nove

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Não me lembro muito mais daquela noite além daquele beijo. Tudo que se sucedeu era mais como uma lembrança antiga e borrada ou, simplesmente, uma brincadeira de mau gosto.

Lembro que Zhongli corou e virou o rosto. De quando o vi andar de volta ao terraço e me deixar para trás. De eu ir andando até em casa, deitar em minha cama e chorar até dormir. E nunca, nunca mais querer acordar.

Quase me senti aliviado quando eu me virei na cama e percebi que era sábado. E depois, só senti tristeza. Senti-me vazio.

— Bom dia, dorminhoco — era ela novamente, ostentava um grande sorriso no rosto — O café está na mesa.

— Não estou com fome.

Enrolei-me mais nas cobertas e escondo o rosto debaixo do travesseiro — o calor me sufocavam. Ouvi os passos dela no assoalho, os saltos que faziam aquele baque-baque habitual pararam ao meu lado na cama.

— Eu sei que não somos próximos nem nada, mas você está bem? — a voz dela era suave igual a uma brisa quente de verão.

— Por que a pergunta? — o som ainda saia abafado diante das cobertas.

— Eu te vi quando você chegou em casa ontem, parecia meio... desolado — ela se sentou na cama e eu, lentamente, me virei para ela — Não quis te aborrecer ontem, então esperei até uma oportunidade para conversar.

Sorri um sorriso desajeitado, um pouco constrangido por, apesar de eu a ter humilhado em frente áquele jantar, ela ainda estava disposta a me ajudar.

Uma nova mãe”?

Boa tentativa.

— Olha, não precisa se preocupar, está bem? É só-

— Você está apaixonado, Tartaglia? — ela falou assim, tão brando quanto um tapa na cara.

Congelei. Minha mente era um tabuleiro de damas e eu estava encurralado. Quanto mais eu tentava pensar, mais difícil ficava encontrar uma saída.

Pensa, pensa, pensa.

— Sabe, amar não é algo que você possa decidir. Além disso, não há nada de errado em gostar de alguém.

— Nem se ele for um garoto? — deixei escapar.

Idiota. Sou tão idiota.

Ela sobressaltou, mas o susto dela não foi nem de perto comparável ao que eu senti quando a respondi. Passado o breve choque, sorriu.

— Foi com quem você passou aquele primeiro final de semana? — perguntou — Sabe, aquele antes de nós chegarmos.

Zhongli aparecia em pequenos flashes diante dos meus olhos — lembranças dele regando os pequenos pés de tomate, rindo e jogando damas comigo.

Respirei fundo.

— Você é bem esperta, então por que decidiu casar com o meu pai? — ela riu alto, segurava a barriga como se a minha piada estivesse fazendo cócegas nela.

— Como eu disse: não é algo que você consiga decidir.

— Você aqui, apaixonada e eu achando que era um golpe do baú.

Quando a olhei, também sorri e me amaldiçoei um pouco por dentro por isso.

— Ele te magoou?

O meu sorriso sumiu tão rápido quanto apareceu.

— Ele não seria capaz disso, nunca — falei baixo — Fui eu quem pisou na bola.

Ela me olhou, confusa. E ficou triste quando contei o que tinha acontecido. Abraçou-me e afagou os meus cabelos, as minhas lágrimas rolaram pelo seu ombro e sujaram  as beiradas de seu lindo vestido azul.

𝐌𝐀𝐑𝐋𝐁𝐎𝐑𝐎 𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐒 • zhongli x childeOnde histórias criam vida. Descubra agora