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Os dias foram passando tediosamente, como se todos os dias fossem o mesmo. Estava sentindo falta de pessoas e de festas, sentia falta de Bárbara e suas falas intermináveis. Eu e a maluca do quarto apenas nos evitávamos, já tínhamos uma noção da hora que cada uma não estaria no quarto e aproveitavamos esses tempos, isso era bom pois a única coisa que eu gostava dela era de sua ausência. As aulas eram extremamente chatas, mas eu estava me saindo bem, provavelmente porque eu não tinha mais nada o que fazer. Os alunos podiam sair do campus à noite apenas nos fins-de-semana, já era minha terceira sexta-feira ali e até agora não tinha dado uma escapada. Acho que se minha vó me visse agora ela daria uma boa bronca nos meus pais. Nunca estive tão desanimada e melancólica.
-Posso me sentar aqui?
Olhei para cima e encontrei os olhos verdes de Anne, ela estava apontando para a cadeira na minha frente. Estava almoçando no refeitório na mesma mesa de sempre, uma que ficava na parede e era de alguns nerds que aproveitavam o almoço para um jogo de xadrez, eu ficava mais afastada para o canto.
-Como você está Alice? Não conversamos mais desde o primeiro dia. Ela sorria amigavelmente.
-Bem. E você?
-Estou ótima. Estou bem animada com minhas notas. As provas de agora me fizeram um bem gigantesco.
Ela falava lentamente, mas alto. Ela continuou com um longo monólogo sobre estudos e faculdades e blábláblá.
-E você? Ela me pegou de surpresa. Não estava prestando muita atenção.
-Hmm. Eu o que?
-O que você quer estudar depois que terminar aqui?
-Quando eu tinha 12 anos minha avó me levou para aulas de pintura. Desde então eu sonho em fazer artes plásticas, sabe isso chateia meus pais, porque eles acham que não produz muito dinheiro, mas minha avó ganhou dinheiro com isso. Eu acho que posso, mas eles insistem que eu faça direito como eles e seja trancada em um escritório e super ocupada como eles.
Não sei porque falei tanto sobre isso com ela talvez fosse a carência. Ela estava sorrindo para mim.
-Pais... os meus também não me entendem, mas minha tia sempre diz "siga seus sonhos".
Ela piscou para mim. Anne me convidou para ir no quarto dela esta noite para tornarmos um chocolate quente depois que eu lhe contei sobre minha "colega de quarto". Anne falava mansamente, mas não parava de falar, o que me divertia, ela sempre tinha um ditado ou um provérbio, ela tinha um sotaque bem mais forte, pois vinha do interior da Inglaterra. Ela era bem positiva e animada.
........**.......
Eu e Anne já andávamos sempre. Ela sempre ocupava meus tempos vagos com suas histórias engraçadas, era bom voltar a ter alguém pra conversar, ela sempre perguntava por minha avó o que me deixava feliz, pois eu amava falar sobre a vovó. Estava esperando Anne, sentada com meu diário sobre as mãos em um banco no jardim quando alguém se sentou ao meu lado. Levantei os olhos e vi Bran. Ele se voltou para mim e sorriu. Ele não devia saber que era eu, até porque...
-Como vai Alice?
-Hmm. Como você sabe que sou eu?
-Eu sei quando é você, às vezes quando vou na biblioteca ou no refeitório e olho em sua direção eu sei que é você. Não me pergunte como. Ele deu um sorriso maroto.
-Isso é estranho.
Ele franziu o cenho. -Eu sei.
-Estou te atrapalhando dessa vez?
Me senti um pouco mal da forma como o tratei da última vez que o vi.
-Não. Quer dizer, estou esperando alguém.
-Hmm. Namorado?
-O que? Não! É uma menina!
- Você é ...? Ele perguntou assustado.
-O que? Não! Minha amiga seu maluco!
Ele gargalhou o que me fez sorrir. Era aquele tipo de risada que fazia os outros darem risada.
-E aí americana? O que está achando de Londres?
-Esperava que fosse menos ensolarada.
Ele riu. Pare de sorrir por favor!
-Quando chegar o frio você vai querer voltar no tempo. Mas o que está achando da cidade?
Engoli em seco. Era meio ridículo eu ainda não ter conhecido a cidade?
-Eu ainda não a conheci.
Ele franziu o cenho, mas um novo sorriso nascia em seu rosto.
-Como assim você não conhece a cidade em que mora?
Dei um suspiro.
-Não queria sair por aí sozinha em um novo país.
-Hmm. Se você quiser posso te levar.
-Mas... você... vai ser meu guia? É meio estranho.
Ele deu sua risadinha que eu já estava me acostumando.
-Primeiro: eu sou o cego que mando melhor em turismo que já existiu. Eu tive que sorrir.
-Segundo: eu conheço Londres de olhos fechados. Ele me cutucou com o cotovelo. -Literalmente. Também tive que sorrir.
-Terceiro: Eu tenho uma bengala. Ele estendeu ela para frente para enfatizar. Seu bom humor me contagiava.
-E quarto e mais importante. É por uma boa causa, Londres não pode ter uma moradora de Londres que nem se quer conhece o palácio de Buckingham. Bran gargalhou.
-Tudo bem! Me rendi. Ele era fofo, mas foi mais por seus argumentos serem convincentes.
-Tudo bem? Ele estava com um sorriso maliciosamente secreto.
-Tudo bem.
Ele fez um aceno.
-Podemos nos encontrar aqui Sábado à tarde? De manhã eu tenho aula.
-Aula no sábado?
-Infelizmente.
-Ok. Sábado à tarde.
-As 14:00 horas?
-Ok.
-Tchau Alice. Foi bom te ver, opa, foi bom te ouvir, corta essa frase.
-Tarde demais.
Ele sorriu, um sorriso bobo e cativante.
-Tchau Alice.
-Tchau Bran.
Wow

O Amor não é CegoOnde histórias criam vida. Descubra agora