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-O que ela disse?
-Disse que eu era o orgulho da vovó e um monte de coisas, mas não entendi nada.
-Ela deve estar com saudades.
-Ela com certeza está com saudades Bran. Você precisa vê-la. Ela tem o que? 25 anos e está cansada como se tivesse 50. Estou com medo.
-Não fique com medo.
-Ela pode estar deprimida Bran.
-Você pode ajudá-la. 
-Não sei como ajudá-la. Eu realmente quero, mas como?
Ele passa o braço pelo meu ombro buscando minha lateral e quando acha me puxa em um abraço para junto de seu peito, meu coração dispara pontinhos elétricos por todo meu corpo. Estamos no nosso banco de sempre e sob a luz das estrelas.  Ele apoia o queixo em minha cabeça e quando vai falar sinto a vibração em sua garganta e esta me causa ainda mais arrepios.
-Vou te ajudar Alice. Sei que não posso fazer muita coisa, você sabe, mas eu quero que você saiba que eu vou estar sempre com você Alice, meu ombro vai estar sempre aqui para você se apoiar e mesmo quando eu não puder ajudar Alice, eu prometo que vou ajudar.
Não sei o que falar, lembro de tudo que a Rosie falou sobre ele depositar confiança em mim e agora tenho absoluta certeza que ninguém seria mais capaz de tomar conta da minha.
Suspiro e quando ele lentamente leva minha mão até sua boca, eu a puxo para a minha e beijo os nós de seus dedos. Ele suspira dessa vez e eu o abraço  apertado.
Não consigo mais controlar meus sentimentos, não posso mais evitar. Estou completamente apaixonada.
Faltam apenas 3 dias para a chegada da Bárbara e ainda não contei à ela sobre Bran, às vezes acho que estou com vergonha por ele ser cego e me decepciono por eu ser tão egoísta. Também não sei como lidar com o fato de eu, Alice Oliver, ter me transformado, talvez fosse exatamente isso que meus pais queriam e acho que conseguiram. Me lembro de ter chegado de um jeito e me envergonho por algumas coisas que eu pensava e como eu era preconceituosa e mimada. A Alice de antes não estaria super afim de um deficiente visual e não teria feito amigos não-populares. Preciso falar com Bárbara antes que ela chegue, mas ainda não tomei coragem.
Bran me leva até meu quarto e me abraça novamente na porta.
Entro e comemoro com uma dancinha o fato da colega (nada colega) de quarto não estar presente. Assim que fecho a porta meu celular vibra incontrolovalmente em meu bolso. Faço uma careta quando vejo o nome do meu pai no visor.
-Alô minha filha inglesa? Como vai?
Ele fala bem entusiasmado e isso me faz fazer outra careta.
-Oi pai. Tudo bem. Fico feliz em saber que lembrou que tem uma filha.
Ele sorri sem graça do outro lado da linha.
-Não fala assim querida. Você sabe que eu e sua mãe te amamos.
-Tanto que me mandaram para outro continente. Obrigado por esse amor.
-É por esse amor que estou ligando pra avisar que já comprei as passagens para o Natal. Quero que acesse o site e confirme para  mim assim que puder.
-Ok.
-Só ok?
-Obrigado?
-Ótimo. Ele diz satisfeito,  mas eu entendo essa viajem como mais que obrigação de país.
-Ótimo pai. Tchal. Já vou dormir.
-Tudo bem Alice. Um beijo. Sua mãe está mandando. Sei que você não entende, mas fizemos isso porque é importante pra você.
Te amamos! 
Desligo depressa o celular, antes de mais um discurso paternal.
Combinei de ir almoçar amanhã com tia Jenn  e de jantar com Bran. Será um dia cheio então só penso em descansar, mas antes que minha mente repouse ela me lembra novamente das doces palavras de Bran e um sorriso me acompanha o restante da noite.
-Bom dia flor-do-dia!!!
Anne está me balançando animada. Ela está no meu quarto como? E que horas são?
-Que horas são Anne?
-Hora de aventuraaa!  Ela grita no meu ouvido gargalhando. 
-Aiii. Falo tampando meu ouvido.  Olho para o relógio que indica apenas 7 horas da manhã.
-Está cedo Anne. O que está havendo?
-Eu só queria uma amiga companheira e fiel para ouvir sobre meu encontro de ontem. Será que eu posso ter uma ouvinte aqui?
Sento na cama relutante e encaro Anne fazendo um biquinho de manha.
-Ok, ok... Fala.
-Foi maravilhoso! Foi à luz de velas e ele convidou uns violonistas para tocar "A thousand years" para mim. Ah esqueci. Ele me deu um buquê!
Suspirou. -Um buquê Alice! Mais suspiros. -Foi maravilhoso!
Fiquei encarando-a e comecei a rir de sua cara de boba. Ainda bem que nunca fiquei assim.
-Do que você está rindo? Ela ainda estava com a cara de boba.
-Pessoas apaixonadas são tão bobas. Gargalhei mais ainda quando ela fingiu estar ofendida. 
-Aé?  Ela cruzou os braços.
-É! Gargalhava ainda mais e ela não resistiu e se juntou a mim.
-E quem disse que você não fica bobona perto de Bran?
Parei de rir e senti o rubor tomando conta das minha bochechas.
-Ccomo assim? Agora eu cruzei os braços.
-Corou e gaguejou. Eu sou a boba aqui? Falou rindo e apontando para meu rosto.
Corei ainda mais e ela riu ainda mais.
-Vamos! Está na hora de se arrumar senhorita pimentão!
Levantei ainda sem graça e Anne se aproveitava da situação dando altas gargalhadas.
-Eu dou muito na cara?
-Vocês dois dão muito na cara Alice.
-Vvocês dois? Você acha que... ela me cortou.
-Ah não! Não e não. Não vem com essa de fingir não saber que o lado oposto também está interessado. Agora vá se arrumar apaixonadinha.
Dei um tapa em seu braço de brincadeira.
-Não enche.
Ela continuou gargalhando enquanto eu ía tomar um rápido banho pensando no que ela falou sobre Bran. Será?
.....................**..................
Tomamos café com Dilan e Bran e logo após, como de costume, Dilan e Anne saíram apaixonadamente, deixando-me sozinha com Bran e um sorriso que mexeu com meu estômago.
-Eaí Alice Irritadinha? Tenho planos para nós. 
Ele falou sensualmente com um levantar de sobrancelhas.
-O que é? 
Falo, ou teoricamente falo, pois na realidade apenas um fiozinho de voz saiu de minha boca. Até meu queixo cair com sua resposta.

O Amor não é CegoOnde histórias criam vida. Descubra agora