com expressões de ânimo e incentivo — alguns mantinham os punhos frente ao peito como se estivessem prestes a entrar em uma luta.

De repente, um movimento naquela aglomeração. Passos para o lado, deixem-na passar! Encarando-me com grandes olhos vermelhos, — a cor dos olhos misturada com os resquícios do choro — estava Yunjin. Seu olhar me sondava profundamente; para qualquer um que não a conhecesse, pensaria que ela estava com vontade de me estrangular, mas, para mim, carregava um significado diferente.

Acaba com ela, Childe.

Pode deixar.

— Insisto que comece primeiro, madame — pigarreei, ajeitando a gravata — Aprendi que devo ceder o lugar aos mais velhos, odiaria ter que fazê-la esperar em pé.

Signora estreitou os olhos, o brilho assassino de suas pupilas claras cintilando sob a luz das luminárias sintéticas da sala. Um calafrio subiu pelas minhas costas, era diferente de todas as sensações que eu experimentara com Zhongli — graças aos conselhos de Shenhe, eu estava cutucando a onça com vara curta.

— Você precisa fazer com que ela hesite — Shenhe avisou enquanto retomavamos o caminho para aquela sala, o olhar fixo a sua frente — Ela tem mais prática e lábia que você, mas Signora tem pouco controle emocional, por isso se concentre em ataques diretos a sua imagem e credibilidade.

Funcionários paravam os trabalhos em suas mesas a medida que atravessavamos o salão. Olhares curiosos e cochichos baixos me atingiam como balas de borracha.

Eles estão olhando para mim. Não para Shenhe, não para outra pessoa.

Para mim.

Eles tinham posto suas esperanças em mim.

— O que você está querendo dizer, garoto? — a voz era baixa e cortante.

Signora estava de pé, parada na minha frente com os braços cruzados em frente ao corpo e o rosto impassível.

“Faz tempo que ninguém bate de frente com ela,” Shenhe comentou, “vai ser divertido de assistir”.

Espero que eu esteja te entretendo bastante, pensei, porque eu não estou me divertindo nem um pouco.

— É que, como alguém mais experiente, — enfatizei a última palavra para que apenas ela pudesse ouvir e meus ombros se retesaram — a senhora poderia se cansar mais e não queria que isso prejudicasse a sua apresentação.

Abaixei a cabeça, manti os olhos para baixo em sinal fingido de respeito e tentei incorporar meu melhor eu artístico — um lado que eu considerava acessível depois de todos os ensaios que eu treinava com Yunjin.

— Ora, seu... — minha mandíbula se fechou e segurei o reflexo quando vi a sombra da mão de Signora se erguer no ar.

Esperei o tapa que nunca chegou; quando olhei, Anisa segurava o pulso de Signora com o mais puro desespero no olhar. Não sabia se era por causa da própria atitude com sua superior ou pela situação em si.

Ouvi murmúrios baixos na sala, os colaboradores conversavam baixo entre si — enquanto fui elogiado por manter a postura e o código de conduta de Liyue ao cumprimentar o oponente, ela respondeu com uma (quase) agressão. Felizmente, as minhas palavras não chegaram aos ouvidos deles, duvido que seria elogiado por isso também.

𝐌𝐀𝐑𝐋𝐁𝐎𝐑𝐎 𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐒 • zhongli x childeOnde histórias criam vida. Descubra agora