𝐌𝐀𝐑𝐋𝐁𝐎𝐑𝐎 𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐒 • zhongli x childe

oito

Estava tudo claro, muito claro. Mãos corriam pelas minhas costas, empurrando-me para frente. Incentivos frívolos, vazios.

Fazia frio também. Penetrava meus ossos e congelava minhas veias, não me permitia andar.

Não conseguia respirar.
Não conseguia respirar.
Não conseguia respirar.
Não conseguia.

Minha garganta parecia se fechar.

"Acalme-se, vai ficar tudo bem", eles disseram.

"Respire e ande até lá", eles disseram.

Eles não entenderiam.
Ninguém nunca entende.

- Zhong, Zhong - Hu Tao estava segurando meus ombros e as mãos dela estavam quentes, tão quentes - Eu sei que você tem medo disso, mas não precisa se assustar.

Medo? Eu?
Por que ter medo?
Isso não é só psicológico?

Coisas ruins acontecem.
Pessoas ruins atraem coisas ruins.
Por isso tudo de ruim acontece com você.

- Não tenha um ataque aqui - com os olhos marejados, ela fala comigo - Quer que eu chame outra pessoa pra te acompanhar?

Outra pessoa. Ela tem alguém em mente mas não quer falar. Childe.

Suspiro.

- Ele está me esperando - minha voz sai baixa, apenas para que eu e ela possamos ouvir - Eu o deixei na plateia quando me chamaram para cá.

Ganyu olhava para mim com súplica. Yanfei parecia estar enrolando o máximo que podia.

Todos estavam dando o seu melhor.

Exceto eu.

- Ótimo, isso é ótimo - respira ruidosamente - Escute-me, quando entrar lá, olhe para o fundo do auditório, fixe seu olhar na porta e tente esquecer que tem gente ali. Caso não funcione, procure Childe na plateia ou a mim. Ficarei atrás das cortinas.

Concordei.

Hu Tao segurou o meu braço e andou ao meu lado até o limite que a cortina cobria os bastidores.

- Respire. Cabeça para cima e tente ser confiante.

- E se eu não conseguir?

- Finja que tem.

Senti o tapa que ela deu em minhas costas tarde demais: o susto me fez sair do lugar em que estava e me obrigou a andar.

Yanfei estava parada, o microfone na mão estava tão apertado que os nós dos dedos mais pareciam papel de tão brancos que ficaram.

Virei para o fundo do auditório e olhei a porta fechada.

Sala vazia. Pense em uma sala vazia e que não tem nada além da própria voz como companhia.

Inspira. Expira. Inspira. Expira.

De novo, de novo e de novo.

Não pude evitar correr meus olhos pelas últimas poltronas e lá estava ele.

Childe estava em pé e olhava diretamente para mim, eu o podia ler tão facilmente como se ele fosse feito de cristal polido.

Surpresa, confusão e descrença.

Senti uma enorme vontade de vomitar.

***

Zhongli estava olhando para mim - não expressava o descontentamento rotineiro ou a pontada fina de desprezo. Nem a alegria ingênua que costumava ter depois de uma boa piada.